Concerto “Vozes de Coimbra”
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Fotos URSULA ZANGGER |
Organizado pela Associação Cultural ÁgorArte, decorreu na passada sexta-feira, dia 14 de Setembro, na sala de espectáculos do Fórum Cultural de Ermesinde, o concerto “Vozes de Coimbra”, em que participaram o Grupo Serenata de Coimbra – composto por Alcindo Costa, Tito Costa Santos e Barros Ferreira (vozes), Alexandre Bateiras e Serrano Baptista (guitarra) e João Gomes (viola), aos quais se juntou a voz de Ricardo Machado, curiosamente um ermesindense – mas já lá vamos –, e o recentemente formado grupo Sons de Sempre, constituído por Emídio Portugal e Julião Santos (vozes), Rocha Ferreira (guitarra) e Manuel Valdrez (viola).
A entrada era livre, embora sujeita a reserva, situação que acabou por originar algum atraso no início do concerto, dada a afluência de público que esgotou largamente a sala, provocando a disputa de lugares.
Previsto para estar presente, Luís Goes, devido a questões de saúde do seu sogro, não pôde deslocar-se a Ermesinde, tendo sido contudo um momento alto do espectáculo, ouvir-se, com o telemóvel junto do microfone, Tito Costa Santos a conversar com ele, que pediu desculpa ao público pela sua ausência, e que recebeu de volta uma trovoada de simpatia e aplausos.
No início do concerto, o presidente da Direcção da Ágorarte, Carlos José Faria, abordou precisamente a questão da lotação do espectáculo, com a sala a não poder, por motivos e exigências de segurança, encher--se por completo e, fazendo a evocação dos locais míticos de Coimbra, consagrados nos seus fados, citar António de Almeida Santos (ex-presidente da AR) e José Miguel Júdice.
De seguida, deu-se início ao espectáculo, com António Sousa a declamar um poema de Manuel Alegre, dedicado à guitarra.
Seguiu-se o grupo Sons de Sempre, que além de alguns fados de Coimbra (entre eles a “Balada de Outono”, de Zeca Afonso), interpretou vários temas de Carlos Paredes. Emídio Portugal foi apresentando os temas, num registo zombeteiro.
Após um intervalo, foi a vez do grupo Serenata de Coimbra que interpretou diversos clássicos de Coimbra (“Balada ao Crepúsculo”, “Canção com Lágrimas”, “Fado dos Olhos Claros”, Fado da Despedida” - de Luís Goes, curiosamente) e mesmo alguns temas de Francisco Vasconcelos (ex-membro do grupo Serenata de Coimbra afastado por razões de saúde, no texto, e do próprio Barros Ferreira, que os cantou, na música).
Tito Costa Santos foi o cicerone da Serenata de Coimbra (um grupo sediado em Lisboa), adoptando um registo intimista e caloroso.
Curiosamente contou como Ricardo Machado apareceu ali a cantar. Tendo-o ouvido num espectáculo em Engenharia, onde é estudante, e tendo gostado de o ouvir, Tito Costa Santos perguntou-lhe se não gostaria de os acompanhar ao Porto, pois em breve viriam dar um concerto ao Fórum Cultural de Ermesinde. O jovem, de longe o mais novo de todos os elementos que cantaram na Serenata, aceitou, tanto mais que, coincidência das coincidências, era de Ermesinde!
O concerto, belíssimo no que tem de diferente e especial o fado de Coimbra, agradou a todo o público presente que, no final, cantou em coro “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”.
A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.
Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).
Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.
Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.
Poema de: Manuel Alegre
Por:
LC
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