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    Arquivo: Edição de 30-10-2007

    SECÇÃO: Crónicas


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    A morte do cão

    Ainda que a morte seja a lei da vida custa sempre a encará--la, mesmo nos animais de estimação. Iria mais longe, no reino vegetal, colher rosas num jardim é vê-las mortas, passados escassos dias! “Outros valores”, diria o Rogério. “Conceitos de vida e morte”, diria o José Castro!

    Mas há uma alínea fundamental: tomar parte num funeral dá que pensar! Estou em crer que os participantes, no enterro de um ente querido, seriam incapazes de cometer qualquer crime ou sacrilégio nas horas próximas.

    Quando o Manuel José concluiu que o seu cão, boxeur de elevado pedigree, deixou de ser solicitado para acasalamento de cadelas da Foz do Douro, e os anos tinham passado, recambiou-o para Soutelo do Douro. A finura e o bom feitio do animal resultaram na adopção pelo Carlos e Helena, e dos outros cães da Quinta da Fonte Nova.

    Nas idas do Porto a Soutelo, mal se apitava à chegada, era o primeiro a vir ao encontro, antes dos outros canídeos e da “dona” Helena. Enquanto se almoçava fazia companhia. Na sala e no quarto tomava conta do tapete, e metia o focinho entre as nossas pernas para receber afagos. Se as festas eram maiores, empinava as patas e lambia as mãos carinhosas.

    A Maria Fernanda cuidou sempre, em férias e não só, pela melhor qualidade de vida do Spin. O médico veterinário de S. João da Pesqueira passou a tratar, cada vez mais, do animal. Assisti a tratamentos, em que o boxeur colaborava de um modo tão pacífico que causava de admiração! Mas o elixir da longa vida passou a negativo. Nas idas a Soutelo via-se o inexorável desenlace.

    Meu dito, meu feito, na última chegada à aldeia, apesar da azáfama da vindima, ao soar da buzina, os cães apareceram, menos ele. Interrogado o Carlos disse:

    - Deve ter ido, com um empregado, ao povo!

    Como o almoço já estava na mesa, não se falou mais da ausência do cão. Seguiu--se a ida à Pesqueira para o café, e só no regresso a Maria Fernanda inquiriu da sua falta. O João José, chamando-a, enlaçou--a pela cintura, e afirmou:

    Ilustração RUI LAIGINHA
    Ilustração RUI LAIGINHA
    - … Tinha acabado de morrer quando chegaste do Porto. Agora nada a fazer, foi enterrado.

    Nunca pensei!, apesar do recado ouvido, que o acontecimento fizesse soluçar a Maria Fernanda. Senti tristeza e não me libertei da “dor”, enquanto a via limpar as lágrimas, e dizer:

    - Ó João!, pelo menos, deixavas vê-lo!

    Pela tardinha, dei uma volta pelos armazéns e horta, acompanhado, como sempre, pelos três cães indígenas e o tequel residente no Porto. Após matar o desejo de apanhar e comer figos pingo de mel, “figueira importada do Algarve”, reparei que os cães desapareceram! Procuro-os, e o que constato?!:

    Farejavam no sítio onde tinha morrido o amigo!

    Ainda bem que foi enterrado para lá do muro da quinta …

    A solidariedade canina deu que cismar!

    Por: Gil Monteiro

     

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