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    Arquivo: Edição de 15-11-2008

    SECÇÃO: Destaque


    SEMINÁRIO “IMPRENSA REGIONAL - QUE FUTURO?”

    1º Painel: O Ensino e a Imprensa Regional

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    O ensino e a imprensa regional foram os temas discutidos no primeiro painel, presidido por Manuel Pinto, presidente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e professor na mesma instituição. Manuel Pinto alertou para o facto de a imprensa regional não poder alhear-se «das múltiplas plataformas através das quais as pessoas adquirem visibilidade», dando como exemplo o youtube. Por outro lado, salientou a incógnita não só sobre o futuro da imprensa regional, mas também da imprensa em geral, nomeadamente da utilização do papel que «pode vir a ter um futuro que não sabemos qual é», referiu.

    Seguiu-se a comunicação intitulada “A comunidade escolar e a imprensa regional” apresentada por Nuno Afonso, colaborador de “A Voz de Ermesinde” e também professor. «Assinar ou adquirir um exemplar do jornal da terra é suposto representar um acto de bairrismo, de pertença à comunidade», afirmou. No entanto «a imprensa regional nunca teve o favor das entidades oficiais e raramente pôde contar com o amor incondicional do público a que pretendia sevir». O professor justificou a sua posição, referindo que isto se deve por vezes ao facto de haver uma certa suspeição de natureza política que poderá ligar o jornal a determinado partido político. Nuno Afonso prosseguiu afirmando que, apesar disso «muitos emigrantes ainda anseiam a chegada do jornal da terra para matarem saudades e conhecerem as novidades que ali vão ocorrendo».

    Com o advento da internet surgiram as versões on-line que de certa forma adquiriram um lugar privilegiado na consulta das notícias, no entanto Nuno Afonso afirmou que «o jornal em papel continua a ter um valor muito especial, pelo tacto ou pela possibilidade de ser coleccionado como se foram uma relíquia.» Esta situação contribuiu em grande parte para a diminuição na procura do jornal impresso e tendo em conta que o «aumento dos custos de produção constituem um sério problema» é natural que alguns tenham vindo a fechar as suas portas. «A maioria vive asfixiada sempre à espera de melhores dias e um tratamento mais compreensivo e menos interesseiro do poder político», declarou.

    Relativamente aos jornais escolares, Nuno Afonso referiu que até há bem pouco tempo se faziam em todas as escolas do país «um jornal trimestral no qual participavam alunos, professores e funcionários (...) até meados da década de 90, o jornal concitava, em grau razoável, o interesse dois discentes (...) no entanto aos poucos o interesse foi esmorecendo».

    Joaquim Ribeiro, director de "O Povo Famalicense"
    Joaquim Ribeiro, director de "O Povo Famalicense"
    Por fim, o professor mostrou a sua preocupação pelo facto de «os órgãos de imprensa regional nem sempre poderem colaborar em actividades desenvolvidas pelas escolas da área por eles abrangida». E prosseguiu explicando as vantagens recíprocas na cooperação entre escolas e imprensa regional. «As escolas dariam a conhecer as suas actividades e a imprensa regional disponibilizaria um espaço no jornal para divulgação dessas actividades e publicação de trabalhos escritos pelos alunos (...) que veriam os seus nomes impressos e autenticada a sua criatividade».

    Como colaborador de “A Voz de Ermesinde” desde há 14 anos, Nuno Afonso referiu que o jornal «já celebrou protocolos com a Escola Secundária de Ermesinde, mas que não tem havido muita regularidade na aplicação do acordado».

    E concluiu que, «considerando as dificuldades que a imprensa regional tem enfrentado, não se prevê que, no imediato, esta possa dar grandes passos».

    O DEBATE

    Andreia Tavares, directora do "Jornal de Estarreja"
    Andreia Tavares, directora do "Jornal de Estarreja"
    Após apresentada esta comunicação seguiu-se o debate. Jacinto Soares foi o primeiro a intervir: «Fui também professor na Escola Secundária de Ermesinde e director de “A Voz de Ermesinde” e tive uma experiências muito rica com a escola. Os alunos faziam trabalhos que eram posteriormente publicados no jornal e as sobras dos jornais eram distribuídas na escola». Relativamente aos jornais escolares Jacinto Soares afirmou: «Acabam todos por durar três ou quatro números, porque não têm interesse global, e por isso, não são valorizados».

    Seguidamente interveio Luís Chambel, chefe de redacção de “A Voz de Ermesinde”, que começou por afirmar que «o grande público não conhece uma perspectiva aliciante da imprensa regional», justificando que esse pouco interesse poderá ter a ver com a existência de «trigo e joio, isto porque ao lado da imprensa independente existem também os simulacros que pouco mais têm do que publicidade».

    Luís Chambel continuou, referindo a preocupação do jornal em ligar-se às escolas. Justificando que a imprensa regional não pode ser «apenas uma memória para os mais velhos, mas tem de fazer o seu caminho tendo novos públicos e novos autores».

    E comentou ainda, a partir da sua experiência, a pouca atenção dada pelo Ensino Superior na área da Comunicação Social, à Imprensa Regional.

    Bernardo Barbosa, do jornal “A Aurora do Lima”, também manifestou a sua opinião declarando que a informação na internet terá o seu futuro mas o suporte de papel nunca acabará. No que diz respeito ao contacto com as escolas, Bernardo Barbosa mostrou-se pessimista. «O contacto com as escolas é difícil e problemático (…) este ano, em que “A Aurora do Lima” festeja os seus 153 anos, temos recebido muitas contribuições de alunos, mas sabemos que são efémeras».

    Por outro lado, Joaquim Ribeiro, do jornal “O Povo Famalicense”, concorda com a necessidade de estimular alunos e professores a redigirem textos para posterior publicação, mas considera um risco depender do envio de textos elaborados pelos alunos.

    Vânia Dias, finalista na Faculdade de Jornalismo da Universidade do Porto e colaboradora de “A Voz de Ermesinde”, questionou o facto de as universidades não colocarem a hipótese de os alunos realizarem o estágio curricular num órgão de imprensa regional. «Seria uma forma de aumentar o interesse dos jovens pela imprensa regional», justificou.

    Em resposta a esta intervenção Matias de Barros, do jornal “O Vianense”, referiu que o que falta à imprensa regional é «sustentação económica» e sem isso não é possível cativar os jovens. E deu como exemplo o caso de uma recém-licenciada em jornalismo que realizou um estágio no “O Vianense” mas após o seu término recusou-se a ficar, isto porque teria arranjado um emprego com melhores condições.

    Matias de Barros, director de "O Vianense"
    Matias de Barros, director de "O Vianense"
    Relativamente a esta questão, Manuel Pinto referiu que «às vezes é um logro este fascínio que os jovens têm pelos grandes media, que são cada vez mais fechados.

    O trabalho quotidiano de proximidade (imprensa regional) pode ser uma boa escola, desde que haja contacto permanente com jornalistas já com experiência, esse é um bom caminho para começar», considerou mesmo.

    Mas a realidade exclusiva destes grandes media não chega a todas as universidades. Andreia Tavares, do “Jornal de Estarreja”, precisou: «Na Covilhã não há jornais nacionais, a nossa escola é a imprensa regional». Relativamente ao definhar da imprensa regional, Andreia Tavares, referiu que o “Jornal de Estarreja”, já com 127 anos, «é uma empresa e, como tal, tem de dar lucro. Eu vivo do jornal!», declarou. «Nós temos de ir à luta, no nosso País existe a ideia que os outros nos têm de dar alguma coisa, mas não pode ser», referiu.

    Seguiu-se o intervalo para o almoço. O painel seguinte versou sobre “Vivências e Perspectivas na Imprensa Regional”.

    Por: Teresa Afonso

     

     

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