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    Arquivo: Edição de 30-05-2007

    SECÇÃO: Cultura


    AVE Jovem

    Gota de Amor

    das artes e das letras

    Olho-me debaixo da pele, e sei que por ti sou amor. Talvez nem precise de me olhar por dentro, para saber isso. E tenho a certeza que tu também não precisas de me olhar dentro para saber que por ti sou amor. Pelas pessoas que me rodeiam, sou apenas um espectro, um monte de carne, um monte de ossos frágeis, que partem a cada fracção de segundo que não me estás, um monte de músculo dorido, de correr para nos alcançar. Um monte de veias gastas que palpitam amor, um monte tendões, que agarram pedaços de ti, um monte de tudo e nada, um monte de nada que vive para o seu tudo. Amor, por ti sou eterna. Por ti engano a morte e escondo-me dela, numa brincadeira incessante e louca de amor. Por ti engano-me até à miséria de existir e ser gente. Por ti não deixo a cabeça cansada pousar nos lençóis. Por ti, eu amo-me, e se me pedires posso amar toda a gente que me corta as veias. Por ti sou amor, e por ti sei que os nossos passos vão persistir como marcas fundas no ar, e por mais que o vento as tente apagar, com o seu sopro desgraçado, elas vão estar lá. Quando tivermos mil anos vão estar lá, e quando tivermos mais uns mil elas também vão estar lá. Porque o chão e o ar vai sempre lembrar que por debaixo da minha pele existem palavras que me cortam a garganta por não saírem de lá, mas por saírem através dos meus dedos, que percorrem o teu corpo. E em cada retalho da tua pele, a palavra amor vai surgir como uma tatuagem. Não a consegues apagar, nunca conseguirás apagar as palavras, mesmo que não as queiras, porque as minhas palavras vão sempre arder por ti, vão sempre amar cada pedaço do que tu és, e cada pedaço do que tens para me dar. Mesmo que não me dês o que és, eu vou ter-te, porque a mim basta-me o que és por fora…o que és por fora, é o que amo, e o que és por debaixo da pele, é algo que venero.

    Ah amor! Quase que sufoco neste ar. O que eu inspiro é ar, mas o que expiro é amor…sufoco com as gotas de amor que se vão juntando e juntando e juntando, e que formam uma enorme gota límpida e bonita. E tu a meu lado, carregas a gota imensa com os dois braços, e pousa-la no chão e atira-la para o ar. Esse é o meu amor…estou vazia por dentro…esse é o meu amor…protege-o. Com a tua inocência, pensas que a gota é só ar, nem sabes, nem vês…é amor puro, meu amor…eu penso que sei que tu sabes que eu sou amor por ti, mas não sei se tu sabes que todo o meu amor é teu…

    Parece que o tempo se fecha sobre nós, como se fossem multidões a engolir corpos parados. E tudo parece tão parado que nem parece tempo, e tudo parece tão só que não parece nada que as horas passam por entre suspiros que cortam o ponteiro dos segundos. Parece tudo tão gritante, que o meu corpo parece gritar, sem as cordas vocais se mexerem. O agudo dos gritos parte o vidro do relógio, e o corpo bate contra o vazio, contra algo que não sabe onde anda. Parece que o tempo se fecha sobre nós, e eu fecho-me sobre mim, na esperança de não o ver passar. Fico parada e estendida no chão, vê-lo passar devagar, lançando os seus olhos de maldição… ele nunca vai parar e dizer que parou. Vamos ficar sempre nós parados e estendidos no chão, mais um vez e para sempre. Apetece-me gritar e ser o tempo. E eu nunca deixaria o tempo passar… iria deixar sempre o tempo na idade da inocência e do amor.

    Por: Sofia Nunes

     

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