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    Arquivo: Edição de 15-04-2010

    SECÇÃO: Crónicas


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    Agricultura de subsistência

    O texto que vou escrever é consequência da reflexão sobre a actual paisagem duriense. Dá para interrogar. Será melhor ou pior? (Foi e será sempre bonita).

    Em termos de produção agrícola agora é melhor. Mas, os mortórios e socalcos, de paredes e escadas de xisto, onde foram parar?! São terrenos, a perder de vista, de cor barrenta como as águas do rio Douro, implantados de vinhedos, desde as linhas de água até ao cocuruto dos montes. Ver os novos patamares, alinhados e serpenteados pelas encostas, ficamos de peito quente de modernidade! Não veremos jamais os cavadores de enxada, nas cavas ou redras, a beberem jeropiga redonda (tirada das borras do vinho tratado levado para Gaia), e a cuspirem nas mãos para aderirem ao cabo do enxadão (enxada de dois bicos compridos). As pás e as picaretas continuam inactivas nos Cardenhos sobreviventes. Os ferros de valeira ou de surribar ainda vão sendo utilizados na plantação dos bacelos americanos e no remover dos pedregulhos, não enterrados pelo caterpilar. Agora, com a plantação de mini-videiras, seleccionadas por castas, é um tractor de broca que faz o serviço!

    É triste! Na época pascal os montes floriam e ouvia-se cantar os cucos, e hoje só vemos vinhedos e alguns olivais mal tratados, nos antigos campos de cereais e matas. Pequenas manchas de castanheiros de madeira, do tempo dos cesteiros e cestos vindimeiros, ainda esperam os futuros artesãos de verga. Até os amendoais foram destruídos por falta de rentabilidade agrícola – a venda da amêndoa não pagava o trabalho da apanha!

    No alto do Poio (Cabreira), o João, a dar conhecimento de mais um arroteamento na propriedade, disse:

    – Daqui a vista da Foz do Tua ainda parece mais linda!

    O surpreendente da visão não é a confluência das águas do Tua e Douro, nem a ponte da “Arrábida” em miniatura, projectada por Edgar Cardoso, nem o túnel do comboio, é a mancha verde persistente nas encostas do rio ameaçado de morte! Se não for possível salvar as azinheiras, zimbros, estevas e medronheiros da paisagem, haja clemência para as famosas laranjeiras de S. Mamede de Ribatua!

    O João informou: com a compra do terreno para a nova plantação (antigo amendoal moderno e abandonado), são já quinze as anexações ao prédio da Cabreira! – Grande quinta vai ficar!

    Só as propriedades grandes têm condições de subsistir. Possuem as máquinas e trabalhadores adequados, e são próprias para a futura liberalização do benefício do vinho do Porto. As novas gerações não têm paciência de cuidar da produção de meia dúzia de pipas de vinho. Preferem a vida citadina. Só os reformados e ex-emigrantes (de regresso às origens) podem salvar a pequena agricultura.

    Nos séculos passados, as enormes herdades alentejanas resultaram da compra dos terrenos pelos lavradores subsidiados para grandes produções de trigo, ficando os pequenos como servos da gleba! Com o vinho do Porto poderá vir acontecer algo semelhante?

    A agricultura de subsistência volta a ser preocupante. Será que temos de voltar à recolecção de alimentos?!

    Por: Gil Monteiro

     

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