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    Arquivo: Edição de 15-02-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Com a República “S. Lourenço de Asmes” dá lugar a “Ermesinde”

    Efectivamente, o nome desta freguesia era, desde a sua criação, S. Lourenço de Asmes. Os republicanos locais, fazendo eco do sentir da população e do facto da estação ferroviária já ter o nome de Ermesinde, propuseram ao governo provisório republicano a alteração toponímica, no que ele assentiu pouco depois.

    O Leça movia moinhos e tornava férteis as terras que lhe serviam de margens
    O Leça movia moinhos e tornava férteis as terras que lhe serviam de margens
    Convém informar os nossos leitores que, antes da implantação da República, já esta freguesia tinha um dinâmico núcleo republicano, onde militavam nomes tão importantes e influentes como Amadeu Ferreira de Sousa Vilar ou o Dr. Maia Aguiar.

    Esses e outros republicanos convictos e históricos fundaram esse núcleo de propaganda republicana, em 1908, passando a designar-se, oficialmente, depois do 5 de Outubro de 1910, Centro Republicano de Ermesinde, cuja sede se inaugurou, em edifício no-vo, nos começos de 1912, no lugar da Estação.

    No aspecto político, este núcleo soube difundir os princípios doutrinários do regime republicano, junto da população local. Assim sucedeu, por exemplo, com a organização de um Comício Republicano aquando da campanha eleitoral para as eleições de 28 de Agosto de 1910, a escasso mês e meio da Revolução do 5 de Outubro. Entre os vários oradores que estiveram presentes, destacaram-se o Dr. Maia Aguiar, Mem Verdial e Alexandre de Barros.

    Ainda no período da Monarquia, e no campo do apoio social, os republicanos deste núcleo, numa iniciativa corajosa, fundaram uma escola gratuita para os filhos dos republicanos mais pobres, conseguindo, quase de graça, todo o material escolar.

    No ano da implantação da República, Ermesinde estava já muito maior mas ainda tinha características predominantemente rurais.

    A agricultura em 1910 continuava a ser a principal actividade económica das gentes que aqui viviam. Por isso, as cheias, tão frequentes nesse tempo, eram causa de grandes prejuízos. Em 1909 ocorreu uma das maiores de todas. Mas em Dezembro de 1910, o Leça voltou a transbordar e foi de novo motivo de uma “correspondência” no Diário de Notícias:

    «Ermezinde, 15 – Desolador! A mão pesada do destino mais uma vez fez sentir tambem aqui, toda a violencia da sua força despótica.

    Campos onde ha dias as plantações cresciam, e os arados faziam sentir a chiadeira alegre das suas pequenas rodas, onde os mansos bois pastavam indolentemente, sob a vigilancia dos seus pequenos guardadores, teem agora a cobri-los o lençol revolto das águas do Leça, que os sepultou a alguns metros de profundidade!

    Desde Alfena a Ardegães, o vale do Leça, n’alguns pontos com mais de 300 metros de largura está submergido. Junto a esta povoação a largura dos campos inundados é de mais de 600 metros, chegando quasi á estrada do Porto.

    O Leça é um colosso cuja corrente impetuosa tem arrancado pedras enormes, abatendo pontes, aluindo casas, devastando campos. E o tempo ameaça ainda continuar a sua obra de destruição, alimentando com ininterruptos aguaceiros as águas amarelas do rio (…)».

    A freguesia conheceu no período da Primeira República um enorme crescimento, fazendo com que a sua estação de caminho de ferro fosse uma das mais movimentadas do Norte.

    A DELIBERAÇÃO

    SOBRE A MUDANÇA

    DO NOME

    Porque S. Lourenço de “Asmes” era um nome dado a equívocos e a maledicências, a Comissão Administrativa da Freguesia solicitou ao novo Governo Republicano a substituição do nome da Freguesia - “Asmes” para o nome do maior lugar da freguesia - Ermesinde.

    Esta deliberação foi tomada na sessão da Junta de Freguesia do dia 6 de Novembro de 1910. Era Presidente da Comissão Administrativa Republicana da Junta de Paróquia, desde 27 de Outubro de 1910, Amadeu Ferreira de Sousa Vilar.

    A respectiva acta diz, a este propósito, o seguinte: «O Presidente lembrou a conveniência de se representar ao Ministério do Interior afim de que esta freguesia passe a denominar-se freguesia de Ermesinde, o que foi aprovado por unanimidade».

    Três meses mais tarde (dia 6 de Fevereiro de 1911), o Ministro do Interior do primeiro Governo Republicano, António José de Almeida, deferia o pedido da Comissão Administrativa, e, no dia seguinte, o Diário do Governo publicava a referida resolução.

    S. LOURENÇO DE ASMES PASSA A DENOMINAR-SE ERMESINDE

    Diário do Governo, n.º 30, de 7 de Fevereiro de 1911

    «Attendendo ao que me representou a Junta de Parochia da freguesia de S. Lourenço de Asmes; e

    Conformando-

    -me com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo:

    Hei por bem determinar, nos termos do Codigo Administrativo, que a referida freguesia de S. Lourenço de Asmes, do concelho de Vallongo, districto do Porto, passe a denominar-se freguesia de Ermezinde.

    Paços do Governo da Republica, em 6 de fevereiro de 1911. = O Ministro do Interior, Antonio José de Almeida».

    De facto, as relações entre o Poder Central e a Comissão Administrativa da freguesia eram as melhores, havendo frequente envio de telegramas de apoio às decisões do Governo Republicano.

    Também no dia 19 de Junho de 1911, dia em que reunia pela primeira vez a Assembleia Nacional Constituinte republicana, que reconhecia oficialmente o novo regime, reuniu extraordinariamente a Junta de Freguesia de Ermesinde que enviou ao Governo o seguinte telegrama, após a sua aprovação por aclamação:

    «Presidente Governo Provisorio Republica. Povo Ermezinde Junta de parochia reunida sessão extraordinaria resolve abertura constituintes dá todo seu apoio obra governo, felicitando e congratulando-se por mais este grande passo consolidação Republica».

    A República tinha aqui os seus apaniguados e deixou obra relevante, como veremos nas próximas edições.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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