XIV FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO
Humilde homem de Letras
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Fotos MANUEL VALDREZ |
Pela mão da Ágorarte o escritor Papiniano Carlos deslocou-se a 10 de Julho último à Feira do Livro do Concelho de Valongo onde deu a conhecer o seu mais recente trabalho, intitulado "O Cavalo das Sete Cores", editado pela Arca das Letras.
Mais do que uma mera e formal apresentação de um livro, a visita do escritor a Ermesinde serviu sobretudo para que os ermesindenses – em especial os mais novos, já que a maioria da assistência era composta por gente jovem – ficassem a conhecer de uma forma mais aprofundada um homem portador de uma personalidade invulgar. “Génio” foi a palavra empregue pelo jornalista e editor da Arca das Letras, Soares Novais, aquando da apresentação desta figura do mundo literário que se encontrava ao seu lado. «Ele é um dos maiores escritores da segunda metade do século XX. É uma pessoa humilde, não gosta de se pôr em "bicos de pé" como acontece com outros escritores que, na verdade, não valem metade do que ele vale».
Elogiosas foram igualmente as palavras do presidente da Direcção da Ágorarte Carlos José Faria, que recordou um dos muitos episódios da vida do escritor, no qual é bem vincado o seu inconformismo perante todos aqueles ideais que atentem contra a integridade mental do ser humano, por assim dizer. O dito episódio ocorreu na altura em que Papiniano Carlos terminou o curso de Ciências Físico-Químicas, não tendo, no entanto, completado o estágio como professor, uma vez que se recusou a assinar uma declaração em como não perfilhava ideais comunistas. Um episódio que marca bem a vertente de Papiniano enquanto anti-fascista activo e que lhe valeu inúmeras represálias da parte do Estado Novo.
Mais histórias dos gélidos tempos do Estado Novo foram contadas pelo também jornalista e escritor César Príncipe, que, entre outras, lembrou o dia em que o livro de Papiniano "Canto da Fraternidade" foi apreendido ainda na tipografia pela Pide. «Este livro originou que o Salazar escrevesse pelo próprio punho uma carta – ameaçadora – ao Papiniano, onde vincava bem o ódio e o medo que o seu regime impunha ao povo. Que honra!», gracejou César Príncipe, também ele um anti-fascista assumido, como, aliás, deu para perceber durante a maior parte do seu discurso.
Para além da faceta de Papiniano enquanto cidadão, foram ainda recordadas – ou dadas a conhecer aos mais novos – algumas das suas inúmeras obras que marcaram, e continuam a marcar, a literatura portuguesa. "Esboço" foi uma delas, um livro editado em 1942, sendo esta, aliás, a sua primeira obra, e tendo desde então publicado livros de poesia, dramaturgia e ficção.
Momento alto da tarde foi quando o próprio Papiniano tomou a palavra, não para fazer um discurso exaustivo sobre o seu mais recente trabalho – como acontece, na maior parte das ocasiões, quando um autor apresenta a sua obra – mas simplesmente para ler um dos seus poemas, mais precisamente "Viagem". E caros leitores, este foi um momento histórico, pois foi a primeira vez que este escritor de 88 anos de idade leu um poema da sua autoria em público! A cidade de Ermesinde foi brindada com esse privilégio.
Sobre a última criação do escritor, "O Cavalo das Sete Cores", os apresentadores do livro caracterizaram-na como um «arco-íris transformado num cavalo. Um belo poema que é um jogo de cores!».
Álvaro Mendonça, da Oficina das Letras da Ágorarte, leu então alguns poemas da nova obra deste humilde homem das Letras.
Por:
Miguel Barros
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