EFEMÉRIDES DE ERMESINDE - ABRIL
Abril em Ermesinde
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Foto MAD |
Consubstanciada a separação do Estado da Igreja, após a implantação da República, em 1910, e criada a Associação de Beneficência e Culto de Ermesinde, a Comissão Administrativa Republicana que estava à frente da freguesia solicitou, em março de 1912, ao Ministro da Justiça a cedência de uma sala na Residência Paroquial para realizar as suas reuniões, já que entendia que a Comissão devia ser o mais independente possível da Igreja. Em abril do mesmo ano, a Comissão Administrativa da Freguesia de Ermesinde foi informada pela Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Corporações Religiosas de que a antiga Residência Paroquial só podia ser cedida para instalar a Junta através de arrendamento. Por isso, em reunião de 7 de abril de 1912, a Comissão deliberou oferecer 20 mil réis por ano pelas referidas instalações. Dois meses mais tarde, seria efetivamente concedida a Residência Paroquial à Comissão Administrativa da Freguesia de Ermesinde, conforme consta no Diário do Governo, pelo montante de 20 mil réis anuais, para nela instalar uma Creche e Escola, ficando a Junta com uma sala gratuita para as suas reuniões.
Com o fim da Primeira República e a devolução à Igreja da maior parte dos bens que lhe haviam sido retirados, a Junta da Freguesia de Ermesinde teve de procurar, no centro da povoação, um edifício capaz de albergar dignamente este corpo administrativo.
O primeiro passo para a resolução deste problema foi dado em 1934. A Comissão Administrativa da Freguesia de Ermesinde, presidida então por Manuel Silva Baltazar Brites, debruçou-se sobre a questão de procurar um edifício suficientemente espaçoso onde se pudesse instalar a Junta da Freguesia e outros serviços públicos. Encontrando--se à venda um prédio urbano, no lugar do Passal, entre as passagens de nível das linhas do Douro e do Minho, a Comissão Administrativa mostrou vontade de o adquirir, para ali instalar não só a Junta de Freguesia, mas também a Regedoria, o Posto de Registo Civil, o Posto Médico e, talvez até, a Estação Telégrafo-Postal.
O referido prédio foi avaliado em 150 contos, mas o seu proprietário, tendo em consideração o fim a que se destinava, vendia-o apenas por 70 contos. A Comissão Administrativa da Freguesia de Ermesinde, na sua sessão de 23 de dezembro de 1934, deliberou ir para a frente com o processo da sua aquisição, recorrendo a um empréstimo junto da Caixa Geral de Depósitos. A compra do referido edifício só seria concretizada no ano de 1936, por 85 mil escudos, quando presidia à Comissão Administrativa da Freguesia de Ermesinde o Dr. Luís Ramos.
Por causa da aquisição deste edifício houve um litígio entre os vendedores e a Junta que se prolongou dos finais de 1941 até abril de 1942, aceitando a Junta a decisão do Tribunal relativamente ao caso, conforme se pode ver pela ata relativa à reunião do dia 14 de abril de 1942. Em dezembro do mesmo ano ficou decidido pagar o empréstimo de 105 contos, durante um período de 18 anos. Vinte e seis anos após a sua aquisição, ou seja em dezembro de 1962, ficava concluído o pagamento do edifício da Junta, com a cobrança da última prestação no valor de 9 contos (cf. ata da reunião da Junta da Freguesia, de 12 de dezembro de 1962).
A casa onde a Junta de Freguesia se instalou pertenceu a Ezequiel Augusto Ribeiro Vieira de Castro, que aí vivia ainda nos finais do século XIX, sendo uma personalidade de grande destaque no meio ermesindense, sempre pronto a colaborar nos empreendimentos que tivessem por objetivo melhorar a qualidade de vida da sua terra. É o que se pode concluir da ata da reunião da Junta de Paróquia de 4 de setembro de 1898, onde relativamente a Ezequiel Vieira de Castro, o Presidente (P.e Alberto Moreira Maia) refere que era morador em Ermesinde e que «se achava quase restabelecido d’uma infermidade que o teve ás portas da morte», diz ainda «que este estimavel cavalheiro tem sido incansavel nos trabalhos de melhoramentos que se projectam n’esta freguesia e que por isso propunha se lhe mandasse celebrar uma missa cantada em acção de graças pelas suas milhoras».
Sobre o edifício propriamente dito, que pertence atualmente à REFER – Rede Ferroviária Nacional, transcrevemos a descrição que dele faz Mafalda Ribeiro, no seu trabalho “O Vilegiamento em Ermesinde: memória de uma estância de veraneio” (1997), páginas 43 e 44: «De planta rectangular, o edifício desenvolve volumes formados pelo corpo principal e por dois sobreelevados nas fachadas nascente e poente que ampliam o espaço formado pelo vão da cobertura.
Na fachada principal, apesar da sua aparente simplicidade, nota-se uma preocupação estética no ritmo das aberturas de arco abatido dos postigos do rés-do-chão, dos vãos rectos das janelas geminadas do 1.º andar com paralelismo na porta principal.
O ferro fundido está presente como estrutura de varanda dos corpos sobreelevados e na bandeira com rosácea em fundo “geodesic” vazado da portaria.
E se a fachada principal deste elegante e sóbrio chalé mereceu um tratamento condizente, os alçados laterais não destoam antes complementam-na pela profundidade e movimento que os vãos das portas, janelas e varandas dos corpos sobreelevados lhes conferem.
Circundado por um espaço ajardinado, a panorâmica da Estação e do movimento dos passageiros é captada de um velho mirante estruturado em ferro fundido de gracioso desenho que se insere no ângulo sul formado pela bifurcação das vias férreas».
O referido edifício, onde esteve instalada a Junta de Freguesia de Ermesinde, durante cerca de 60 anos, foi vendido ao Nó Ferroviário do Porto, quando se procedeu ao alargamento e modernização das Linhas do Minho e do Douro, transferindo-se a Junta, provisoriamente, para o rés-do-chão de um edifício habitacional na Travessa Dr. Luís Ramos, onde hoje é a Loja Social de Ermesinde.
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