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    Arquivo: Edição de 21-10-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Cantar de galo

    Cantar de galo é, e terá sido, uma expressão depreciativa. Será por dar ares de arrogância de comportamento ou pela exuberância das penas ou corpulência?! Como pessoas que se armam nessa matriz?!

    Ao nível do conhecimento, muita gente canta de galo – esquecendo as regras das loas contadas de cor!

    Ter a ventura de assistir à avó a pôr a galinha a chocar ovos, e tinha que ser pedrês (forte e bonita), no fundo de um cesto vindimeiro, onde estavam os 12 ovos e o ninho de palha centeia, foi uma aula prática perfeita que, meio século depois, os conhecimentos adquiridos estão presentes, mas não os vou contar todos...

    Apenas informo como se conheciam os pintainhos por sexos:

    Quando as penas começavam a crescer, eram pendurados pelo bico, antes de regressarem ao cesto, os que se debatiam forte, arranhando a mão com as patas, eram frangos e os mais pacíficos eram futuras galinhas produtoras de ovos e carne. Claro, o mais ativo, futuro “comandante” do galinheiro, era-me oferecido, ou melhor dito, meu. Não podia ser sacrificado, nem para dar sabor às alheiras! Os outros, bem identificados pela Adélia, morriam pelas festas! Levar frangos assados, para a Senhora da Azinheira, no alto da serra, fazia até o concerto da Banda de Mateus mais afinado, e o Codinhas dançava melhor à sombra dos castanheiros; no dia seguinte, os sãomartinhenses comiam as merendas à volta da Ermida; aos toques do “piqué”, bailavam e conviviam.

    Estamos a voltar ao antigo. As músicas e os hábitos é que são outros... Os automóveis mudaram tudo – os cafés e restaurantes estão logo ali. Mas, as bandas musicais continuam a subir nos coretos!

    Curiosa nota:

    A febre da compra de alojamento nas zonas balneares, principalmente no Algarve, está a ser invertida pelo adquirir casas ou terrenos nas aldeias, não só por naturais da beira-mar como holandeses ou belgas. Alguns só passam as férias, mas outros vão ficando. O regresso à agricultura vai surgindo...

    Os sons campestres são sempre encantadores. Ouvir o chilrear dos pássaros, pela manhã, o balir das ovelhas, o cantar dos ralos, em serenas noites de verão nos lameiros, e as melodias das cigarras nas ribeiras?!

    Mas, há agora quem embirre com o cantar do galo de noite, e se queixe às autoridades próximas!

    No tempo que só o meu pai tinha relógio de bolso e de tampa de abrir, as horas, pelas manhas de inverno, eram dadas pelo cantar do galo – “toca a sair da cama, já o galo cantou três vezes”! A noite chegava, embrulhada em neblina, quando as galinhas começavam a recolher ao poleiro. Outras horas eram referidas às passagens das carreiras (autocarros), nas idas e vindas dos comboios do Pinhão, quando nas estadias na quinta de Provesende. Mas a melhor referência era a sombra da cruz cimeira da capela na rua, com descontos conforme o andar dos dias.

    A residir na freguesia de Paranhos (Porto), tive o privilégio, e ainda vou tendo, de ouvir o cocorocó dos galos e garnisés. Perto da quinta do Covelo, organizada em parque biológico, ainda perdura alguma rusticidade, agricultura e alguns galinheiros. As noites mal dormidas têm música de capoeira, que enleva o sono e embala o sonho, nos cocorocós!

    E as modernices?

    - Ter vidros duplos, nas janelas e varandas, é bom.

    Mas o cantar do galo ficou mais longe!...

    Por: Gil Monteiro

     

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