Revelações... e tramas no Vaticano
Da autoria de Paul Jenkins – argumento – e Humberto Ramos – desenho –, “Revelações" (“Revelations”) foi editado originalmente nos Estados Unidos pela Dark Horse em 2006, e surge agora, em Abril de 2008, em Portugal, pela mão da BdMania.
A obra é um thriller pleno de acção, mistério e suspense, tendo como cenário os bastidores do Vaticano, e como linha de acção principal do enredo o inquérito policial levado a cabo por um jovem detective londrino, Charlie Northern. Este, apesar de ateu, é chamado pelo seu velho amigo de infância, o agora cardeal Marcel Leclair para resolver o mistério da morte – e aparente assassínio – de um outro cardeal amigo deste, o velho William Richleau, em plena Santa Sé.
A ponta da meada do inquérito parece levar à descoberta de um complot tenebroso. Só que...
A edição portuguesa muito cuidada de “Revelations” pela BDMania compila os números 1 a 6 dos comics desta mini-série da Dark Horse, contém, logo de entrada, uma Introdução de Bob Harris, encimada com uma citação do arcebispo Paul Marcinkus, que foi presidente do Banco do Vaticano e implicado num escândalo financeiro que o pôs sob alçada da justiça italiana: «Não se pode governar a Igreja com Avé Marias».
Após o final da obra, esta edição da BDMania publica, em Sketchboard, alguns esboços do trabalho de caracterização de personagens de Humberto Ramos, a lápis de cor e tinta da china.
E já que se fala em cor, aproveitamos para salientar o magnífico trabalho de coloração de “Revelações”, que foi entregue nas inspiradas mãos de Leonardo Olea, a que se juntou ainda Edgar Delgado. Já agora, na edição portuguesa, a tradução é de Vasco Lopes e Pedro Silva, a legendagem de Nuno Almeida, e a edição de Pedro Silva, com o apoio de Paulo Costa.
Quanto ao enredo de “Revelações”, Paul Jenkins traça aqui um soberbo retrato, aliando a sátira, o realismo e a fantasia com grande mestria e à-vontade.
O enredo desenvolve-se num processo que aponta numa direcção – suspeita--se de logros financeiros – que, por fim, num volte-face inesperado, revela uma outra dimensão, com o surgimento do elemento místico, que surpreende o leitor e isso, só por si, é também interessante.
Além do mais, o romance aromatiza as páginas da obra, emprestando-lhe também uma dimensão mais íntima e pessoal, que aliás aparece desde o início, nas cogitações de Charlie Northern.
Quanto ao grafismo, Humberto Ramos alia um desenho preciso e muito realista das arquitecturas presentes no cenário –obrigatório, quase diríamos, numa obra que situa quase toda a acção no Vaticano, ao design de personagens mais criativo e insinuante.
Ramos insinua muito bem a determinação de Northern, a boa fé e sinceridade de Leclair, a autenticidade (não se pode falar propriamente em beleza) de Lucille Pellicia – a namorada de Northern encontrada em Roma e como ele também envolvida na descoberta do lado sujo do Vaticano, e que acaba morta. Talvez por isso Ramos não tenha tratado de a pôr bela e imprescindível, a incompetência dos detectives italianos (e a denúncia de alguns processos policiais, como aquele de “perder” as provas de alibi de um muito presumível suspeito), a dureza e arrogância do Cardeal Toscianni (uma bela casca de banana posta a jeito como armadilha montada aos leitores por Paul Jenkins e Humberto Ramos!).
QUEM SÃO
OS AUTORES
DE “REVELATIONS”
Quanto aos autores, o nome “português” do desenhador é enganador. Humberto Ramos, nascido em 1970, é de origem mexicana, e tem créditos firmados no mundo da edição de comic books norte-americanos, tendo trabalhado no desenho de séries como Crimson, Impulse, Peter Parker Spider-Man, The Spectacular Spider-Man, Civil War: Wolverine, tendo iniciado no México, por volta de 1990, a sua carrira de quadrinista, tendo os seus primeiros contratos da indústria editorial norte-americana surgido em 1993.
Paul Jenkins, curiosamente, também não é norte-americano, tendo nascido na Grã--Bretanha em 1965. Foi para os Estados Unidos em 1988, onde começou a trabalhar como editor. Além de “Revelations”, é autor de "Sandy”, com Avido Khahaifa, “Hellblazer”, com Sean Phillips, Charlie Adlard e Warren Pleece, de vários “Sentry”, com Jae Lee, Phil Winslade, Bill Sienkiewicz, Rick Leonardi e Terry Austin, John Romita Jr. e Mark Morales, de “The Darkness”, “Resurrection”, “Demon Inside”, “Levels” e “Penance: Relentless”, a sua obra mais recente (Novembro 2007-Março 2008), com Paul Gulacy e Rain Beredo.
Por:
LC
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