Guerreiros da paz
No nosso gabinete de trabalho temos como colega a Mariazinha, uma “Senhora” de Ermesinde. Aquele tipo de pessoa que se ergue na adversidade como uma árvore forte e robusta, apesar da sua fragilidade como mulher e como mãe, que tem que existir e que deve existir porque é isso que faz de nós seres humanos.
Há tempos atrás esta colega falava do seu apreço e admiração pelos Bombeiros Voluntários de Ermesinde e ainda, mostrava-nos um papel “mata-borrão” onde em 1985 se atreveu a escrever o seguinte:
Destroem a natureza
Presto aqui uma homenagem
Nesta breve mensagem
Aos Bombeiros Voluntários
Homens tão necessários
Que acorrem a todo o lado
A sirene tocando
Por eles chamando
Deixam o trabalho ou a cama
Correndo para o seu posto
Encurtando caminhos
De suor no rosto
Há que salvar quem corre perigo
Que importa seja inimigo
Para isso são voluntários
Correndo perigos vários
Acidentes, incêndios e muito mais
Sem se queixarem isso jamais
Dão as forças que têm
Não é porque lhes convém
Nem sequer ganham um tostão
Fazem tudo com o coração
Pondo o interesse de lado
Às vezes dorme acordado
Sempre atento ao chamamento
Da sirene da sua terra
Quer seja no norte, sul ou centro
Às vezes assistindo à morte
Sem espírito mercenário
Os Bombeiros Voluntários
Mas os senhores importantes
Dizem por vezes assim:
“Já chegaram atrasados,
já chegaram no fim”
Esquecem-se de colaborar
Só servem para criticar
Tapem os ouvidos e
Não se deem por vencidos
És soldado da paz
Sejas velho, novo ou rapaz
Continuai heróis
O povo gosta de vós
Deus está do vosso lado
A dormir ou acordado
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Foto ARQUIVO GL |
Esta conversa de gabinete fez acender um debate de ideias entre nós os quatro que reforçamos a importância do espírito altruísta desta nobre gente e não é por acaso que as crianças, quando pequeninas, normalmente querem sempre um carrinho de bombeiros ou ainda é uma das primeiras profissões eleitas por eles: ser bombeiro ou ser polícia e deve ser porque isso não os fará sentir-se importantes mas seguros, ou heróis.
Para lá dos filmes que enaltecem esta profissão, o que me levaria a conhecer a parte mais ingrata desta atividade serão as imagens que vejo através da televisão e onde este homens e mulheres estão sempre que há catástrofes, desastres naturais, incêndios, acidentes, etc. E eu, se calhar igual a muita gente, também fico com o coração apertado quando ouço o tocar da sirene ou ainda quando vejo passar o carro dos Bombeiros – algo de errado se passa.
Em cruzamentos com que a vida nos surpreende lembro-me ainda de ter encontrado o sorriso amigo do Emídio, um excelente ser humano e bombeiro de Cête – uma das pessoas com quem tive a honra de trabalhar durante cerca de 14 anos – tinha ido transportar um doente ao Hospital de S. João que ajudava a descer por ter problemas de mobilidade e pude assistir ao carinho e compreensão com que, solícitos, apoiavam esta pessoa, que era idosa.
Ainda, no caminhar pela vida tenho-me cruzado com imensa gente que precisa recorrer aos seus serviços para serem transportados a fisioterapia, consultas, etc.. Nas mais variadas situações percebi que os Bombeiros se tornavam mais do que conhecidos: amigos, que já lhes conheciam “o jeito” e se calhar as “manhas” de quem quer ser estimado e acarinhado e também mimado porque isso, nos mais idosos, passa a ser um direito mais do que merecido.
Pessoalmente também conheço o outro lado destes soldados da paz: a prevenção. A parte em que são requisitados para que ajudem a velar para que nada aconteça, atentos, cuidadosos e profissionais que atuam no imediato em caso de necessidade pontual.
Para mim, mais do que soldados, eles/elas são “guerreiros da paz” porque fazem de tudo para que ela exista e por vezes vão mesmo até ao limite que lhes custa a vida, quer seja na natureza, nos edifícios, nas estradas, etc, mas também no coração das pessoas salvando ou devolvendo corpos que poderão descansar em paz, nos braços de quem os amará sempre.
Bombeiro de um qualquer cantinho de um qualquer país, homem ou mulher, voluntário ou não também representa luz, que ajuda a acender quando tem que apoiar um parto, quando tem que ajudar a colocar mais uma semente no mundo - um ser humano, com um começo que é igual e comum a todos: as mãos e os braços de alguém, que os aparam e amparam, no seu primeiro contacto com esse mesmo mundo e que a partir desse momento também passa a ser o seu.
Por: Glória Leitão
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