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    Arquivo: Edição de 30-04-2007

    SECÇÃO: Cultura


    Rodrigo Guedes de Carvalho falou da sua vida e obra em Ermesinde

    O Fórum Cultural de Ermesinde recebeu no passado dia 27 de Abril a visita do prestigiado jornalista e escritor Rodrigo Guedes de Carvalho.

    Visita essa enquadrada na actividade de extensão cultural da Biblioteca Municipal de Valongo, intitulada de “Os Escritores Visitam a Biblioteca”. A recebê-lo calorosamente esteve uma plateia composta maioritariamente por estudantes do ensino secundário de algumas escolas do concelho, que ouviu atentamente a conferência proferida pelo ilustre convidado que seria preenchida precisamente por factos do seu trajecto nestas duas áreas onde se tornou num profissional de eleição.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Foi sob uma enorme chuva de aplausos que Rodrigues Guedes de Carvalho foi recebido pela jovem assistência que lotou a Casa de Espectáculos do Fórum Cultural de Ermesinde, ficando desde logo vincada a enorme popularidade que o jornalista/escritor goza junto da população juvenil da nossa cidade. Rasgados elogios ao convidado foram tecidos pelos presidente da Câmara Municipal de Valongo, Fernando Melo, que o classificou como um jornalista e escritor de alto gabarito. Perante tão calorosa e elogiosa recepção Rodrigo Guedes de Carvalho, em tom de gracejo, comentou que «o que seria se eu fosse um actor da telenovela juvenil Morangos com Açúcar?!».

    Seguidamente expressaria o seu gosto pelo diálogo, um prazer que cada vez mais lhe vai sendo difícil de concretizar, pelo facto de passar muito tempo fechado num estúdio de televisão a trabalhar, e de não ter a oportunidade de se deslocar a muitos locais para conversar. «Por isso, sempre que tenho oportunidade de sair da minha rotina diária aproveito para dialogar, pois para mim esta é sempre a parte mais interessante num encontro como o de hoje». Posteriormente falou do seu percurso, quer enquanto escritor quer como jornalista. Confidenciaria então que a escrita foi a sua primeira grande paixão, a qual adveio do facto de sempre ter sido um leitor compulsivo. «Eu escrevi o meu primeiro romance (intitulado “Daqui a Nada”) quando terminei o 12º Ano. Fi-lo por um prazer, para obedecer a um apelo que tinha dentro de mim». Sobre a temática, se assim podemos dizer, do gosto pela leitura, Rodrigo Guedes de Carvalho deu um conselho quer aos pais quer aos professores de Português que se encontravam na sala, dizendo que não vale a pena forçar alguém que não goste de ler a fazê-lo, «o gosto pela leitura é algo que já nasce com a pessoa, não se aprende, nem se pode forçar alguém a fazê--lo. Se não existir prazer na leitura não adianta ler um livro». Ficou o conselho. Falou na angústia que sentiu após ter escrito o primeiro livro, «e agora, o que faço? Sou da opinião de que quando se escreve um livro temos de o libertar para o mundo, não o podemos fechar dentro de uma gaveta. Dei-o então a ler aos meus familiares, que o acharam maravilhoso. No entanto, este medo e angústia paralisaram-me. Escrevi esse livro com 19 anos, mas só o libertei para o mundo... 9 anos depois».

    JORNALISMO...

    A SEGUNDA PAIXÃO

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    E depois da escrita veio o jornalismo. Uma – outra – paixão que surgiu na vida de Rodrigo Guedes de Carvalho na altura da sua candidatura ao ensino superior. Uma paixão que apareceu um pouco por acaso, pois «estava inclinado a seguir Direito, que era o curso da moda na altura. À última da hora, no acto da inscrição, deparei-me com a existência de um curso novo, do qual nunca tinha ouvido falar, o de Comunicação Social. Resolvi inscrever-me. Além de ser novo, o curso tinha o aliciante de ser em Lisboa, e eu, um jovem de 19 anos, tinha a ambição de conhecer um mundo novo, um mundo maior, pois não podemos esquecer que Lisboa é maior do que o Porto (a cidade de onde Rodrigo Guedes de Carvalho é natural). O jornalismo entrou assim na minha vida por acaso. Foi o meu segundo amor».

    No entanto, o curso foi algo de que Rodrigo Guedes de Carvalho não tirou grandes proveitos para desempenhar a profissão de jornalista. Isto porque o curso foi ministrado por historiadores, filósofos, etc., que ensinaram tudo – de acordo com as suas áreas – menos... jornalismo. «O curso acabou por ser, sobretudo, um enorme banho de cultura, algo que me enriqueceu bastante», referiu. E a grande escola de jornalismo, onde se formou verdadeiramente, por assim dizer, acabou por ser a RTP, estação onde deu início à sua carreira. Lá, aprendeu todos os “truques e segredos” da profissão. Depois da RTP apareceu a SIC, uma saída que muita gente, na altura, considerou arriscada, já que poucos auguravam um futuro risonho ao canal de Carnaxide, além de que um emprego na estação pública, debaixo da “custódia” do Estado, era estável e o dinheiro “caía” certinho ao fim do mês. Mesmo sabendo de tudo isto Rodrigo Guedes de Carvalho resolveu aceitar o convite de SIC e o resto é o que hoje se sabe em relação ao seu peso e prestígio dentro desta estação de televisão.

    E em relação à “caixinha mágica” opinou que nos dias de hoje há muito boa gente que tem uma visão redutora em relação ao “mundo da TV”. «Pensam que é tudo igual. Mas não é bem assim, eu por exemplo sou colega dos jornalistas do “Expresso”, do “Público”, do “Diário de Notícias”, entre outros órgãos de comunicação, mas não me considero colega do Marco do Big Brother, por muito respeito que tenha por ele, que também escreve para jornais e já foi figura de cartaz em muitos programas de televisão», frisou numa clara alusão de que nem tudo o que aparece, ou é feito, na televisão, está incluído no denominado “tele--lixo”. Abordou ainda o período em que voltou a reencontrar o seu primeiro amor, a escrita, o qual ocorreu entre a saída da RTP e a entrada na SIC. Uma altura em que recomeçou então a escrever, mais precisamente para cinema, a pedido do seu irmão, uma figura ligada à sétima arte, tendo então sido autor de guiões de filmes como “Alta Fidelidade” e “Coisa Ruim”. Passagem pelo cinema que foi, no entanto, curta, até porque o que sempre gostou – e gosta mesmo – de escrever são romances. A sua obra mais recente dá pelo nome de “Mulher em Branco”, editada em 2006.

    «NÃO SE DEIXEM “FORMATAR”»

    A terminar a sua conferência, Rodrigo Guedes de Carvalho deixou um conselho à vasta plateia de jovens que esteve no recinto cultural ermesindense: «Não se deixem “formatar”. Não se conformem com tudo aquilo que vos dizem. Discordem de tudo, de todos, das realidades que vos são apresentadas, pois nem sempre as mesmas correspondem... à realidade». Neste ponto usaria ainda uma expressão utilizada pelo Presidente da República, Cavaco Silva, durante o seu discurso alusivo às comemorações (recentes) do 25 de Abril, pedindo aos jovens para nunca se resignarem com o que quer que seja.

    O momento mais aguardado por Rodrigo Guedes de Carvalho nesta sua visita a Ermesinde, o do diálogo com a plateia, não se viria a concretizar devido a uma longa falha de energia que colocou o Fórum Cultural de Ermesinde às escuras. Mesmo assim, este motivo não livrou o escritor e jornalista de ser “assaltado” por uma autêntica multidão de “caça-autógrafos”, tendo este, de uma forma simpática, atendido a todos aqueles que de livro em mão, ou um simples papel, lhe solicitavam um autógrafo.

    De Ermesinde Rodrigo Guedes de Carvalho partiu em direcção a Valongo, mais concretamente para a Biblioteca Municipal, onde assinou o Livro de Honra daquele espaço, como forma de assinalar a sua passagem pelo nosso concelho.

    Por: Miguel Barros

     

     

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