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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-05-2012

    SECÇÃO: História


    Portugal enveredou pela ditadura há 86 anos

    ALGUNS DOS COMANDANTES MILITARES DO 28 DE MAIO DE 1926
    ALGUNS DOS COMANDANTES MILITARES DO 28 DE MAIO DE 1926
    Depois de 16 anos de um regime que prometera levar Portugal para os caminhos do desenvolvimento e progresso europeus, onde a política se orientava por princípios mais democráticos, a experiência da Primeira República, acabou por fracassar, conduzindo o país, na década de 1920, a um caos social que a instabilidade política só agravava.

    Provavelmente, a participação na Primeira Guerra Mundial foi o início, para o Portugal republicano, do sucessivo agravamento dos seus problemas financeiros e económicos que, de resto, já vinham da Monarquia, mas que os primeiros governos republicanos haviam sanado. A Guerra representou um grande custo financeiro e ocupou parte significativa da mão de obra masculina jovem.

    No domínio agrícola, durante a Primeira República, Portugal adiou a “reforma agrária” e continuou carente de trigo para fazer o pão, recorrendo a importações que ajudava a pagar para manter o preço do pão o mais baixo possível, evitando assim a fome das classes urbanas pobres. Portugal continuava a ser um país rural, cuja população vivia, sobretudo, da exploração de vinho, cortiça, frutas e da pastorícia.

    Mas a instabilidade política da Primeira República (45 governos), que não ajudou nada à tomada de decisões estruturais capazes de fazer renascer a economia, em bases sólidas, foi talvez o maior obstáculo à manutenção do regime.

    Contudo, há que reconhecê-lo, durante a 1ª República, o nosso país conheceu algum progresso no que respeita à industrialização: as regiões de Lisboa (sobretudo a Sul do Tejo) e do Porto (com extensão ao Minho) mostravam algum dinamismo industrial. Os setores de conserva de peixe, cortiça, tabaco e indústria têxtil foram os que mais se desenvolveram (mas as indústrias de moagem, metalúrgica, vidreira, cimenteira e fosforeira, também conheceram algum destaque, parte delas controladas por capitais estrangeiros, designadamente as do tabaco e fósforos). A expansão industrial não foi maior porque se registavam algumas insuficiências, designadamente ao nível das infraestruturas dos transportes e comunicações (a rede ferroviária e viária quase estagnou após o “fontismo”. Os portos de Lisboa e Leixões não estavam devidamente apetrechados e a nossa marinha mercante também não se modernizou).

    E os problemas financeiros do País agravaram-se, indubitavelmente, com a entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial, na África colonial portuguesa e na Frente Ocidental (França). O défice orçamental, a dívida pública e a desvalorização da moeda foram motivo de diversas crises governamentais e de instabilidade política. A depreciação do escudo provocou a fuga de capitais e o aumento dos preços. As reservas de ouro desceram e o País foi obrigado a uma política de austeridade orçamental. O País atravessou grandes dificuldades que estão na base da queda do regime republicano.

    E isto, precisamente, quando a situação geral do País já apresentava alguns sinais de melhorias (de facto, a partir de 1923 notava-se alguma atenuação do défice, que permitia o controlo da dívida pública e a estabilização do escudo; notava-se, também, um maior êxito na luta contra o analfabetismo). Mas, as classes urbanas trabalhadoras estavam dececionadas com a política republicana e grande parte das classes médias temia o anarquismo e o bolchevismo. Por isso, apoiaram o novo regime: a Ditadura Militar, que resultou do golpe do 28 de maio de 1926.

    A crise económica e a instabilidade política, que se viviam no país, bem como o contexto internacional de regimes autoritários, favoreceram o êxito do golpe militar do 28 de maio de 1926 que pôs fim à Primeira República e iniciou os governos ditatoriais portugueses: Ditadura Militar (1926-1933) e Estado Novo (1933-1974).

    De um regime para outro, a personalidade que mais se destacou foi a de António de Oliveira Salazar que, com uma política fortemente repressiva e apoiado pelo partido único (União Nacional) e pela polícia política, se manteve no poder ao longo de 40 anos (1928-1968). As características deste regime eram semelhantes às do fascismo italiano: promoveu o culto do chefe (Salazar foi considerado o “Salvador da Pátria”), instituiu-se a censura na imprensa; organizaram-se grupos de enquadramento ideológico (Mocidade e Legião portuguesas), desenvolveram-se atividades recreativas através da FNAT; propagandeou-se o regime através do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional) e da grande Exposição do Mundo Português (1940).

    Se até ao final da 2.ª Guerra Mundial, a preponderância de Salazar no governo português beneficiou da complacência da generalidade dos portugueses e até em termos internacionais, após a derrota das ditaduras, personificadas em Hitler e Mussolini, Salazar passou a ser veementemente criticado fora e dentro de Portugal.

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    Figura em destaque:

    Marechal Gomes da Costa

    (14.1.1863 – 17.12.1929)

    Militar colonial, que esteve ao serviço do império português até 1915 (na Índia, Moçambique, Angola e S. Tomé). Foi o Comandante do Corpo Expedicionário Português, na 1ª Guerra Mundial. É ele que comanda a Marcha de Braga para Lisboa, com o objetivo de depor o regime republicano. Chega à capital, a cavalo, à frente das suas forças triunfantes, a 6.6.1926. Pouco mais de um mês depois (11.7.1926), foi preso e deportado para os Açores.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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