Conhecer-desenvolver
É comum ouvir-se: a riqueza de uma Nação está nas capacidades intelectuais do seu povo.
Uma sociedade de elevado nível escolar é mais competitiva, mais produtiva, em suma, mais próspera. Mesmo no desporto, onde a força física é importante, se não houver “ginástica de espírito” os resultados poderão ser bons, mas sempre à bruta.
Se Eusébio chegou tão alto no futebol nacional e mundial, deve ter elevado coeficiente de inteligência. A aptidão corporal e física nem sempre pode enganar os adversários, principalmente os guardiões das balizas! Se, ao tempo o “Pantera Negra” tivesse frequentado o ensino secundário, as homenagens recebidas da FIFA seriam ainda maiores, e estaria a gerir uma alta instância do futebol! Seria o nosso Platini.
Mais: O jogador Figo e o treinador Pedroto estiveram para lá do seu tempo, graças aos anos de escolaridade! Um jogador com ensino secundário, e um treinador, com o curso liceal, foi obra! Longe estou de pensar que os treinadores licenciados em Educação Física é que são bons, não. É preciso ter carisma. Mas que os cursos a alto nível, ajudar, ajudam.
Nos anos quarenta e cinquenta do século passado era urgente abaixar o analfabetismo e dar, pelo menos, a Primária aos portugueses. Mas, foram mandadas fechar as escolas do Magistério, pois para quê professores?, se era preciso apenas saber ler, escrever e contar! A mim calhou-me uma regente escolar. Ensinou o primeiro e segundo anos, enquanto resistiu ao apelo da emigração para o Brasil.
Na última ida a Roalde (S. Martinho de Anta) fui visitar a antiga escola da Regente D. Albertina, enquanto o novo edifício estava fechado por falta de alunos.
Quando percorria a rua principal, e única do lugar, o resto são caminhos e quelhas, tive que abrandar a marcha do automóvel por haver lombas próprias!, na pavimentação granítica da rua. Modernices, informou o Fernando, enquanto recordávamos os pontapés na bola de trapos, na rua pavimentada a giestas e tojos, cobrindo as lamas de Inverno. Em frente da casa onde nasci, agora reconstruída (era tão grande e parece tão pequena), encontra-se em ruína a casa do Alferes. É exemplo típico da construção dos anos vinte: não tem escadas exteriores, mas uma varanda ao longo da rua, onde o prepianho acaba e as madeiras começam (as divisões mais quentes). Algumas paredes são revestidas de ardósia de Valongo. Tem uma grande porta para a adega e outra de entrada, onde se puxava o cordel para tocar a campainha. A grande inovação era o passeio pavimentado e elevado da rua, ao longo do prédio. Só em Vila Real havia semelhante. Como fui o introdutor do futebol da canalha, em Roalde, o Alferes foi o introdutor do passeio (ainda existente e único)!
Nos dias mais cálidos, o Alferes passeava, no passeio privativo, enrolando o bigode à Carmona. Claro que, na minha marquise, também marchava e imitando o seu cofiar do bigode! Quando fez queixa humorada à minha mãe, acabou-se a brincadeira.
Graças ao Alferes, aprendi a regar o lameiro de Richave, deitando a água de lima sobre a erva. No Carril ensinou-me (ainda não andava na escola) a tratar das roseiras e a gostar de flores. Conseguiu que um padeiro de Favaios viesse a Roalde vender o afamado pão. Passei a comer migas de leite com trigo e não com broa! Na sua propriedade de Tovim plantou videiras de moscatel de Favaios. (Comi aí, pela primeira vez, as deliciosas uvas). Conseguiu compor a poça da Barrosa…
O Alferes Coelho inovou Roalde.
Por:
Gil Monteiro
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