Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 30-04-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-06-2007

    SECÇÃO: Cultura


    das artes e das letras

    As veias dela sabem a amor

    As veias dela sabem a amor. Todas elas sabem. As veias das mãos, as veias dos lábios, as veias das pernas, da barriga, as veias dos olhos, as veias das pálpebras. Das veias até às mais pequenas vénulas, todas elas sabem a amor. O amor nas veias dela é uma coisa doce. Há muito amor por aí a correr nas veias, amor pequenino, amor grande…mas o mais difícil é ter amor doce…muito do amor que por aí anda tem um trago amargo, ou é amargo. Mas doce, é difícil. As pessoas são como os mosquitos, gostam de sangue doce. Elas vêm ter ao cheiro do sangue dela, e alimentam-se dele abundantemente. Cortam-lhe as veias, e sugam-lhe o sangue. Cortam-lhe até as veias mais pequenas até o sangue sair em pequenos jactos. O sangue cobre o rosto das pessoas. E elas parecem animais, com dentes aguçados, e olhos grandes, de pupilas dilatadas, que só vêem vermelho, e só querem o vermelho do sangue e o doce do seu sabor. As veias rasgam por entre dentes afiados demais. Têm sede de amor, e apesar de eles lhe comerem as veias, o amor dela cobre-os. O amor dela enche os dentes deles, o amor dela enche os cabelos deles, o amor dela enche as mãos deles, o amor dela enche os lábios deles, e o chão, e o ar, e as coisas. O amor dela está em todo lado, e todo o lado é amor vermelho e vivo. As veias dela sabem a amor. As deles sabem a amor corrompido, é ódio que nos come as entranhas e nos vomita na cara. E eles são todos amor amargo e feio, disforme e que luta por ser belo. Mas nunca vai ser…

    O sangue dela desaparece-lhe. O seu rosto é tão branco e tão doce. Eles já foram, e deixaram-na pálida no chão. O sangue esgotou-se, mas as partículas ainda flutuam no ar, dourando o que resta do nada, dizendo que são amor ao ar, quando só há o vazio e o silêncio da morte.

    As veias dela sabiam a amor, agora sabem a coisas ruins.

    Por: Sofia Nunes

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].