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    Arquivo: Edição de 31-01-2009

    SECÇÃO: Arte Nona


    Meu amor é marinheiro e mora no alto mar... *

    Publicado em 2008 pela prestigiada casa editora Casterman, “R97 – Les Hommes à Terre”, com desenhos de Christian Cailleaux, é uma adaptação livre da obra de Bernard Giraudeaud “Marin à l’ancre”, editada em 2001 na Éditions Métailié.

    Trata-se de um romance que conta a iniciação marítima de um rapaz, Théo, que pela primeira vez, como marinheiro, experimenta a vida no alto mar e nesses intervalos de feitiço que são os vários portos e as cidades por onde vai passando.

    A história é contada num registo intimista, de diário, com cambiantes poéticos, onde a nostalgia e a paixão fazem o seu aparecimento, a par com as pequenas peripécias e aventuras deste ou daquele marujo mais ou menos perdido. Para Théo é um mundo de descobertas, que se abre enorme e que depois se esvai como se tudo não tivesse passado, apenas, de um sonho.

    Ah!... e juntemos esta pequena observação: todo este clima é espelhado com muita delicadeza e sensibilidade pelo traço de Christian Cailleaux.

    foto
    Théo é muito novo, tem 17 anos. No porto de Brest, onde está prestes a embarcar no “Jeanne d’Arc” para a sua iniciação como marinheiro, sonha com aventuras e com um mundo maravilhoso que, em parte, lhe foi dado a conhecer nas páhinas de Melville, Stevenson, Conrad.

    Os outros marinheiros gozam-no por ele se ter afastado das saias da mamã. Théo escreve-lhe para La Rochelle, onde a deixou, dos vários locais por onde vai passando, a Martinica, Montevideu, Valparaiso, Balboa, Honolulu, Kobé, Colombo, Diego Suarez, Djibuti, até fechar o círculo à volta do mundo, outra vez em Brest.

    Pelo caminho ficaram as marcas que deixam agora memórias profundas, como a história do marinheiro Delambre, a quem uma mulher apaixonada vem oferecer flores no momento da partida de um porto algures na Ásia e que se separam para não mais se ver, ou a doce Téaki, que encontrou no Taihiti, e por quem se enamorou profundamente, ou a jovem prostituta que se lhe oferecia completamente ausente, afastando as coxas e fumando um cigarro, ou ainda a jovem Ama, gentil e amorosa, com quem dormiu em Colombo mas que não fez esquecer Téaki, ou Marie-Desirée que o levou para a cama na esperança de receber depois algum dinheiro que ele então não tinha, ou a história do marinheiro Jean, apanhado em flagrante com a fogosa mulher de Jacques e a quem este apunhala para salvar a honra.

    Tantas memórias!

    O livro, na versão BD termina assim: «Em Brest era a Primavera, as raparigas usavam vestidos leves, os cabelos como as algas. Téaki, Ama, Fathouma, tinham rostos de bruma e apagavam-se na lonjura.

    Théo caminhou a passo largo e saboreou o sol».

    Mas falemos agora de Cailleaux: a sua técnica de ilustração, neste livro, repousa inteiramente na linha, no negro traço fino, colorindo depois os espaços a aguarela.

    Cailleaux retrata a noite obscura, o interior de uma navio, os locais exóticos por onde o “Jeanne d’Arc” e Théo passam, e também a sensualidade de belas mulheres a acender--lhe o desejo, iniciando-o.

    Desenha o mar, as grandes panorâmicas dos espaços da costa, baías, portos, as ruas que vão dar ao cais. O desenho é fácil, sem a tentação do realismo, mas poderosamente adequado ao registo poético de todo o enredo.

    E encanta-nos a sobriedade da obra, de mais de cem páginas, onde dominam os tons luminosos de amarelo ou os tons espessos e sombrios da intimidade e da noite.

    * Versos de um poema de Manuel Alegre

    Por: LC

     

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