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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 20-09-2007

    SECÇÃO: Cultura


    O Taborda em Foz Côa e Freixo de Numão

    O Centro Cultural Alberto Taborda realizou nos dias 30 de Junho e 1 de Julho de 2007, sábado e domingo, uma digressão pelas terras do concelho de Vila Nova de Foz Côa, com a intenção de dar a conhecer aos seus associados as gravuras rupestres do vale do Côa, o rico património arqueológico de Freixo de Numão, as belezas naturais da região e a simpatia das suas gentes.

    Fotos CECAT
    Fotos CECAT
    A viagem foi organizada pela nova Direcção do Centro, presidida por Olga Trabulo. Partimos de Ermesinde bem cedo, num autocarro cheio de saborosas conversas misturadas com alguns bocejos de sono que depressa foram desaparecendo. A viagem fez-se pelo IP5, agora auto-estrada, com paragem para abastecimentos em Mangualde, e chegámos a Foz Côa pelas onze e meia.

    A visita às gravuras estava marcada para o início da tarde, pelo que o almoço foi servido, e muito bem servido, na Albergaria do Vale do Côa ainda antes do meio-dia, preparando-nos para uma tarde de muito trabalho.

    Terminado o repasto, o nosso autocarro levou-nos até à aldeia de Castelo Melhor, encostada ao morro do velho castelo, com as suas casas de xisto e de granito recuperadas, onde nos dirigimos à casa de apoio do Parque Arqueológico do Vale do Côa, organização responsável pelas visitas às gravuras. Depois, divididos em pequenos grupos pelas viaturas todo-o-terreno, lá partimos rumo à Penascosa, nas margens do rio Côa.

    No caminho, e no meio dos solavancos das viaturas, fomos conversando com o guia e apreciando a beleza serena e intensa do vale do Côa, as oliveiras e as amendoeiras alinhadas nas encostas, a Quinta da Erva Moira com as vinhas estendidas em suave declive até ao rio, pintando de frescura a paisagem e enchendo de encanto os nossos olhos. E sobre o vale pairava em voo sereno, em completa harmonia natural, uma das poucas cegonhas negras que ainda voam nestas paragens.

    Chegados à Penascosa, o nosso guia, dedicado e conhecedor, mostrou-nos e explicou em pormenor as origens, as datações aproximadas e as intenções prováveis das gravuras existentes em algumas das faces lisas das rochas de xisto que abundam no local. Durante cerca de meia hora, as suas explicações cativaram a nossa atenção e levaram-nos a fazer uma viagem no tempo de muitos milhares de anos em direcção ao passado, até junto dos homens que, na sua passagem por estes locais, deixaram aqui a marca das suas inquietações e da procura do sentido da vida.

    Dessa viagem voltámos logo depois, porque o sol e o calor nos lembravam necessidades mais terrenas, como sombra e água fresca, pelo que regressámos pelo mesmo caminho, em mais solavancos, com um último olhar para a Erva Moira e a promessa interior de lá voltar. Na aldeia de Castelo Melhor nos refrescámos, e de lá seguimos para Foz Côa, atravessando de novo o rio e a garganta entre os montes onde permanecem os sinais da barragem que aí começou a ser construída, e que os homens que riscam o destino (os do passado e os do presente) fizeram abandonar.

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    Ao fim da tarde, chegámos à aldeia de Freixo de Numão, terra natal da actual directora do Taborda, onde fomos recebidos com muita simpatia e atenções, vinhos, presuntos e salpicões, e águas também, que estragam o ritmo da frase mas estragam menos a saúde.

    Provadas e aprovadas todas estas simpatias, fomos visitar a Casa do Moutinho, que está ao cuidado e ao serviço da ACDR, Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão. Um dos seus dirigentes, Paulo Moutinho, falou-nos da associação e das suas actividades. Trata-se de uma colectividade muito dinâmica com intervenção meritória em diversas áreas no âmbito da cultura e desporto locais. Depois, como as palavras secam a boca, levaram-nos até aos lagares da casa e deram-nos a provar uns licores terapêuticos de uvas e de amêndoas, e outros remédios, com frutos secos e biscoitos à mistura, que nos curaram de todos os males do corpo e da alma e nos prepararam para o jantar.

    A etapa seguinte foi a do banho e do reconhecimento das instalações para a pernoita, coisa feita em grupos mais restritos, a que se seguiu o jantar nas instalações da juventude da ACDR, onde nos obrigaram a aturadas provas de boas comidas e bebidas, cafés, chás e “zimbros”, culminadas por um bailarico digestivo e bem animado, preparando-nos, assim, para uma noite bem dormida, inteiramente merecida depois dos esforços deste longo dia de trabalho.

    NO DIA SEGUINTE, DOMINGO

    No dia seguinte, domingo, ao toque de alvorada seguiu-se o “petit déjeuner” e o grupo reuniu-se para o trabalho às 10 horas. Fomos transportados nas pequenas viaturas da ACDR até ao sítio arqueológico do Prazo, que visitámos demoradamente, guiados pelo Paulo Moutinho, que cativou toda a gente pelo entusiasmo com que falava das pedras, das coisas, dos lugares e da sua preservação e divulgação, bem como das gentes romanas e de épocas anteriores e posteriores que por ali passaram ao longo dos tempos, deixando as suas marcas.

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    O sítio arqueológico do Prazo fica a escassos três quilómetros de Freixo de Numão e a cerca de quinze de Foz Côa, perto da estrada que liga esta vila à de São João da Pesqueira. Trata-se de uma extensa área que terá sido uma povoação rural romana com ocupações sucessivas nos séculos I a IV d.C. Encontrava-se soterrada na sua maior parte e tem vindo a ser posta a descoberto e estudada pelos arqueólogos ao longo dos últimos quinze a vinte anos.

    Pela abundância dos vestígios arqueológicos já encontrados, presume-se que haja outras áreas ainda por descobrir em toda esta região de Freixo de Numão, de terras férteis, que era atravessada por uma via romana que fomos visitar de seguida, sempre com a companhia sábia e eloquente do Paulo.

    A calçada romana das Regadas apresenta um troço interessante e bem conservado, muito perto de Freixo. Ao longo dos seus quinhentos metros de extensão pudemos observar uma fonte e bebedouro para os animais, lugar para a muda de cavalos, com oficina de ferrador, e uma estalagem para as entidades mais importantes que por ali passavam. Áreas de serviço de outros tempos…

    Depois da calçada romana, fomos visitar o que resta de um velho moinho de cubo construído em 1715, no mesmo local das Regadas, próximo da ribeira que o abastecia. De lá, seguimos para o almoço no Centro de Juventude da ACDR, onde fomos, de novo, muito bem alimentados e tratados com muita simpatia pelo pessoal de serviço e pelos dirigentes e voluntários que ali trabalham.

    Finda a refeição, retomamos os trabalhos, agora com a visita ao sítio arqueológico do Castelo Velho. O trajecto, de poucos quilómetros, levou-nos a um vasto planalto de onde se avista toda a região de Foz Côa e onde foram postos a descoberto em sucessivas escavações os restos do que terá sido um povoado das idades do cobre e do bronze, dos III e II milénios a.C.

    Próximo do local foi construída uma torre miradouro que permite observar o conjunto completo e a sua forma circular. A localização deste conjunto arqueológico num local elevado e muito exposto aos ventos, bem como a sua forma peculiar, sugere que este lugar terá tido funções de culto, e não de habitação permanente, no dizer do nosso guia habitual.

    Terminada esta visita, dirigimo-nos de novo para Freixo e fomos visitar o Museu da Casa Grande. Trata-se de um espaço museológico instalado num belo solar barroco da segunda metade do século XVIII que reúne diversos conjuntos muito interessantes de arqueologia e etnografia, bem como materiais diversos da idade do ferro recolhidos na região, que se encontram em fase de estudo. Depois do museu, fizemos um passeio pelo centro histórico da povoação, apreciando as suas casas de granito, a igreja matriz, medieval, embora com diversas reconstruções, e um belo e imponente pelourinho com inscrições implantado no largo fronteiro à matriz, onde fizemos a foto de família. No final do passeio, divertimo-nos com os jogos tradicionais da “raiola” e do “cântaro de barro”.

    O primeiro destes jogos, consiste em lançar moedas para cima de um caixote de modo a que fiquem próximas de uma linha aí traçada, o que não é tão fácil como parecia, podem crer. No segundo jogo, atira-se o cântaro de mão em mão, de perto ou de longe, esperando que o destinatário o deixe cair, que aí acaba o jogo. Quem deixar quebrar o cântaro, terá de pagar o dito e o vinho aos demais. Foram momentos bem divertidos, mas breves, que o cântaro tinha pouco apego à vida, coitado.

    Ao fim da tarde, nova passagem pelo Centro de Juventude da ACDR de Freixo de Numão, onde nos serviram uma merenda ajantarada com petiscos saborosos para aguentar a viagem. Depois, foram as despedidas e o regresso a Ermesinde, onde chegámos cerca das onze e meia, cansados por todo o trabalho a que nos obrigaram, mas muito satisfeitos e mais ricos por termos conhecido de perto aquela bela região, a sua história e as suas gentes.

    Por: Arménio Oliveira

     

     

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