Grandes autores no “Público”
Provavelmente, para os leitores interessados pela Banda Desenhada, tal não terá passado despercebido. O jornal “Público”, numa iniciativa conjunta com as Edições Asa, está publicar, com saída às quartas-feiras, obras de Banda Desenhada de grandes autores. A colecção, que se intitula precisamente “Grandes Autores de Banda Desenhada”, é constituída por 10 edições (que não obras, porque há alguns álbuns duplos), de vários quadrinistas, encontrando-se praticamente a meio do plano previsto.
A possibilidade de fazer chegar a BD a outros públicos, aproveitando a rede de distribuição do referido jornal e os custos de escala assim reduzidos a proporcionar preços mais acessíveis é de saudar, além de que a escolha, evidentemente, baseada no prévio plano de edições da Asa, contempla, de facto, a edição de alguns importantes autores da Banda Desenhada europeia (do importante universo franco-belga, no que toca à edição e não à nacionalidade dos autores, naturalmente).
Outra coisa que se saúda é o acento tónico posto na figura do autor, promovendo assim uma perspectiva que se centra no processo criativo da obra e a vê inserida numa proposta artística.
A colecção do “Público”, de que se irão publicar (ou já o foram à data em que escrevemos este texto), obras de géneros tão díspares como o humor, a ficção científica, o policial negro, a sátira, o esoterismo, o western... apresenta assim uma panóplia diversa e mais ou menos abrangente do panorama editorial franco-belga, embora no conjunto, vamos lá... um pouco desigual.
Já foram, ou irão sê-lo, publicadas obras de Van Hamme, texto, e Rosinski, desenho (“Thorgal – O Filho das Estrelas” e “Thorgal – Alinoë”), Zep, desenho e texto (“Titeuf – As Miúdas Ficam Banzadas...” e “Titeuf – N’é Nada Justo”), Guarnido, desenho, e Canales, texto (“Blacksad – Algures Entre as Sombras” e “Blacksadd – Arctic Nation”), Goscinny, texto, e Tabary, desenho (“Iznogoud Vê Estrelas” e “Iznogoud e o Computador Mágico”, Enki Bilal, desenho e texto (“A Feira dos Imortais” e “O Sono do Monstro”), Marini, texto, Desberg desenho (“A Estrela do Deserto”, dois capítulos), Gibrat, desenho e texto (“Destino Adiado”, tomos 1 e 2), Pellejero, texto, e Zentner, desenho (“Âromm – Destino Nómada” e “Âromm – Coração da Estepe”, Miquelanxo Prado, desenho e texto (“A Vida é um Delírio”) e, finalmente Bess, desenho, e Jodorowsky, texto (“O Lama Branco – O Primeiro Passo” e “O Lama Branco – A Segunda Visão”.
Desta colecção e sem menosprezo dos demais, destacaríamos a presença de Guarnido/Canales, com a excelente saga policial Blacksad, de Miquelanxo Prado, que alia o seu sentido de crítica e o seu humor ao grafismo esplendoroso que se lhe conhece, e a Enki Bilal, um autor já clássico, e o qual queríamos aqui destacar particularmente.
Enki Bilal, nascido na antiga Jugoslávia, em Belgrado, no ano de 1951, foi educado em França, onde chegou com dez anos de idade, sendo autor de algumas grandes obras, traduzidas e publicadas em Português, quer sozinho, quer em parceria com Pierre Christin, como “A Cidade que não Existia” (Meribérica, 1982), “O Cruzeiro dos Esquecidos” (Meribérica, 1982), “A Caçada” (Meribérica, 1987, uma das obras mais interessantes tendo como pano de fundo a sociedade do capitalismo de Estado autocrático do Leste), “O Navio de Pedra” (Meribérica, 1990), “As Falanges da Ordem Negra” (Meribérica, 1993), “O Sarcófago” (Meribérica, 2001) e “Corações sangrentos e Outras Crónicas” (Edições Asa, 2003).
Francamente, preferimos o trabalho em parceria com Christin, mas Bilal é ainda autor traduzido de “Exterminador 17”, com Dionnet (Meribérica, 1989) e, sozinho, de “A Feira dos Imortais” , “Memórias d’Além-Espaço”, “A Mulher Armadilha”, “Frio Equador” e “O Sono do Monstro”, todos publicados pela Meribérica, respectivamente em 1982, 1983, 1987, 1994 e 1999, e “32 de Dezembro” e “A Trilogia Nikopol”, dados à estampa em Portugal pelas Edições Asa, respectivamente em 2003 e 2005.
O grafismo de Bilal é característico e imediatamente reconhecível. A coloração, na qual avultam as tonalidades azuis e castanhas aparece sempre de forma que deixa bem visível o desenho subjacente, nunca o apagando e fazendo da expressividade do traço uma das suas características marcantes. Quanto às suas preferências narrativas, é marcado o gosto pela ficção científica, tema recorrente das suas obras a solo.
Por:
LC
|