Crime entre portas
Não é a primeira vez que este jornal aborda a presente problemática, mas não se pode ficar indiferente, é preciso, é urgente, desenvolver em todo o lado campanhas que denunciem, que chamem a atenção para este flagelo. Só em Portugal neste ano de 2008 quarenta e três mulheres foram assassinadas, sessenta e quatro foram vítimas de tentativas de homicídio, milhares terão sofrido agressões físicas e psicológicas.
Ainda não encontrei nenhuma resposta capaz que ajude a entender esta situação, a única certeza é que se está a falhar na formação, nos valores que divulgamos, na falta de respeito pelo próximo, na defesa dos direitos humanos, na banalização e aceitação da violência.
Esta crise social em que vivemos é resultante das amplas desigualdades: económicas, sociais, culturais, em que os hábitos, as crenças, os costumes, os valores estão ainda muito ligados à desigualdade sexual, mas nada mesmo nada, justificam esta brutalidade.
A violência entre quatro paredes, no meio familiar, é muito pouco transparente e quanto mais elevado é o nível social das pessoas menos se sabe, é regra, faz parte da educação preservar a família, esconder os erros. Mas não podemos pactuar com este estado de coisa, é nossa obrigação denunciar para evitar o pior.
«A violência conjugal está caracterizada, os comportamentos tipificados, e é preciso dar a conhecer os seus efeitos nefastos» (1)
Penso que sim, mas como explicar que sejam cada vez mais jovens em número, as vítimas e os agressores?
Em Portugal os jovens têm cada vez mais informação, mas parece que não chega para alterar comportamentos.
O plano Nacional Contra a Violência Domestica a decorrer em 2007/2010 apresenta cinco áreas estratégicas de intervenção:
I Informar, Sensibilizar, Educar
II Proteger as Vítimas, Prevenir a Revitimação
III Capacitar e Reinserir as Vítimas de Violência Doméstica
IV Qualificar os Profissionais
V Aprofundar o Conhecimento sobre o Fenómeno da Violência Doméstica
A primeira área de Intervenção consta de 25 medidas que contemplam essencialmente campanhas e acções de sensibilização dirigidas à população em geral e às escolas.
A segunda área apresenta 34 medidas estruturadas de acordo com várias respostas na vertente jurídico-penais e sociais, dirigidas à protecção integral da vítima.
A terceira área consta de 8 medidas direccionadas para a promoção de competências sociais e pessoais das vítimas.
A quarta área é constituída por 13 medidas cujo objectivo essencial é a qualificação e especialização profissional nas vertentes policial, jurídica, de saúde, educação e formação.
Na quinta área contemplam-se um conjunto de medidas no âmbito do conhecimento e monitorização do fenómeno.
Este plano já está em curso e ainda é cedo para ser avaliado, mas este ano ainda não se sentiram melhorias, antes pelo contrário, o número de vítimas aumentou em relação ao ano anterior.
Uma coisa é certa, a violência doméstica é um crime, e como tal temos obrigação de proteger as vítimas e punir os agressores, a lei comporta nestas situações um importante papel simbólico e pedagógico.
(1) Conceição Lavadinho, psicóloga. Coordenou o Plano Nacional Contra a Violência Doméstica.
Por:
Fernanda Lage
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