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    Arquivo: Edição de 10-09-2008

    SECÇÃO: Destaque


    DOSSIER SAÚDE EM ERMESINDE - ENTREVISTA COM CARLOS VALENTE, DIRECTOR DO CENTRO DE SAÚDE DE ERMESINDE

    Nova unidade de saúde é inaugurada na próxima semana

    O crescimento acentuado da população da cidade de Ermesinde ao longo das últimas décadas já há muito reclamava o aumento da capacidade e recursos dos serviços de saúde. O centro de saúde tornou-se completamente desajustado face às necessidades da população e às respostas que diariamente lhe eram exigidas, sendo necessário dar um novo rumo à situação.

    A menos de uma semana da inauguração da nova unidade de saúde para a cidade, “A Voz de Ermesinde” esteve à conversa com Carlos Valente, director do centro de saúde de Ermesinde. É já na próxima segunda-feira, dia 15, que entra em funcionamento a nova unidade, situada na Bela (Rua da Bela), no extremo norte da freguesia.

    As expectativas são altas porque é o culminar de um projecto com vários anos, mas o desafio ainda agora começou. Com a implantação da unidade de saúde na periferia da cidade surgem questões relacionadas com os acessos ao serviço. A par disso, a carência de profissionais na área da saúde, que se faz sentir a nível nacional, apresenta-se como uma necessidade que urge colmatar.

    Carlos Valente mostra-se confiante e não esconde a satisfação que sente por ter levado a bom termo um projecto desta envergadura, que tal como o próprio afirmou não voltará a repetir.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    “A Voz de Ermesinde” – A nova unidade de saúde, na Bela, vai abrir em pleno ou há ainda lacunas por preencher?

    Carlos Valente – Sim, vai abrir em pleno, portanto a partir da próxima segunda-feira, todos os serviços que actualmente funcionam na unidade de saúde de Ermesinde transitarão lá para cima, para a nova unidade. E esse será o único centro de saúde que irá abranger a freguesia de Ermesinde.

    AVE – Até quando funcionam os serviços de saúde em Ermesinde?

    CV – Funcionam até à próxima sexta-feira, dia 12. Esta unidade chamada unidade da Gandra, em funcionamento desde 1970, já foi submetida a duas obras de readaptação mas nunca foram suficientes, atendendo à dimensão da população de Ermesinde. Nós temos aqui 46 500 utentes inscritos, o que é um valor exagerado para as condições que temos e portanto, temporariamente, ficará aquela (unidade da Bela) como sendo o único serviço de saúde da freguesia de Ermesinde e esta entrará em obras de remodelação. Mais tarde a população será dividida entre as duas unidades.

    A NOVA UNIDADE

    DE SAÚDE DA BELA

    TEM CAPACIDADE

    PARA 30 MIL UTENTES

    foto

    AVE – A unidade da Bela tem capacidade para quantos utentes?

    CV – Tem capacidade para 30 mil utentes, pretendemos utilizar ao limite a capacidade desta nova estrutura, transferindo posteriormente os remanescentes 17 ou 18 mil utentes para a unidade de Ermesinde, após a remodelação.

    AVE – Que estará pronta em quanto tempo?

    CV – Não posso pecisar uma data, apenas poderei dizer que não levará mais do que um ano.

    O SASU FUNCIONARÁ

    SEMPRE AQUI

    EM ERMESINDE

    MESMO DURANTE

    O PERÍODO DE OBRAS

    AVE – Que especialidades vai ter ao dispor dos utentes o novo serviço de saúde?

    CV – As especialidades vão ser exactamente as mesmas que existem actualmente na unidade de saúde de Ermesinde. A nossa área de intervenção é sempre a mesma, temos medicina geral e familiar, temos também a área da saúde pública, nutrição, psicologia e serviço social. É uma base de intervenção comunitária bastante alargada, e portanto os serviços que aqui existiam vão ser transferidos na sua totalidade para a nova unidade.

    AVE – O SASU (Serviço Ambulatório de Emergência) também vai ser transferido para a Bela?

    CV – Não. O SASU funcionará sempre aqui em Ermesinde, mesmo durante o período de obras da unidade. Isto porque se trata de um serviço concelhio, e necessita de usufruir da rede de transportes que está pensada para a estação.

    AVE – Continuará em funcionamento a extensão do Centro de Saúde de Ermesinde situada em Alfena?

    CV – A extensão de Alfena continuará no activo porque é um serviço direccionado para essa freguesia. Tem cerca de 14 mil utentes inscritos, portanto é uma unidade cuja dimensão justifica a sua existência dentro daquela região, tendo também em conta parâmetros de acessibilidade e de comodidade dos utentes. Não há nenhum motivo para que daí saia. Pode e deve sair das actuais instalações, uma vez que são alugadas e emprestadas e foram adaptadas ao funcionamento de uma unidade de saúde em regime temporário. Já era altura de Alfena ter um novo equipamento.

    AVE – Está então a ser discutida a possibilidade de construir uma nova unidade de saúde em Alfena?

    CV – Sim. A Junta de Freguesia de Alfena e a Câmara Municipal de Valongo (CMV) já desenvolveram esforços no sentido de encontrar uma solução e tanto quanto sei a Administração Geral de Saúde está também empenhada na rápida resolução do problema.

    TRANSPORTES [PARA A

    NOVA UNIDADE DE SAÚDE

    DA BELA] HÁ SEMPRE,

    PODE É NÃO HAVER

    COM A FREQUÊNCIA QUE

    AS PESSOAS GOSTARIAM

    foto

    AVE – A nova unidade de saúde a inaugurar na próxima segunda-feira fica na periferia da freguesia de Ermesinde. Acha que a distância poderá representar um entrave no acesso aos serviços de saúde, principalmente para os mais idosos, tendo em conta que a maioria não possui transporte próprio?

    CV – O problema das acesibilidades é um problema que já está equacionado pela CMV, penso que a STCP já foi avisada para reforçar os transportes públicos.Transportes há sempre, pode é não haver na frequência que as pessoas gostariam, mas isso é uma questão que com o tempo se irá resolver.

    AVE – Não haverá, por exemplo, uma rede de transportes exclusiva para os utentes?

    CV – Não. A rede de transportes do concelho de Valongo está direccionada para a estação, digamos que o pólo é a estação, e esta unidade (Ermesinde) sempre beneficiou muito disso. A nova unidade da Bela é um serviço para a freguesia de Ermesinde e dentro da freguesia há, penso eu, os transporte adequados para aceder ao novo serviço de saúde. Pode é não haver na frequência desejável, mas existem todos os transportes adequados, as pessoas de Ermesinde precisarão de apanhar apenas um transporte. Agora quem vem de outros locais fora de Ermesinde, é que pode precisar de dois transportes, o que não acontecia até agora.

    Aliás, eu poria o problema ao contrário! Os utentes da Bela também estavam aqui inscritos na unidade de saúde de Ermesinde e também tinham que apanhar transporte para usar este serviço. Tão distante fica a Gandra da Bela como a Bela da Gandra, as pessoas de lá tinham de vir para aqui, e agora alguns daqui vão ter que ir para lá, é um facto, mas estamos a falar de população da freguesia de Ermesinde. Se me disserem que pessoas de Água Longa ou Águas Santas têm de apanhar dois transportes, é verdade, mas também é um facto que essas pessoas têm um centro de saúde na sua área de residência que deverão utilizar, e se tiverem de apanhar dois ou mais transportes é por sua iniciativa. Nós não recusamos inscrições, mas temos é de ter em conta que a unidade de saúde da Bela foi pensada apenas para a freguesia de Ermesinde.

    AVE – Portanto a distância não será um problema?

    CV – Não. Se houver que melhorar a frequência dos transportes dentro da freguesia de Ermesinde, por exemplo em vez de os autocarros passarem de 20 em 20 minutos, eventualmente diminuir o tempo de espera, não sei se é possível mas terá de ser tratado. Agora pensar que aquela unidade terá de usufruir de uma rede de transportes própria para a freguesia de Ermesinde e concelhos limítrofes, isso já não é razoável.

    AVE – O terreno disponível teve também influência na decisão da localização do seviço de saúde?

    CV – Claro. Não há no centro da cidade de Ermesinde um terreno com aquela dimensão, portanto tivemos que optar por uma construção um pouco já no limite. Aliás, se formos a outras cidade e vilas vemos que os centros de saúde estão normalmente na periferia, por causa das dimensões de que necessitam, porque não podem ser estruturas com sete ou oito andares, só podem ter rés-do-chão e primeiro andar, que é o que nós temos. Portanto, tivemos de optar entre estar no centro, mal acomodados e sem condições, ou estar um bocadinho na periferia da cidade, mas com umas excelentes condições. A unidade da Bela tem excelentes condições para utentes e para profissionais, e devo dizer que quando isto acontece o resultado final também só pode ser o melhor. Todos ganhamos com isso.

    AVE – Acha que a nova unidade vai suprir todas as carências do serviço de saúde na freguesia de Ermesinde?

    CV – Aqui há que ter em conta dois factores: uma coisa são as questões relacionadas com as infra-estruturas, e outra são os recursos humanos. Sob o ponto de vista das infra-estruturas e depois de reformulada esta unidade da Gandra, obras que começarão já em Outubro, a freguesia de Ermesinde fica com dois bons equipamentos, mas muito bons mesmo e portanto sob esse ponto de vista acho que o resultado vai ser óptimo. Sob ponto de vista dos recursos humanos isso é algo que vai ser resolvido com o tempo. Toda a gente sabe que há uma falta de médicos de família a nível nacional e essas carências vão sendo paulatinamente resolvidas. Agora serão tão mais depressa resolvidas quanto mais favorável for a relação entre aqueles médicos que entram por concurso e aqueles que saem em situação de reforma. Temos que fazer sempre este balanço, mas presumo que a situação se irá resolver, pode demorar mais ou menos tempo, depende de algumas circuntâncias. Mas o problema da falta de médicos de família não é um problema de Ermesinde, nem de Valongo, nem do distrito do Porto, é uma questão a nível nacional.

    AVE – O Centro de Saúde de Ermesinde continua a servir utentes de outras localidades, por exemplo Águas Santas e S.Pedro de Fins? De que modo tem evoluído essa situação?

    CV – Há uns anos tínhamos um número de inscritos muito justificado pelas carências da freguesia de Águas Santas, porque o único serviço de saúde que abrangia Àguas Santas era o centro de saúde de Ermesinde. Depois de aberto o centro de saúde nessa região é que a população têve a sua própria unidade de saúde. Não temos tido novas inscrições de população dessa região, portanto digamos que percentualmente o peso relativo de utentes de freguesia limítrofes tem vindo a diminuir ao longo dos anos, embora o seu peso absoluto seja sempre igual, porque as pessoas não vão embora...

    TEMOS CERCA DE 27%

    SEM MÉDICO DE

    FAMÍLIA O QUE EQUIVALE

    NESTE MOMENTO

    A 13 MIL UTENTES

    Localização da nova unidade de saúde da Bela - parte mais escura do mapa. O autocarros nº. 704 (antigo 58) é o mais indicado para aceder a este local
    Localização da nova unidade de saúde da Bela - parte mais escura do mapa. O autocarros nº. 704 (antigo 58) é o mais indicado para aceder a este local

    AVE – Actualmente que percentagem da população inscrita no Centro de Saúde de Ermesinde permanece sem médico de família?

    CV – Temos uma taxa de cerca de 27% sem médico de família, o que equivale neste momento a 13 mil utentes. A situação tem vindo a diminuir em termos percentuais, o problema é que quando ela está a diminuir, se um médico transita para situação de reforma, já nos faz regressar um pouco atrás e também há que ter em conta que os valores absolutos são muito altos, a população é muito grande. Houve um crescimento populacional na década de 90 que nunca foi acompanhado com uma alocação de recursos, a população cresceu muito e os nossos quadros não foram reajustados. Há um visível desfasamento neste centro de saúde entre aquilo que é o crescimento populacional e a colocação de novos recursos para fazer face a esse crescimento.

    AVE – O que é que está a ser feito de modo a sensibilizar os utentes para a importância de possuir um médico de família?

    CV – Nós temos vindo a fazer isso ao longo dos anos. Falamos pessoalmente com os utentes e procuramos dar a perceber às pessoas que o facto de possuírem um médico de família lhes proporciona um melhor atendimento em comparação com qualquer outro serviço.

    AVE – Quais são as expectativas/objectivos para os primeiros anos de funcionamento da nova unidade de saúde?

    CV – Posso afirmar que a motivação dos profissionais é alta porque quando vamos trabalhar para boas condições ficamos mais motivados e sabendo que os nossos utentes estão bem acomodados é ainda melhor. O dia-a-dia de um centro de saúde faz-se com profissionais e utentes e se um desses grupos não está bem, isso reflecte-se no funcionamento da estrutura. Portanto tendo melhores condições de trabalho para profissionais e melhores condições de acomodação para os utentes, desde logo será bom para todos e isso há-de reflectir-se depois no trabalho e na satisfação. Agora, melhores resultados no novo centro de saúde serão conseguidos com mais recursos humanos, no sentido de adequar o número de profissionais ao número de utentes.

    AVE – O aumento de profissionais não deveria ter sido pensado à anteriori?

    CV – E já se pensou nisso, aliás está a decorrer um concurso, esperamos o seu desfecho rapidamente e abriu recentemente mais outro. Está previsto o aumento de profissionais, a situação está equacionada e vamos tentando diminuir essa carência, agora se no entretanto surgirem por exemplo, reformas de profissionais e outras situações do género, isso já não depende de nós. Por exemplo, em Alfena não temos população a descoberto (sem médico de família), digamos que fomos resolvendo as coisas em determinados locais e menos noutros.

    Por: Teresa Afonso

     

     

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