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    Arquivo: Edição de 10-07-2008

    SECÇÃO: Crónicas


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    Orvalhadas

    Todos os povos têm os seus dias místicos. Iria mais longe: qualquer grupo étnico cria as suas lendas e utopias. Até, de terra para terra, é diferente a crença. O orago de lugar não originou um culto próprio, foi o resultado da fé e esperança, e modo de agir do grupo, que prestou preito a um Santo ou Santa, tendo em conta o local.

    Na minha aldeia transmontana, o Santo Popular mais venerado era S. Pedro; S. João passava despercebido, nem fogueira, no largo da aldeia, tinha no dia. E Santo António? Era o máximo!, em Vila Real falando. No dia da feira era um corrupio de gentes e animais a passarem por Roalde! Tudo girava pelo dia 13 de Junho.

    Ao observar as grandes festas de S. Pedro de Afurada, onde os gaienses, principalmente os que vivem ou viveram da faina piscatória, prestam homenagem ao Porteiro do Céu e da entrada do rio Douro (!), ficamos deslumbrados. Quantos medos acabaram, quando o cais da Afurada recolhia os barcos vindos do mar? Quanta coragem se deve ao Santo, agora passeado de barco em procissão, nas idas à pesca?

    Pois bem, o meu S. Pedro de criança era: acordar cedo, na véspera do dia consagrado, ir com os moços dos bois, assistir ao banho dos animais na fonte da Tenaria, antes do sol nascer (com os raios solares a magia acabava!)!

    Os animais sem banho podiam definhar e nas lutas, quando andavam a pastar nos montes, vinham a ser derrotados. Como havia uma grande competição, entre as juntas de bois dos lavradores (os mais fortes foram sempre os do Bertêlo), ninguém se esquecia do Banho Santo!

    Quando na cidade do Porto, para continuar estudos, o primeiro S. João foi um deslumbramento! A memória ficou de tal modo impressionada que dava um filme, ligada a um computador da era digital! Lá chegará a oportunidade, em que o tempo passado, tal como num buraco negro, poderá repetir os acontecimentos, cujas imagens andaram a vogar no espaço etéreo!...

    Quando o dia começou a clarear, na véspera dessa noitada, passado no corrupio: Clérigos, Praça, rua de S. António, Batalha e Fontainhas, dei comigo a magicar: o asfalto das ruas estava molhado, quando não tinha chovido ou molinhado, e o calor continuava!

    Eram as orvalhadas!

    Só as tinha sentido quando, manhã cedo de Junho ou Julho, por entre as giestas ou nas folhas dos milheirais, ficava com a roupa molhada!

    Este ano, na Noitada Portuense, choveu de mansinho! Já nos dias anteriores, uma neblina vinda da Foz do Douro, invadia a cidade alta (Praça do Marquês) e molhava o pavimento das ruas. Não era fruto das orvalhadas, tão descritas e contadas nas quadras populares. Eram gotas de chuva, quase imperceptível!

    As orvalhadas resultam do arrefecimento rápido dos pavimentos ou vegetação, contra os quais o vapor da água se condensa nas superfícies frias ou menos quentes!

    Os ramalhetes de erva cidreira, hortelã ou ramos de carvalheiras, com balões na ponta das vergastas, levados pelos romeiros dos bairros citadinos, quando desciam às Fontainhas, idos de Paranhos ou Campanhã, representavam a frescura das orvalhadas nos campos agrícolas!

    Ainda a noite de S. João não tinha acabado já os funcionários da Câmara procediam à lavagem das ruas!

    Ver os destroços da festa (alhos porros e restos de vegetais) irem rua abaixo, em frente dos jactos de água, era o requiem da Grande Noite!

    Por: Gil Monteiro

     

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