Escolas do concelho de Valongo em perspectiva
Nos últimos tempos o tema da Educação tem sido amplamente discutido no nosso país. O mal-estar que se fez sentir entre a classe docente levou a que centenas de professores se manifestassem contra as políticas do Ministério da Educação. O caso da aluna que desrespeitou uma professora na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, despoletou um aceso debate sobre a violência nas escolas. E mais recentemente a polémica à volta das provas de aferição de Matemática e Português que, este ano, registaram metade das negativas do ano passado. Os professores mostram-se cépticos relativamente a estes resultados. A ministra da Educação atribui esta melhoria à implementação do Plano de Acção para a Matemática e do Plano Nacional de Leitura.
Com mais um ano lectivo prestes a encerrar damos a conhecer um pouco da realidade das escolas do concelho de Valongo. Tentamos perceber como tem evoluído a população escolar, que tipos de carências existem nos estabelecimentos de ensino, o tipo de equipamentos disponíveis e as preocupações de quem lida com os estudantes todos os dias.
Contactámos 12 escolas do concelho, sete das quais mostraram disponibilidade para nos fornecer informações. Agradecemos desde já sua a colaboração. Três delas são instituições privadas, as restantes pertencem ao ensino público.
Entramos igualmente em contacto com Associações de Pais mas, até a data da publicação deste artigo, não obtivemos resposta.
É de referir que o texto, datado de 2008 se trata apenas, de uma interpretação dos dados fornecidos pelas instituições de ensino e não pretende, de modo algum, catalogar as mesmas ou veicular verdades absolutas.
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Fotos ARQUIVO URSULA ZANGGER |
O Colégio de Ermesinde é uma instituição privada, de cariz religioso. Engloba vários graus de ensino: o pré--escolar 1º, 2º e 3º ciclos do Ensino Básico, semi-internato e externato e foi a única a assumir que faz uma selecção prévia dos seus alunos. Este ano lectivo recusou dois e recebeu 545, menos 105 alunos do que no ano passado.
Também a Escola Secundária de Ermesinde, este ano, registou menos 339 propostas de matrícula do que em 2007, ano em que entraram 2 421. No entanto, mesmo assim, refira-se o facto de terem sido recusados cerca de 30 alunos nos cursos de Formação e Educação, nesta mesma escola, este ano lectivo.
O único estabelecimento de ensino a registar um aumento de alunos foi a EB 2,3 Padre Américo, em Campo (cerca de 20). A instituição privada Externato Santa Joana e o Externato Maria Droste, ambos também de cariz religioso, com ensino do pré-escolar ao 6º Ano, e a EB 2,3 de Sobrado registaram um decréscimo nos alunos admitidos, embora, muito pouco significativo.
NOVAS
TECNOLOGIAS
Quanto ao número de computadores de livre acesso aos alunos, a distribuição é proporcionalmente desajustada. A par disso, há diferenças bastante significativas entre as escolas.
O Externato Santa Joana possui 20 computadores à disposição dos seus cerca de 440 alunos, que embora não sendo a situação ideal, é bem melhor do que a realidade da Escola Secundária de Ermesinde, que tem à disposição de 2 081 estudantes, apenas 30 computadores – isto dá um rácio de mais de 65 alunos para cada computador. Situação igualmente complicada é a da EB 2,3 de Sobrado, que dispõe de quatro computadores para cerca de 450 alunos.
Perante estes números vale a pena relembrar uma notícia da agência de notícias Lusa, do passado dia 16 de Junho: o actual Governo voltou a afirmar que tem como objectivo colocar a escola pública na “linha da frente”. Todas as escolas públicas deverão até 2009 possuir cartão electrónico do aluno, além disso, terão um computador para cada cinco alunos, um videoprojector em todas as salas de aula e um quadro interactivo por cada três salas de aula. Estes objectivos estão previstos no Plano Tecnológico da Educação (PTE), lançado há quase um ano.
Numa altura em que ainda estão a ser implementadas cantinas em três escolas no concelho de Valongo, os números a que tivemos acesso apontam para um longo trabalho a desenvolver, de forma a atingir a meta estipulada pelo Plano Tecnológico da Educação.
No que respeita a número de aulas por semana não há grandes diferenças entre o ensino público e o privado. Há sim, grandes disparidades entre as escolas privadas. Enquanto o Colégio de Ermesinde lecciona 35 horas de aula por semana, o que dá uma média de sete por dia, o Externato Santa Joana lecciona menos 10 horas de aulas por semana – 25. O Externato Maria Droste situa-se numa posição intermédia com 30 horas de aulas semanais. O mesmo acontece com a EB 2,3 de Sobrado. Por outro lado, a EB 2,3 de Alfena e a EB 2,3 Padre Américo optam por leccionar sete horas de aulas por dia (35 por semana).
MÉDIA DE ALUNOS
POR TURMA
É DE 24
Relativamente ao número de alunos por turma também não se notam grandes disparidades entre as escolas que participaram neste estudo. O Externato Maria Droste é o estabelecimento que regista o número mais baixo de alunos por turma (em média 22), a EB 2,3 de Sobrado e o Externato Santa Joana, por sua vez, organizam as turmas, em média, com 25 alunos. No meio--termo situam-se a EB 2,3 Padre Américo e a Escola Secundária de Ermesinde, com 24 alunos por turma. O Colégio de Ermesinde fica-se pelos 23.
De resto todos os estabelecimentos de ensino afirmam promover actividades para estimular a motivação dos alunos. Visitas de estudo, apoio bibliográfico e encontros com professores são os exemplos mais apontados.
Além destas iniciativas, a Escola Secundária de Ermesinde promove, ainda, projectos na escola e aulas de recuperação. A EB 2,3 de Alfena opta pelo apoio bibliográfico e por uma reflexão em assembleia de turma sobre os resultados alcançados, e a EB 2,3 Padre Américo encarrega os professores e directores de turma de motivarem os alunos no regresso das actividades lectivas.
O mesmo não acontece no que respeita a incentivos para os melhores alunos. O Colégio de Ermesinde e a EB 2,3 de Alfena são as únicas escolas a afirmarem não fornecer incentivos aos alunos com melhor aproveitamento.
As restantes escolas privadas fazem-no, mas não especificam que tipo de incentivos adoptam.
A Escola Secundária de Ermesinde felicita os melhores alunos com prémios do Rotary Clube de Ermesinde, na EB 2,3 de Sobrado os alunos que se destacam figuram no Quadro de Honra da escola, e a EB 2,3 Padre Américo premeia os melhores alunos com diplomas de mérito entregues em cerimónia no final ou início do ano lectivo.
Grosso modo pode dizer--se que as grandes diferenças entre o ensino público e o privado residem no interesse demonstrado pelos encarregados de educação relativamente ao ensino ministrado na escola, preocupação demonstrada perante o desempenho dos seus educandos e nas actividades extra-curriculares que os alunos frequentam.
No Externato Santa Joana, os encarregados de educação mostram-se bastante interessados no que diz respeito à filosofia de ensino do estabelecimento, e o mesmo se passa com a preocupação do desempenho dos respectivos educandos. Esta situação é igual nas restantes duas escolas privadas (Colégio de Ermesinde e Externato Maria Droste).
PARTICIPAÇÃO
DOS ENCARREGADOS
DE EDUCAÇÃO
O caso muda de figura quando se fala em ensino público. No caso da EB 2,3 de Alfena a situação pode ser preocupante. A participação e interesse dos encarregados de educação relativamente à vida escolar é pouca, o mesmo acontece com a preocupação no que diz respeito ao desempenho escolar dos educandos, sendo que uma parte significativa dos pais não demonstra qualquer interesse.
Na EB 2,3 de Sobrado o cenário afigura-se menos negro, mas ainda assim inquietante, já que os encarregados de educação, sendo razoavelmente interessados e participativos, demonstram um relativo interesse pelo desempenho escolar dos educandos. A Escola Secundária de Ermesinde e a EB 2,3 Padre Américo fazem uma apreciação razoável do papel dos pais, em contexto escolar.
Esta situação levanta algumas questões pertinentes.
A primeira delas, embora bastante discutível, tem a ver com a possível ligação entre o papel assumido pelos pais na vida escolar dos filhos e o desempenho dos mesmos, a nível de aproveitamento. Segundo dados publicados pelo jornal “Público”, em 2007 a EB 2,3 de Alfena conseguiu, em 82 provas, a média de 2,34 (numa escala de 0 a 5); a EB 2,3 de Sobrado, em 136 provas, garantiu uma média de 2,31 valores e a EB 2,3 Padre Américo, com 160 provas, ficou igualmente com uma média baixa – 2,63, (escala de 0 a 5).
As médias positivas vão apenas para a Escola Secundária de Ermesinde com 10,7 (numa escala de 0 a 20), e para o Colégio de Ermesinde com 3,13 (escala de 0 a 5).
No que diz respeito aos Externatos Santa Joana e Maria Droste, não tivemos acesso a esta informação. No entanto, ensino público e privado apontam a Matemática como a disciplina que mais dificuldades cria aos alunos, enquanto a Educação Física surge no topo das melhores notas.
ACTIVIDADES
EXTRA-CURRICULARES
Por outro lado as actividades extra-curriculares podem de certa forma influenciar o desempenho académico do aluno. Há estudos que demonstram que quem participa em actividades deste tipo tem um melhor desempenho do que os que não participam. Defendem que as actividades extra-curriculares têm um papel importante na vida dos alunos, não só porque estes começam a ganhar uma percepção positiva de si próprio no meio escolar, bem como um maior envolvimento na própria escola. Por isso, a participação em actividades extra-curriculares leva a que os alunos tenham um maior interesse pela escola e pelos valores desta, o que conduz indirectamente a um melhor desempenho académico.
No entanto a importância das actividades extra-curriculares não é encarada da mesma forma pelos estabelecimentos de ensino.
A EB 2,3 de Alfena chega mesmo a afirmar que os seus alunos não frequentam qualquer actividade fora do âmbito escolar. Na Escola Secundária de Ermesinde faz--se teatro, desporto e desenvolvem-se projectos de variada ordem. A EB2,3 de Sobrado e EB 2,3 Padre Américo enumeram o teatro e fazer desporto como as actividades extra-curriculares predominantes na instituição.
Nas escolas privadas a realidade é bem diferente. No Externato Maria Droste os alunos praticam karaté, desportos colectivos, tem aulas de piano e fazem teatro. A dança também faz parte do conjunto de actividades deste estabelecimento de ensino, bem como, o canto coral e ainda a edição de um jornal escolar. O Externato Santa Joana fica-se pelo karaté, ballet e desportos colectivos. Já os alunos do Colégio de Ermesinde optam por praticar ténis, karaté, dança, música, desportos colectivos e fazer teatro.
Ainda relativamente ao aproveitamento escolar, há que ter também em conta o meio económico-social e cultural em que os alunos se encontram inseridos. As escolas privadas possuem, regra geral, melhores infra-estruturas, oferecem mais actividades artísticas e culturais, funcionam com horários alargados, asseguram mais estabilidade do corpo docente, e por isso, favorecem, de certa forma, quem as frequenta. No entanto, pesa o facto de este tipo de instituições exigirem, na maioria das vezes, verbas impossíveis de serem suportadas pelas famílias mais humildes.
Por último, as estatísticas de emprego não são propriamente animadoras e consequentemente vai-se criando uma cultura de desvalorização da formação académica, mais visível nos meios onde há escassez de recursos financeiros.
Segundo dados estatísticos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) no passado mês de Abril, os licenciados representavam 9,2% dos desempregados em Portugal. No concelho de Valongo e segundos dados de Dezembro de 2007, em cerca de 5 241 desempregados, mais de 450 gozavam de formação superior e cerca de 800 tinham diploma do Ensino Secundário.
No que diz respeito às infra-estruturas das escolas, nomeadamente espaços de lazer, não existem grandes divergências nas escolas do concelho. Todos os estabelecimentos escolares possuem biblioteca, pavilhão gimnodesportivo e sala de convívio. A EB 2,3 de Sobrado destaca-se por possuir uma Sala de Recursos da Matemática e apenas a EB 2,3 Padre Américo dispõe de uma ludoteca. Quando questionadas acerca da violência em contexto escolar, os factores mais apontados pelos estabelecimentos de ensino como possíveis causas, são o meio social, económico e cultural em que os estudantes se encontram inseridos e o tipo de educação e valores familiares transmitidos pelos encarregados de educação.
Quanto às possíveis soluções para este problema as escolas defendem o aumento da autoridade dos professores como sendo o meio mais eficaz. A disponibilização de apoio psicológico para auxiliar os alunos, a melhoria das condições sociais e culturais dos mesmos, a par da responsabilização dos pais são outras das possíveis medidas a adoptar.
FORMAÇÃO
CONTÍNUA
DOS PROFESSORES
A formação contínua dos professores assume uma importância crucial, no meio escolar, porque contribui, não só para a melhoria da qualidade do ensino, mas também para a legitimação do estatuto do professor. No concelho de Valongo pode afirmar-se que a formação dos professores representa uma preocupação para os estabelecimentos de ensino.
Todas as escolas que participaram neste estudo declararam promover acções de formação, actividades pedagógicas, seminários e ainda cursos em diversas áreas de formação, de forma a enriquecer a actividade pedagógica.
Por:
Teresa Afonso
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