Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 30-07-2007

    SECÇÃO: Tecnologias


    Quem ganha com padrões abertos?*

    Padrões são fundamentais na vida social e económica. Parafusos, lâmpadas, fios, tubos, torneiras, entre tantos outros exemplos, seguem padrões. A sociedade da informação talvez seja ainda mais dependente de padrões. A própria Internet segue um conjunto de padrões, consolidados em protocolos de comunicação. Tais protocolos contêm regras de comunicação que permitem o entendimento entre redes privadas bem diferentes.

    Quando padronizamos um produto, em geral, estamos a beneficiar a sociedade. Primeiro, passamos a definir a qualidade mínima e os elementos essenciais que um determinado produto deve possuir. Segundo, um padrão permite que exista concorrência entre várias empresas que podem produzir ou prestar serviços respeitando determinações de qualidade e garantindo a compatibilidade de produtos feitos por diferentes companhias.

    A teoria económica permite-nos compreender que existem padrões de facto e de direito. Em muitos segmentos económicos, os monopólios acabam por impor os seus produtos e eles tornam-se verdadeiros padrões do mercado. Noutros casos, os concorrentes unem-se para definir normas para a produção ou desenvolvimento de determinados produtos e serviços. Neste caso temos um padrão de direito. Em muitos casos, os Governos acabam por definir normas para realizar as suas compras, que acabam por induzir as empresas a assumirem estas exigências como um padrão a ser seguido.

    Os economistas Carl Shapiro e Hal Varian, no livro “A Economia da Informação”, deixam claro que, muitas vezes, o futuro do mercado e a sobrevivência das empresas dependem dos padrões adoptados. Isto levou-os a estudar o que eles denominaram de guerra dos padrões, ou seja, principalmente na economia de redes, as empresas tentam impor o formato, o modelo e as características de seus produtos como a regra básica daquele segmento. É muito conhecida a história das bitolas dos caminhos de ferro no final do século XIX. Dependendo da largura da bitola adoptada poder-se-ia beneficiar determinadas redes em detrimento de outras e prejudicar-se-iam fabricantes que faziam vagões para a bitola que fosse considerada “fora do padrão”.

    Nesse sentido, os padrões não são neutros. A sua definição pode permitir a ampliação da competição ou pode reforçar os monopólios, pode ajudar a reduzir as barreiras de entrada no mercado ou aumentá-las, pode incentivar ou bloquear o ritmo das inovações e invenções. É possível obter qualidade técnica com padrões abertos e fechados, ou seja, padrões que são controlados por uma única empresa ou por um grupo fechado de empresas. Todavia, padrões fechados são anti-concorrenciais e tendem a elevar os custos económicos para os seus consumidores.

    O economista Joseph Stiglitz, Prémio Nobel de Economia em 2001, e Jason Furman, professor de Economia da Yale University, escreveram no final de 2002, um texto advogando que o monopólio diminui o ritmo das inovações de quatro maneiras. A primeira é a do aumento dos custos da inovação, causada pelo poder monopolista, uma vez que a principal matéria--prima das inovações são os conhecimentos sobre as inovações anteriores, o monopólio consegue bloquear o livre fluxo dos saberes. «E quando se aumenta o custo de um insumo numa actividade, o nível desta actividade cai».

    A segunda está ligada às barreiras de entrada num campo de negócios. Com a sua elevação os incentivos para inovar diminuem. Além disso, os economistas perceberam que em casos extremos, «se um monopólio se assegurar de que não há ameaça de competição, ele não investirá em inovações». A terceira maneira está vinculada à ideia de que o monopólio busca impedir a interoperabilidade real de seus produtos com outros possíveis concorrentes. Assim, a sua tendência é a de tentar matar toda a inovação fora do seu controlo e que seja considerada perigosa a manutenção de seu monopólio. A quarta relaciona-se com os incentivos que um monopólio tem para inovar. «Como o monopolista produz menos que o socialmente óptimo, as economias com uma redução no custo de produção são menores do que num mercado competitivo. Também os incentivos para um monopolista patrocinar pesquisas não as levarão ao nível socialmente eficiente. Preferencialmente a sua preocupação é inovar apenas no ritmo necessário para afastar a competição, um ritmo marcadamente menor que o socialmente óptimo».

    Por essas razões, se pudermos optar entre um padrão aberto e fechado, devemos obviamente escolher o padrão que melhor garanta a concorrência e a competição. Padrões compostos de elementos patenteados e controlados por um único fornecedor devem ser evitados. Quem beneficia de padrões abertos? Os consumidores, que poderão ter vários fornecedores competindo. Sabemos que quando existe a competição, os preços tendem a ser menores e a qualidade maior. Por isso, os organismos de padronização devem ter todo o rigor para analisar propostas de padrões que trazem definições e modelos que estão sob o controlo de monopólios. Os padrões devem ser públicos e abertos, devem incentivar a criatividade e a concorrência, isto beneficiará os consumidores. Como alegam os professores Stiglitz e Furman, «a monopolização não ameaça os consumidores apenas pelo aumento dos preços e pela redução da produção, mas também reduz a inovação no longo prazo».

    Por: SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA

    * NOTA DA EDIÇÃO: Este artigo foi publicado no jornal brasileiro “Gazeta Mercantil”, página 3, de segunda-feira, dia 25 de Junho de 2007. Nele defende-se que padrões fechados e baseados em patentes são nocivos aos consumidores e à inovação.

    Adaptação para a norma de Portugal do jornal “A Voz de Ermesinde”.

     

    Outras Notícias

    · Memória do Rato

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].