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    Arquivo: Edição de 15-11-2010

    SECÇÃO: Destaque


    40 ANOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ERMESINDE

    Jacinto Soares apresentou um testemunho vivo de uma história com 40 anos

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    40 anos são indiscutivelmente uma vida. Um longo caminho repleto de histórias merecedoras de serem reavivadas pela memória dos mais velhos para que as novas gerações delas tomem conhecimento e dessa forma as perpetuem pela estrada do tempo.

    Foi um pouco este o cenário erguido ao cair da noite de 4 de Novembro último, data em que o auditório da Escola Secundária de Ermesinde (ESE) acolheu aquilo a que se pode chamar de uma autêntica aula de história ministrada por Jacinto Soares, a grande “enciclopédia humana” da vida da nossa cidade. À palestra do ilustre orador acorreram... ilustres convidados, entre outros o deputado do PS na Assembleia da República (AR) e líder concelhio deste partido, José Manuel Ribeiro, que se “misturou” numa atenta plateia composta por antigos alunos da ESE – a maior parte deles tiveram como mestre o próprio Jacinto Soares –, e professores. E podiam ter sido mais não fosse aquela uma noite de futebol, já que o FC Porto se preparava para, dali a pouco, entrar em campo para mais uma cartada decisiva na Liga Europa.

    “ESE, uma história com 40 anos”, assim se intitulava a palestra do historiador ermesindense, uma personalidade conhecedora melhor do que ninguém destas quatro décadas de vida daquele estabelecimento escolar, ou não tivesse ele assistido bem de perto a todo o processo de edificação e desenvolvimento da instituição. Um nascimento muito difícil, há que dizer, aliás, e segundo o historiador, os “partos” complicados são um apanágio na história de Ermesinde, já que qualquer coisa que seja idealizada demora imenso tempo a ver a luz do dia, e na maior parte das vezes não é o Estado a avançar com o processo mas sim grupos de determinados cidadãos locais, como foi o exemplo da ESE. Para se compreender um pouco melhor o processo do nascimento da escola, Jacinto Soares começaria por fazer uma contextualização da década de 60, uma década em que Ermesinde conheceu um “boom urbanístico”. Expansão populacional que se repercutia na necessidade da criação de novos serviços para a terra, como por exemplo, uma escola técnica.

    Em meados de 1961 começavam a surgir as primeiras vozes reinvindicativas da edificação da referida escola. Uma lacuna que obrigava grande parte dos estudantes ermesindenses a frequentar os estabelecimentos de ensino do Porto, sendo que os que teimavam em prosseguir os seus estudos na terra apenas o podiam fazer no Colégio de Ermesinde. Mas não era para todos, ou para o bolso de todos, melhor dizendo.

    Havia igualmente na época um grande sentimento de emancipação por parte da população local, a qual desejava ter a sua própria escola técnica, que ganhava assim contornos mais volumosos de necessidade com o avançar do tempo. O período entre 1962 e 1964 é de grande pressão pública com vista à construção da escola, tendo nesta época surgido várias notícias de cariz reivindicativo em alguns jornais, muito em especial n' “A Voz de Ermesinde”. Era uma forma de fazer pressão, recorda Jacinto Soares, pressão essa que vinha de todos os quadrantes, desde anónimos cidadãos, passando por estudantes, forças políticas locais, até aos dedicados homens-providência da terra. Todos estavam fortemente envolvidos nesta luta. Abra-se aqui um parêntesis para desfiar a definição de “homens-providência”, não sendo estes mais do que ilustres cidadãos da terra, com influência e dinheiro, claro está, que substituíam o Estado quando necessário, como já antes frisámos. Ou seja, quando o Estado não cumpria com as suas obrigações os homens-providência faziam-no de pronto. E seria um desses benfeitores locais que avançaria com a doação do espaço para a construção da escola.

    1970: O SONHO

    É REALIDADE

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    O dia 2 de Novembro de 1970 entra para a história de Ermesinde, o dia em que finalmente a tão desejada e urgente Escola Técnica local vê a luz do dia. Um sonho que durou aproximadamente uma década a transformar-se em realidade. O estabelecimento seria edificado num barracão existente na Formiga, onde hoje se encontra a zona industrial.

    Os alunos começaram a surgir, a conta-gotas, é certo, recordando Jacinto Soares neste aspecto ter sido necessário na época fazer uma angariação de estudantes para que a nova escola começasse a funcionar. Uma necessidade inicial que não se viria a repetir com o passar dos anos, visto o número de alunos aumentar a um ritmo acelerado de ano lectivo para ano lectivo.

    Começava a desenhar-se desta forma outro problema, a falta de espaço. Um dos problemas, para sermos mais exactos, já que outros de preocupação semelhante se levantavam. Tais como as difíceis acessibilidades à escola, uma vez que a mesma se encontrava instalada no meio de uma bouça mal iluminada, sendo que neste último aspecto residia outro dos tormentos. Os maus cheiros podemos dizer que seriam talvez a maior das dores de cabeça de alunos, professores e demais funcionários da Escola Técnica de Ermesinde (ETE). Aqueles odores nauseabundos eram provenientes de uma lixeira a céu aberto junto da então Fertor.

    Jacinto Soares, já na altura professor da dita escola, recorda que era impossível dar aulas com aqueles cheiros, isto para não falar dos fumos que se formavam a partir da lixeira, os quais dificultavam a visão a quem se deslocava para a ETE.

    Visão turbada, caminhos complicados e de fraca luminosidade, espaço diminuto, e insuportáveis cheiros deram origem a uma nova reivindicação da comunidade local: era urgente construir uma nova escola em Ermesinde.

    Em 76 aperece o primeiro movimento a favor da construção da nova escola, e um ano mais tarde surge a primeira Associação de Pais criada para atingir esse objectivo.

    Prosseguindo o nosso relato numa toada cronológica, em 1979 ocorre em Valongo uma grande manifestação levada a cabo por alunos, pais, e professores, no sentido de pressionar o poder local para a necessidade de edificar um novo estabelecimento.

    Os tempos seguintes foram de inúmeras e acesas discussões em torno do tema, levadas à cena em reuniões de assembleias municipais e de freguesia.

    O Poder Central também não foi poupado no que toca a pressões, já que à AR chegariam requerimentos oriundos da nossa freguesia. No meio desta batalha é escolhido, após muita discussão, um terreno na zona das Arregadas para a construção da escola. O projecto parece finalmente avançar para, de seguida, recuar, e assim sucessivamente, durante alguns anos. Até que no ano lectivo de 1987/88 a ESE é por fim uma realidade, ficando assim vencida mais uma batalha na história da cidade.

    A aula de História do professor Jacinto chegava assim ao fim seguida dos aplaudos de uma plateia rendida.

    Por: Miguel Barros

     

     

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