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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 20-09-2007

    SECÇÃO: Cultura


    d a s • a r t e s • e • d a s • l e t r a s

    NÓS ATADOS NAS PONTAS DOS FIOS DE LÃ...

    Os fios de lã caem pela cadeira e tocam o chão dos teus cabelos. Os nós feitos nas pontinhas atam os pulsos de pessoas que correm o risco de se perder no caminho de casa. Os nós dados no meio do fio atam folhas escritas com letras insanas. O novelo é espetado por agulhas, mas respira tranquilo e olha as pessoas que o rolam pelo chão. Fios que perfazem metros de chão e de ar, estendidos e puxados ao máximo da elasticidade.

    O novelo constrói-se e descontrói-se e perde a forma, ganha a forma, mantém-se o mesmo na sua quantidade.

    As pontinhas do fio que saíam do novelo de lã, foram atadas aos teus pulsos, para nunca te perderes de mim. E atrás de nós forma-se um rasto sem fim que se prolonga como se fosse a tua sombra em pequenos fios de várias cores. Na mão eu carrego os novelos que se desenrolam e quando um acaba ato novos laços que se prolongam.

    Por: Daniela Ramalho

    PERDI A MINHA GALINHA DOS OVOS DE OURO

    Ontem, perdi a minha galinha dos ovos de ouro. Devia ficar orgulhoso por esta dependência ter terminado, mas sinto algo preso na garganta, uma angústia como aquela que sentia sempre no último dia de aulas de um ano lectivo no secundário. Ontem consegui o canudo, por isso já não tenho mais desculpas para usar a galinha dos ovos de ouro. Já não posso justificar aquela procura rotineira, perdi-a mesmo. Para além disso, ela está a ficar velha e cansada, pelo que é a minha obrigação ajudá-la, tentando retribuir-lhe a insubstituível utilidade que teve para mim. Mas falta-me coragem de parar de receber aquele ovo certo. Era tão mais cómodo e fácil quando simplesmente lhe dizia: “Põe!” e a galinha torcia a cara com esforço de pôr o ovo. Depois era só recolhê-lo e desfrutar. Mais nada. Nunca pensei que a galinha sofresse para me dar tudo e me fazer sorrir, na palermice da posse.

    Agora sei o que ela sentia, porque agora fui obrigado a fazer o trabalho que lhe pertencia – agora tenho de pôr o meu próprio ovo. Também torcerei a cara esforçada perante cada ovo que ponha, e também serei eu a galinha dos meus descendentes.

    Parece que não tenho alternativa. As galinhas do passado geraram um ciclo que não sou capaz de quebrar. Oh, não! Estou atrasado para o chocar do meu ovo diário! E logo no primeiro dia!

    Por: Ana Pedro

     

     

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