Nos 20 anos da morte de José Afonso
Não quer “A Voz de Ermesinde” deixar passar em branco sem umas breves palavras, a passagem dos 20 anos – a 23 de Fevereiro –da morte do poeta e cantor José Afonso.
Nascido a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, partiu com três anos e meio para Angola, onde vive cerca de três anos e inicia a sua instrução primária. Regressado brevemente a Aveiro, parte para Moçambique em 1937, mas volta, no ano seguinte, a Portugal. Em 1940 vai para Coimbra prosseguir os estudos. É aí que se encontra com a tradição musical de Coimbra, que há-de vir a desenvolver e renovar de forma genial.
Quebrando uma tradição de não intervir directamente no seu fórum online, “A Voz de Ermesinde” decidiu tomar aí a palavra e desafiar os leitores a pronunciarem-se sobre a figura singular do poeta e cantor.
José Afonso nunca foi um homem do espectáculo. Esteve sempre acima. Mas a ele (ao Zeca) não se reconhece apenas o génio musical que indubitavelmente foi, a qualidade poética dos seus textos, a sua voz quente e arrebatadora, a sua dimensão enquanto cantautor mundialmente reconhecido, a sua intervenção apaixonada e permanente pelos valores da fraternidade e utopia, que o fez perseguido no Portugal antes de Abril e mesmo mal-amado nos tempos que lhe sucederam. Todos aqueles que o conheceram de perto lhe reconheceram uma solidariedade sem limites, uma disponibilidade imensa, uma ética sempre exigente para consigo e para com os outros. E tornou-se – genuinamente – um símbolo que perdurará na memória de todos.
“A Voz de Ermesinde” gostaria de ouvir, dos mais velhos aos mais novos dos nossos leitores, que memória, que sentimento, que ideias lhes provoca a figura ímpar de José Afonso.
UTOPIA
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves
lança o teu
desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
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