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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-05-2016

    SECÇÃO: Destaque


    ENTREVISTA COM A DIRETORA TÉCNICA DA VALÊNCIA LAR DE S. LOURENÇO, ANABELA SOUSA

    À descoberta do Lar de S. Lourenço e do porquê deste ser uma referência no apoio à população idosa

    A Voz de Ermesinde prossegue nesta edição a série de entrevistas com as várias valências do Centro Social de Ermesinde. Depois de termos dado voz a uma das respostas sociais destinadas à infância - no caso a valência de Educação Pré-Escolar - o nosso jornal visitou este mês aquele que é um serviço de referência na região ao nível das respostas direcionadas para a população idosa: o Lar de S. Lourenço. No sentido de conhecermos um pouco do trabalho que faz desta uma casa de referência, estivemos à conversa com Anabela Sousa, que desde 2001 - ano em que a valência abriu as suas portas - exerce o cargo de Diretora Técnica do lar. Com ela ficamos não só a conhecer o quotidiano do Lar de S. Lourenço como também os desafios com os quais estas instituições se deparam no dia-a-dia para levar a bom porto a sua missão de proporcionar bem estar e felicidade ao idoso.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    A Voz de Ermesinde (AVE): O Lar de S. Lourenço é uma das duas respostas sociais do Centro direcionadas para a população idosa. Atrevemo-nos mesmo a dizer que serão poucos os cidadãos da comunidade local que desconhecem a existência, a missão e sobretudo o trabalho que vem sendo desenvolvido por esta valência do Centro Social de Ermesinde. Mas, há sempre aqueles mais distraídos, e nesse sentido pedia-lhe para nos fazer uma descrição daquilo o que é atualmente o Lar de S. Lourenço.

    Anabela Sousa (AS): Bem, o Lar de S. Lourenço é uma resposta social que é dada desde 2001, ano em que a valência começou a funcionar, embora só em 2006 tenha sido inaugurada oficialmente. É uma resposta que visa atender pessoas com idades superiores a 65 anos, apesar de que a Segurança Social pode aqui colocar utentes com idades inferiores, mas isso são eles, pois de acordo com o regulamento da nossa instituição nós apenas aceitamos utentes com idades superiores a 65 anos. A nossa valência tenta essencialmente responder às necessidades da população idosa, procuramos ir de encontro as suas necessidades, e no seguimento disso dar uma resposta o mais completa possível aos problemas que apresentem. A filosofia do nosso trabalho passa muito por fazer o bem, sermos solidários, proporcionar a todos os nossos utentes um tratamento justo e equitativo, estar sempre ao lado deles, saber ouvi-los, satisfazê-los em todos dos momentos, e que quando eles se deparem com alguma dificuldade nós estejamos lá para ajuda-los a superar essa mesma dificuldade. Acima de tudo procuramos a excelência naquilo que fazemos…

    AVE: … Excelência essa que faz com que o Centro Social de Ermesinde seja hoje uma referência ao nível institucional no apoio a idosos, e que tal como outras valências da instituição também o Lar seja procurado por um leque alargado da população de Ermesinde, e não só...

    AS: É certo que somos reconhecidos pelo nosso trabalho, não só em Ermesinde como também fora da cidade, e talvez por isso temos muitas pessoas de fora do concelho que nos procuram, embora, e em primeiro lugar, tenhamos de atender a população da nossa freguesia, e só depois as de fora. Mas em relação à questão da procura dos nossos serviços ela também se deve ao facto de ao nível da freguesia sermos a única instituição social que tem a resposta lar. Existem mais alguns lares, é certo, mas são de caráter lucrativo, e as pessoas confiam mais em instituições sociais, como a nossa. Outras razões que explicam a crescente procura do nosso lar prendem-se, por um lado, com o prestígio que o Centro Social de Ermesinde tem, e por outro o facto de estarmos inseridos num meio pequeno que tem cada vez mais idosos. Todos estes factos fazem com que tenhamos uma lista de inscrições grande, que neste momento ronda mais de duas centenas de pessoas.

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    AVE: Qual é a capacidade atual do Lar de S. Lourenço?

    AS: Nós temos um acordo de cooperação para 50 utentes, mas a nossa capacidade é para 56, e neste momento residem no lar 55, uma vez que muito recentemente faleceu um idoso. Destes 56 utentes, nove são aqui colocados pela Segurança Social, o que acaba por ser uma limitação, uma vez que esses nove lugares não lhes podemos mexer. No fundo, trabalhamos com 47 lugares, o que para uma população como a de Ermesinde, que como disse antes, está a ficar muito envelhecida, não é muito. Depois também temos utentes que se encontram aqui desde que o lar abriu, em 2001, o que leva a que as vagas sejam escassas perante a crescente procura do nosso serviço.

    AVE: Esse facto do envelhecimento da população, de hoje em dia as pessoas viveram muitos anos, aliada à constatação da escassez de infraestruturas capacitadas e competentes para acolher a pessoa idosa, leva-nos a formular uma outra questão, que é se a sociedade atual está ou não preparada para integrar, digamos assim, a população mais velha. Enquanto técnica experiente como olha para este facto atual?

    AS: É um facto que a nossa sociedade não está preparada para que os idosos façam parte dela. E assim o é por diversas razões. Desde logo os filhos não têm as suas vidas estruturadas para acolher, ou tomar conta, dos seus pais. Ou porque ainda trabalham, ou porque ainda têm a seu cargo os filhos, ou porque não têm condições nas suas casas para acolherem os pais, e também porque não estão preparados a nível emocional para verem os pais viverem com problemas ao nível de demência, como acontece na maioria dos casos que aqui nos chegam. Depois, há a questão das acessibilidades, ou seja, em todo o lado existem obstáculos físicos para os idosos. A juntar a isto o facto que falámos antes, isto é, não existe um número suficiente de instituições aptas para dar resposta aos idosos, e muitas vezes, as respostas que são dadas ficam aquém do esperado. Todos estes factos constituem um conjunto de situações que demonstram que a sociedade ainda não está preparada para acolher e viver com o idoso. E acho que vai demorar ainda algum tempo para se preparar. Sabe que atualmente nós, instituições, e as famílias, deparamo-nos com o problema crescente da demência nestas idades mais avançadas. Há quem não lhe chame assim. Antigamente, diziam que era velhice. Hoje, os mais entendidos nestas questões (da terceira idade) chamam demência, algo que a nós, que trabalhamos nesta área, e como já disse, coloca alguns problemas, já que esta é uma área que não está muito estudada.

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    AVE: Como é que o Lar de S. Lourenço tem contornado este problema, ou seja, que estratégias usa para lidar com este facto natural, e já agora qual a explicação, se é que existe, para este problema crescente ao nível da demência na população sénior.

    AS: Hoje em dia, e cada vez mais cedo, as pessoas deparam-se com problemas de demência. Segundo os especialistas, tal se fica a dever um pouco à vida que levamos, à medicação que tomámos, à alimentação que fazemos, à falta de comportamentos saudáveis. Aqui no lar, por exemplo, temos pessoas com 70 e tal anos que se encontram num estado muito complicado a nível mental. Há tipo um apagão nas suas cabeças. Não conhecem a família, não sabem o que fazem, etc. As famílias, por sua vez, quando nos procuram, e cada vez mais é assim, é porque os pais estão mal a nível mental. As famílias têm dificuldade em lidar com eles. Nós, lar, temos aproximadamente 40 e tal pessoas num universo de 56 que sofrem de demência, ou de velhice, como antigamente diziam. Claro que também temos aqui utentes com 90 e muitos anos que conseguem ter uma conversa, fazem atividades, etc. Mas a maioria não. Claro que temos estratégias para mantê-los calmos, felizes, que, aliás, é o nosso grande objetivo, fazer com que estejam felizes. Mas é complicado conseguir que estejam meia hora seguida a fazer a mesma atividade, temos de fazer coisas diferentes, coisas que eles gostem, quase que precisamos de fazer um trabalho individualizado, porque cada utente tem as suas necessidades. É um trabalho de persistência aquele que fazemos com estes idosos que têm este tipo de problema. E este é um dos grandes desafios que diariamente a minha equipa enfrenta: o que vamos fazer hoje para ocupar o idoso, para fazê-lo feliz? Aliás, acho que esse é o grande desafio das instituições, encontrar estratégias para ocupar os idosos com estes problemas do foro mental, e fazer ao mesmo tempo com que estejam bem. É por ai que temos de "rasgar", encontrar estratégias mais concretas, pois quando vamos a congressos onde este tema é debatido o que lá vemos é muita teoria, já que algumas das estratégias discutidas podem dar certo com um utente mas não resultar com outro.

    AVE: Mas ainda em termos de atividades, que ações o lar desenvolve junto da sua população residente?

    AS: Todos os anos nós temos um plano que contempla algumas atividades de maior impacto, como por exemplo, o S. Martinho, o S. João, o Natal, a Páscoa, a Festa da Família, ou seja, estes são os grandes momentos do lar em termos de atividades. Depois temos as atividades do dia-a-dia, como por exemplo, os trabalhos manuais, o atelier da memória, a correção da postura, ginástica, a comemoração do aniversários dos utentes, praia, passeios e visitas. Tentamos sobretudo ir a locais que eles nos peçam, locais que tenham algumas condições para que eles se sintam bem. Embora agora saímos pouco para o exterior, desde logo porque eles estão muito velhinhos, e normalmente quando saímos os espaços têm de ter sombra, casa de banho perto, não podem ter escadas, e nesse sentido temos tido algumas limitações em sair. Além de estarem velhinhos, muitos têm os tais problemas a nível mental. Não podemos ir fazer uma caminhada com eles porque não aguentam, não podemos ir para um centro comercial por causa do barulho, das escadas, da confusão, etc. Temos de ter alguma cautela. No verão fazemos praia com alguma dificuldade, pois não conseguem andar na areia, e como tal temos de ficar num local que tenha bancos, protegidos do sol, e que esteja perto da casa de banho. Além disso não temos saído muito porque grande parte dos nossos utentes preferem ficar aqui, no lar, estão habituados ao nosso espaço, sentem-se mais seguros aqui.

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    AVE: Já agora, e como apontamento de curiosidade, qual é a idade do utente mais velho que atualmente vive no lar?

    AS: É o senhor Cardoso, com 102 anos.

    AVE: Com a população a viver cada vez mais tempo, hoje em dia fala-se muito no envelhecimento ativo...

    AS: … É um termo muito bonito para se escrever, mas com a idade dos nossos idosos é complicado. De facto, fala-se muito em envelhecimento ativo, na prática de hábitos saudáveis, frequências nas universidades seniores, nos ginásios, em grupos de amigos, etc. Mas isso só é possível de ser aplicado em idosos que não se encontrem limitados por qualquer patologia, que ainda tenham capacidade de gerir a sua própria vida, que sejam autónomos, que possam estar ligados a associações de várias áreas, por exemplo, associações culturais, recreativas, ou desportivas. É muito difícil fazer atividades com idosos com problemas de demência. Nós, lar, tentamos ao máximo fazer com que a população idosa com problemas do foro mental tenha o tal envelhecimento ativo, através das tais atividades diárias que há pouco falei. Trabalhamos no sentido de que esse envelhecimento seja feito dignamente e da melhor forma possível, sobretudo para que eles se sintam bem e felizes. Essa é a nossa maior preocupação.

    AVE: A palavra lar ainda faz muita confusão a muita gente. Há por vezes a ideia generalizada, no exterior, de que os lares são depósitos de idosos, quase um local onde os idosos esperam pela morte, uma ideia que no entanto está longe de corresponder à realidade...

    AS: É claramente uma ideia errada. Talvez há uns anos atrás seria assim, mas hoje em dia não, ou pelo menos tentamos que não seja assim. Aqui, temos idosos divididos por necessidades, os mais dependentes estão num espaço diferenciado, já que a ideia de depósito é no sentido de concentrar todos no mesmo espaço, e ninguém faz nada com eles. Aqui não. No rés-do-chão, por exemplo, temos um espaço que se pretende mais vivo, para idosos com mais autonomia, é uma espécie de centro de dia, onde são feitas as atividades, ao passo que no 1º andar estão os idosos mais dependentes. Nós combatemos essa ideia do depósito de idosos. Não queremos isso, e o número de atividades e festas que fazemos anualmente no fundo servem para combater essa ideia. Tentamos trabalhar com todos, respeitando as preferências de cada um e as suas necessidades. A nossa luta é um pouco essa, não pôr tudo no mesmo saco e tratar todos por igual. As famílias passam algum tempo com os seus familiares que aqui residem e até participam nas nossas atividades.

    AVE: Por último, e a julgar pela dinâmica que o lar ostenta certamente que existem alguns projetos em carteira com vista ao futuro, no sentido de continuar a fazer desta uma instituição de referência no setor da terceira idade.

    AS: A valência lar tem como propósitos a excelência dos nossos serviços, a procura de soluções diferenciadas e adaptáveis às características reais dos nossos utentes, a oferta de mais serviços em prol da satisfação das necessidades de quem nos procura, a dinamização de ações que promovam o envelhecimento ativo de forma a manter ou potenciar as capacidades dos nossos utentes. Relativamente aos colaboradores, a necessidade constante de formação e envolvimento em toda a dinâmica da instituição. Ao falar dos colaboradores queria enaltecer toda a dedicação, empenho e esforço de toda a equipa, quer operacional quer técnica, que me acompanha.

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    O "BILHETE DE IDENTIDADE" DO LAR DE S. LOURENÇO

    O Lar de S. Lourenço é constituído por 26 quartos duplos e dois individuais. A moderna infraestrutura contempla ainda várias salas polivalentes, que servem de apoio às atividades diárias dos utentes; uma enfermaria; um gabinete médico; uma sala de jantar; um ginásio; um salão de beleza; uma capela; e vários serviços de apoio (como a secretaria, por exemplo).

    A equipa do Lar de S. Lourenço é integrada por 20 ajudantes de Ação Direta, a saber Carmen Silva, Cátia Barbosa, Célia Loureiro, Célia Ribeiro, Cláudia Ventura, Elsa Madureira, Emília Duarte, Emília Teixeira, Felismina Silva, Júlia Leal, Maria Augusta Soares, Maria Cristina Amaral, Maria da Conceição Correia, Maria Leonor Bernardo, Maria Lina Barbosa, Maria Manuela Pacheco, Maria Manuela Martins, Paula Isabel Henriques, Silvina Martins e Valentina Monteiro. A equipa é ainda composta por três Auxiliares de Serviços Gerais (Maria da Luz Machado, Maria Margarida Bessa e Maria Rosa Magalhães), por uma Animadora Sócio-Cultural (Cristina Sousa), por duas enfermeiras (Maria de Fátima Costa e Sílvia Viana) e pela Diretora Técnica (Anabela Sousa).

     

     

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