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    Arquivo: Edição de 31-03-2013

    SECÇÃO: Destaque


    MOSTRA DE TEATRO AMADOR DO CONCELHO DE VALONGO 2013

    ENTREtanto repôs no Dia Mundial de Teatro “O Marido de Conceição Saldanha”

    Mais uma vez a Mostra de Teatro Amador encerrou no Dia Mundial do Teatro, antecedida por um espetáculo da companhia profissional residente do concelho de Valongo, o ENTREtanto Teatro. Júnior Sampaio escolheu repôr em cena “O Marido de Conceição Saldanha”, peça encenada por si e com texto de João Mohana, muito atual pelas condições sociais que atualmente vivemos, como aliás o próprio presidente da Câmara, João Paulo Baltazar, sublinhou no final.

    Representação – como aliás já nos habituou – exigente, intensa e fenomenal, da parte de Júnior Sampaio!

    Foto URSULA ZANGGER
    Foto URSULA ZANGGER
    A cenografia de “O Marido de Conceição Saldanha” é muito parca – um banco de jardim e um chão atapetado de pétalas de rosas, bem de acordo com o martírio quase se diria agónico e pascal, de Alcides Ferreira, a personagem que Júnior Sampaio interpreta.

    A interpretação torna-se assim ainda mais essencial e nuclear numa peça com este texto e que condiciona grande parte da encenação.

    O público defronta-se com um banco de jardim vazio – o único elemento em palco e, só pouco a pouco se vai apercebendo da entrada lenta e compassada em cena, vindo lá de trás por entre o público (numa sala como a do Fórum Cultural de Ermesinde vindo lá de cima), da personagem única da peça, com o olhar vazio pregado a coisa nenhuma.

    As palavras fazem-se esperar e quando eclodem, são um estertor de angústia, a única coisa que resta da devastação do ser humano que ali confidencia a sua história.

    Que não se metesse onde não era chamado, não é caro leitor?, foi pois culpa exclusivamente sua se perdeu o emprego e arrastou a família para a miséria. Não tinha que andar a criticar as desigualdades, injustiça, isto e aquilo, pondo em causa a boa harmonia da empresa. As coisas são como são! Isto dizemos nós, não diz a peça.

    Agora, desesperado, resta-lhe ao menos a ternura que sente pelos filhos, a quem não consegue poupar privações e humilhações, e o amor extremoso da mulher, sempre compreensiva e terna ao seu lado. E essa réstia de luz perpassa ainda num sorriso quando recorda o casamento, as brincadeiras dos filhos, e esse foi o desafio que o ator defrontou, conseguir ao mesmo tempo que aflora a alegria jubilosa do dia do casamento, ao mesmo tempo, repetimos, e não a seguir, e não depois, fazer transparecer no rosto a amargura profunda que sobreveio àquele paraíso perdido.

    Peça pois de uma extrema dificuldade e exigência, obrigando a uma precisão, concentração, entrega até ao limite, que culmina no paroxismo final do homem estátua, sem a mínima cintilação ou piscar de olhos, como se o marido de Conceição Saldanha tivesse ficado morto em vida!...

    Interpretação absolutamente fenomenal de Júnior Sampaio que, no final, com muito e prolongado esforço, demora compreensivelmente a despir a pele de Alcides Ferreira!

    FICHA TÉCNICA

    Texto: João Mohana;

    Encenação e interpretação: Júnior Sampaio;

    Iluminação: Luís Ribeiro;

    Produção executiva: Tânia Seixas;

    Produção: ENTREtanto Teatro;

    Duração: 50m;

    Classsificação: M/12

    Por: LC

     

     

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