O novo Papa antecipa a “primavera” no Vaticano
Tão cedo não esquecerei que no dia 12 de março último, ao princípio da tarde, numa conferência na minha escola, um professor de História da Arte da Universidade Portucalense, que nos veio falar sobre um dos mais famosos quadros de Pablo Picasso – Guernica – revelou, em conversa inicial, que o próximo Papa, que só seria eleito no dia seguinte, escolheria o nome de Francisco e seria o 1º na História da Igreja a fazê-lo. No dia imediato, a “profecia” do professor revelou-se totalmente acertada!
Interessante é também o facto deste Papa estar muito associado ao número 13, que no mundo esotérico, representa, “o recomeço”. Jorge Bergoglio foi ordenado presbítero no dia 13 de dezembro de 1969; eleito Papa 13 dias depois de Bento XVI ter abdicado; escolhido para chefe da Igreja pelo conclave dos 115 cardeais no dia 13-03-2013 (somando todos estes algarismos dá 13); escolheu ser o “Papa Francisco” (somando todos os caracteres dá também 13) e a sua idade é 76 anos (somando ambos os algarismos, dá igualmente 13). O número “13” também é particularmente significativo para a Igreja Católica Portuguesa, designadamente no que respeita ao fenómeno das Aparições Marianas, em Fátima, a que os últimos Papas se têm associado, com a sua vinda a este Santuário, quase sempre a 13 de maio! Aliás, entre os pastorinhos, também há um Francisco, presente nas aparições de Nossa Senhora de Fátima, entre 13 de maio de 1917 e 13 de outubro de 1917; os restos mortais do Beato Francisco Marto foram trasladados para a Basílica de Fátima, no mesmo dia que o “novo” Papa Francisco foi eleito – 13 de março, mas do ano 1952. No dia 13 de maio de 1989, o Papa João Paulo II, que tinha por Fátima um carinho muito especial, publicou o decreto que proclamou a «heroicidade das virtudes dos videntes Francisco e Jacinta Marto» e no dia 13 de maio de 2000, João Paulo II visitou, pela última vez, Fátima, tendo beatificado os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto e autorizado a revelação do 3º Segredo.
|
O nome escolhido pelo jesuíta, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, é particularmente significativo, pois trata-se de S. Francisco de Assis, canonizado no século XIII e conhecido pelo seu voto de pobreza, renunciando definitivamente aos bens mundanos.
Efetivamente, naqueles tempos medievais de miséria e pobreza, pela mão de S. Francisco de Assis, surgiriam, novas ordens religiosas mendicantes, que procuravam através do voto de pobreza e mendicidade, servir uma corrente moralizadora que criticava o luxo e a riqueza do Alto Clero e do próprio Papa para defenderem, em contrapartida, uma deliberda prática de solidariedade e de caridade. Entre essas ordens mendicantes, destacaram-se, sem dúvida, os Franciscanos.
O novo Bispo de Roma, ainda ficará conhecido na História, por outras particularidades: ter sido o 1º Papa jesuíta e o 1º nascido na América (Buenos Aires, 1936), embora de ascendência italiana.
O novo Papa licenciou-se em Química, na Universidade de Buenos Aires, onde também concluíria o Mestrado na mesma área científica. Contudo, em 1958, com 22 anos, ingressaria na Companhia de Jesus. Em 1960 concluiu a sua licenciatura em Filosofia, tornando-se professor. Em 1969 é ordenado presbítero. De 1980 a 1985 foi Reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de S. Miguel. Já no pontificado de João Paulo II, Jorge Mario Bergoglio SJ seria, sucessivamente, nomeado Bispo Auxiliar de Buenos Aires (20-05-1992), Bispo Titular (27-06-1992), Arcebispo Coadjutor ( 3-06-1997), Arcebispo Titular (28-02-1998) e Cardeal (21-02-2001).
Como Cardeal, Jorge Bergoglio, revelou uma forma muito peculiar de ser e de estar, que agrada, francamente, a quem o conhece bem. Vivia num pequeno apartamento atrás da Catedral de Buenos Aires, onde ele próprio preparava grande parte das suas refeições; quanto às deslocações utilizava sistematicamente os transportes públicos, metro e autocarro, como a generalidade dos habitantes da capital argentina. Conhecidos são, igualmente, os seus gestos de caridade, em favor dos que mais sofrem.
Depois de ter sido eleito Papa, os seus pequenos gestos não deixam de surpreender o mais comum dos mortais: ele próprio telefona aos seus amigos ou a quem precisa de transmitir algum “recado”, como fez com o senhor do quiosque em Buenos Aires, a quem comprava os jornais; recusa tudo o que considera sinais de ostentação, como seja o manto vermelho usado por Bento XVI ou a limusina blindada do Papa; exigiu pagar pessoalmente a conta do Hotel que usou em Roma, durante o Conclave, apesar de o mesmo ser propriedade da Igreja; recusou a cruz de ouro papal, que fez substituir pela de prata.
Este Papa que parece ter trazido uma antecipada e necessária “primavera” ao Vaticano, faz expectar novas mudanças no mundo católico, apesar da sua procedência de setores considerados conservadores. Na verdade, a sociedade há muito que espera da Igreja algumas mudanças no sentido da sua modernização, designadamente ao nível do tratamento da igualdade de género (não se compreende porque é que as mulheres continuam a ser privadas do exercício do sacerdócio!?) e ao fim do celibato clerical (porque é que os sacerdotes católicos não hão de poder casar-se, quando poderiam constituir até um modelo de família a nível paroquial?). O tempo nos dirá se o Papa Francisco consegue guiar a Igreja no sentido da modernidade que alguns setores anseiam.
Por:
Manuel Augusto Dias
|