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    Arquivo: Edição de 30-05-2018

    SECÇÃO: Local


    A propósito do centenário da Batalha de La Lys...

    A Universidade Sénior desta cidade, em parceria com a Junta de Freguesia de Ermesinde, levou a efeito, no passado dia 28 de Abril, no cumprimento do seu Plano Anual de Actividades, a evocação da Batalha de La Lys que se iniciou, na Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial, na madrugada de 9 de Abril de 1918, completou, no mês passado cem anos.

    Coube ao Professor de História Contemporânea da USE e Vice-presidente da Ágorarte, Manuel Augusto Dias, fazer a conferência sobre este tema.

    Estiveram, entre os presentes, muitos alunos da Universidade Sénior, membros da sua Direcção, Professores, o Presidente e Secretário da Junta de Freguesia de Ermesinde, respectivamente João Morgado e Miguel Oliveira (este último ajudou no trabalho de projecção, o que muito agradecemos), o Presidente da Assembleia de Freguesia de Ermesinde, a Vereadora da Câmara Municipal de Valongo, Dra. Maria Rocha e o Deputado Municipal, Alexandre Teixeira.

    VAMOS À CONFERÊNCIA…

    MANUEL AUGUSTO DIAS FOI O CONFERENCISTA QUE LEMBROU A ERMESINDE O CENTENÁRIO DA BATALHA DE LA LYS (Fotos Sofia Carvalho/JFE)
    MANUEL AUGUSTO DIAS FOI O CONFERENCISTA QUE LEMBROU A ERMESINDE O CENTENÁRIO DA BATALHA DE LA LYS (Fotos Sofia Carvalho/JFE)
    Como é norma do ilustre Conferencista, os trabalhos iniciaram-se com a evocação de três efemérides referentes a este dia 28 de Abril. Assim, nesse dia do ano 1889, na aldeia de Vimeiro, nasceu António de Oliveira Salazar; em 28 de Abril de 1918, Sidónio Pais foi eleito Presidente da República; e no mesmo dia, do ano 1974, Mário Soares regressou do exílio.

    Seguidamente, e ao jeito de preâmbulo do que íamos ouvir, fomos convidados a assistir a um pequeno vídeo preparado e montado por uma jovem aluna do 9.º A, da Escola Secundária de Rio Tinto, de seu nome Lara Castro.

    As imagens chocaram-nos pelo realismo com que nos revelaram a vida penosa dos soldados nas trincheiras: frio, chuva, lama, fome e… os ataques mortíferos de um inimigo cruel!

    A Lara revelou - é justo referi-lo - grande sensibilidade e gosto por um período da nossa História comum, onde foram exigidos tantos e tão pesados sacrifícios para que Portugal continuasse a afirmar-se no concerto das Nações. Os aplausos que ouviu são justos e merecidos e deixam augurar um futuro auspicioso!

    ALGUMAS QUESTÕES BEM PERTINENTES…

    Dando início à sua brilhante exposição,o nosso Conferencista pôs-nos perante algumas questões prévias, que ajudariam a compreender melhor o contexto em que se veio a desenrolar este conflito de tão má memória.

    Que poderia justificar a entrada de Portugal nesta guerra, onde, na parte continental, não tínhamos quaisquer interesses a defender?

    Debrucemo-nos na conjuntura:

    A implantação da República fora apenas há escassos quatro anos e os problemas (crónicos já) continuavam e persistiam: a economia não crescia, o dinheiro faltava para tudo, a instabilidade social e política era bem próxima da anarquia!

    O Partido Democrático, com Afonso Costa à frente, cedo manifestou ser do interesse nacional a participação de Portugal no conflito, evocando as seguintes razões:

    Era preciso manter a todo o custo a integridade das nossas colónias de África, de modo a poder-se reivindicar a sua soberania na Conferência de Paz que se adivinhava com o terminar da guerra.

    Era preciso afirmar sem tibiezas o prestígio e o peso da nossa diplomacia.

    Honrar a nossa velha aliança com a Inglaterra.

    Estancar a influência alemã junto das populações indígenas no Sul de Angola e Norte de Moçambique e evitar insurreições nessas áreas contra o domínio português.

    Evitar a todo o custo a penetração militar alemã naquelas duas colónias (Angola e Moçambique), que tinham fronteiras com as colónias alemãs do Sudoeste Alemão e da África Oriental Alemã.

    Aliás, mesmo antes do conflito deflagrar na Europa, já tropas alemãs tinham ensaiado múltiplas escaramuças naqueles dois territórios, pelo que o Governo Português decidiu, sem mais delongas, enviar Forças Expedicionárias para cada uma daquelas colónias. Assim, logo em Agosto de 1914, partem as primeiras expedições militares com destino àquelas duas colónias, com a difícil missão de as defender dos ataques alemães, exigindo de Portugal um enorme esforço de guerra.

    OUTROS EPISÓDIOS DA I GRANDE GUERRA…

    NO CORREDOR DE ENTRADA PARA O AUDITÓRIO DA JFE ESTAVA PATENTE UMA EXPOSIÇÃO ALUSIVA À PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA GUERRA
    NO CORREDOR DE ENTRADA PARA O AUDITÓRIO DA JFE ESTAVA PATENTE UMA EXPOSIÇÃO ALUSIVA À PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA GUERRA
    Entretanto, no teatro de guerra europeu, a Inglaterra não se mostrava muito receptiva à participação de Portugal no conflito, receosa das nossas fraquíssimas possibilidades financeiras para suportar as despesas da guerra.

    Porém, a guerra submarina ia fazendo os seus estragos. Os torpedos alemães, em Fevereiro de 1917, afundaram 540000 toneladas de embarcações; em Março, 578000, e em Abril 847000.

    Debilitada com tais perdas, a Inglaterra pede a Portugal para que aprisione os navios alemães fundeados nos seus portos. Assim se faz e, consequentemente, a Alemanha, a 9 de Março de 1916, declara guerra a Portugal.

    Logo em Junho seguinte, começa a formar-se o Corpo Expedicionário Português (CEP), mobilizando 30 mil homens.

    Este, sob o comando de Tamagnini de Abreu, fica às ordens das tropas britânicas e em 30 de Janeiro embarca para França a primeira brigada do CEP.

    Desembarcados em Brest, no dia 2 de Fevereiro e a 8 estão já na Flandres! Nos primeiros dias de Abril, as tropas portuguesas chegam às trincheiras, onde ficam responsáveis por um vasto sector da frente de batalha.

    São dias, semanas, meses terríveis que ali se passam! Há deserções, e como Portugal não procede ao refrescamento dos soldados, muitos vão de férias mas não retornam às suas unidades. O desânimo é patente e a moral da tropa está muito baixa. Há mesmo oficiais que vão mas não voltam, deixando os seus subordinados sem comando!

    Em 2 de Março, há um violento ataque alemão às posições portuguesas, de que resultam 70 soldados aprisionados.

    No começo de Abril, há uma nova e terrível investida das forças alemãs na frente ocidental. Com a moral cada vez mais em baixo, as tropas amotinaram-se em pleno campo de batalha. O CEP vivia dias de horror e martírio!

    APROXIMA-SE O HOLOCAUSTO!

    A madrugada de 9 de Abril de 1918 ficará nos anais da História como uma das mais sangrentas!

    A artilhara alemã desencadeia um dos mais mortíferos e destruidores ataques contra o sector português da Flandres, descrito assim por quem o viveu:

    "Eu vi, eu vi. Ao atravessar os campos as granadas caíam aos milhares! Alevantavam o chão todo! A terra fervia em cachão!", dizia um.

    "As aldeias ardiam como archotes alumiando a noite", acrescentava outro.

    "Depois, ao vir da manhã, atacaram. Atacaram em massa, às ondas, sempre em ondas, numa catadupa de homens. Só muito perto os vimos surgir do nevoeiro espesso da manhã. De nós, os que ficámos, raros intactos, resistimos até à última. Houve cargas de baioneta. Uma fúria! Tu sabes: a coisa que mais detesto são os falsos heróis. Mas ninguém, ninguém faria mais. E tu conheces como estávamos cansados. A seguir, abateram ou manietaram tudo à força de número." (Nota: Depoimentos recolhidos por Jaime Cortesão, e citados por Pedro Dias Simões, in "Mitologia nacionalista no desastre de La Lys", Revista História n.º 2).

    Foram pesadas as baixas sofridas. Entre mortos, feridos e prisioneiros 7000 homens ficaram fora de combate! Valeu a pena?

    Desses ignotos heróis que tudo deram pela Pátria, restam no túmulo do "Soldado Desconhecido" dois corpos: um vindo de África e outro da Flandres. Honra, Glória e Paz para eles!

    ATINGIRAM-SE OS OBJECTIVOS?

    Se nesta guerra a Alemanha utilizou novas tácticas militares, novas armas e introduziu até a guerra química, que provocou numerosíssimas sequelas em milhares e milhares de combatentes, não resistiu à entrada no conflito dos Estados Unidos da América, que com os seus potentíssimos tanques mostravam uma mobilidade acrescida dos seus exércitos.

    Assim a 18 de Janeiro de 1919, inicia-se, em Versalhes, a Conferência de Paz. A delegação portuguesa é inicialmente chefiada por Egas Moniz, e depois por Afonso Costa. Este hábil negociador empenhou-se para conseguir representatividade igual à dos outros beligerantes, conseguindo assim obter as indemnizações a que Portugal se julgava com direito. Ao ser assinado o Tratado de Paz com a Alemanha (28 de Junho), Portugal viu ser-lhe restituída a zona ocupada de Quionga, em Moçambique, e reconhecida a integridade das suas cobiçadas colónias. Pode, pois, dizer-se que estes objectivos foram alcançados.

    Finalmente, no desfile da vitória, em Paris, os bravos soldados portugueses marcharam, lado a lado, com os exércitos aliados. Porém, os custos em vidas humanas, e foram muitas, não foram contabilizados, pois que não há dinheiro que pague uma só vida que se perca.

    Por: Carlos Faria*

    *Presidente da Direcção da Ágorarte

    Nota: O autor não escreve de acordo com as novas normas do Acordo Ortográfico

     

     

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