O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
Palacetes de Ermesinde
Ermesinde foi, no período da I República e depois dela, um espaço idílico, proporcionado por belas paisagens rurais ribeirinhas do Leça, onde a água límpida e fresca, para além de facilitar a vida piscícola, atraía imensos populares, sobretudo vindos da grande cidade do Porto, que aqui passavam os dias de fins de semana, ou as tardes domingueiras em alegres piqueniques e convívios familiares. As pessoas de mais posses mandaram construir aqui pequenos palácios como residência de férias. Algumas casas apalaçadas ainda vêm desse tempo.
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A Vila Beatriz |
Depois de vários estudos e conversações entre a Câmara Municipal de Valongo e o Governo, foi, finalmente, adquirida pela edilidade valonguense, há mais de duas décadas atrás, a famosa “Vila Beatriz” e os terrenos envolventes. Neles foram construídos campos de ténis e as piscinas municipais de Ermesinde, e a moradia foi transformada em Centro Cultural, onde está instalado um polo da Biblioteca Municipal, e onde já se vêm organizando exposições, momentos de poesia e diversas palestras e colóquios, pois tem condições para um sistemático aproveitamento cultural, quando não envolva grande número de pessoas.
Este belo edifício, que pertenceu a um grande industrial e republicano de Ermesinde, proprietário da fábrica de tecidos de Sá, nas imediações, mostra uma curiosa traça arquitetónica e tem certa nobreza, com lindos painéis de azulejos, em tom azul, que tratam temas rurais de lindos efeitos bucólicos, a que o espaço envolvente, ajardinado, empresta um ar sublimemente idílico.
Os seus frondosos espaços verdes, com variadíssimas espécies de flora, de variegadas cores e formatos, constituem um verdadeiro embevecimento para quem, no seu quotidiano, frequente este espaço, ou passando na rua em frente, os contemple.
A Piscina Municipal de Ermesinde, instalada nos terrenos por detrás da Vila Beatriz, foi inaugurada no dia 19 de novembro de 1989. Próximo da Piscina, foram construídos dois excelentes campos de ténis, e, na mata da frente da vivenda, foram colocados alguns bancos de jardim, em arruamentos que permitem pequenos passeios entre um chão verdejante e o arvoredo que, no verão, oferece saborosas sombras. Os visitantes daquele espaço, para além dos atrativos já descritos, contam ainda com um estabelecimento de café.
PALACETE DO MESQUITA
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Palacete do Mesquita |
Este majestoso edifício, de grande valor arquitectónico, é uma das maiores preciosidades do imobiliário civil existente em Ermesinde, construído precisamente, segundo se pensa em plena Primeira República.
Como já se disse, esta terra serviu de estância balnear e de passeio domingueiro a muitos portuenses, desde o fim do século passado até pelo menos meados do século XX. Os bons transportes (comboio e eléctrico), a frescura de um Leça límpido, despoluído e de margens arborizadas, foram ingredientes para que Ermesinde, considerada então a “Sintra do Norte”, fosse procurada por muitos neo-burgueses, que aqui quiseram construir o seu chalé.
Este é um belo e bem conservado exemplar desses palacetes que foram disseminados por uma paisagem natural riquíssima, em que o verde era a cor dominante. Adquirido por uma instituição religiosa, tem sabido resistir a uma onda avassaladora, que, noutras partes da cidade, os tem sepultado sob uma “selva de betão” que alastra em todas as direções.
A fachada voltada para a Linha de Caminho de Ferro, apresenta um bonito alpendre dimensionado para os dois pisos, a que o arco, colunas, telhados e varandins dão especial beleza. No lado esquerdo desta fachada, a unir os lados que confinam com a via pública, foi construído um imponente torreão quadrangular, que alarga no cimo, em miradouro de dois pisos – um coberto, outro servindo de cobertura –, rematado por quatro jarrões, bem ao gosto de um neo-barroquismo, que agradava sobremaneira aos novos ricos. No topo da fachada do lado Sul, corre uma galeria aberta com graciosa colunata, coberta por um estreito e comprido telhado, um pouco abaixo da cobertura principal do edifício.
As outras fachadas, viradas para o interior da linda Quinta onde este sumptuoso edifício foi edificado, são menos vistosas em termos arquitectónicos - ainda assim, com um desenho cuidado, entradas e saliências de fino gosto -, mas dão para o que resta dum requintado jardim, com jogos de água, flores e diversas estátuas, onde se evidenciava a beleza do corpo feminino, estátuas essas que teriam sido retiradas logo após a sua venda às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras.
O seu antigo proprietário, de quem se diz ter pertencido à Maçonaria, granjeou grande fortuna em terras brasileiras, possibilitando a construção deste edifício que se terá iniciado, ainda na segunda década do século XX, e que é, seguramente, o mais rico e belo de Ermesinde.
Quando se pensou na implementação do ensino preparatório em Ermesinde, este edifício foi visitado por uma Comissão que estudava a possibilidade de ali instalar essa Escola. Ainda bem que não foi por diante tal projecto, e que o belo Palacete foi vendido às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras, que nele instalaram, comodamente, as irmãs mais idosas da Congregação, passando o edifício a ser conhecido como “O Lar Betânia”.
Outros palacetes de Ermesinde, de que aqui deixamos imagens (as duas últimas), são no centro de Ermesinde: a primeira, refere-se à casa que já serviu de Quartel dos Bombeiros e a segunda, é o edifício onde actualmente está instalado o Instituto de Línguas de Ermesinde, que foi a casa do insigne republicano, Vicente Moutinho de Ascensão.
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Por:
Manuel Augusto Dias
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