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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 10-12-2006

    SECÇÃO: Destaque


    Contributo para um Projecto de Educação para Portugal (2)

    “A Voz de Ermesinde” prossegue, neste número, a publicação de contribuições para o Debate Nacional sobre Educação, estando aberta ao envio por parte dos leitores, de reflexões que se enquadrem nesta temática.

    Concluímos agora a comunicação de Rui Manuel Ávila Rosa, professor na ilha da Madeira.

    (continuação)

    Mais tempo na Escola não significa, mais sucesso! Mais aulas de Matemática, nos mesmos moldes das que já existem…não significa mais sucesso! Acredito que para a maioria dos pais que trabalham aplaudem estas medidas avulsas. Eu também sou pai e cá na Madeira a Escola a Tempo Inteiro é uma realidade. Dá jeito…mas não podemos tomar medidas porque dá jeito à maioria da população! O grande objectivo deverá ser sempre o sucesso educativo!

    Nunca esquecer as fontes de informação a que os nossos alunos e filhos estão sujeitos nos dias de hoje. A minha filha, no 1º ano, apenas participa nas actividades curriculares e nalgumas actividades extracurriculares. Ela, sabe e sabe fazer, hoje, coisas que eu com 12 anos, nunca o conseguiria! Os nossos alunos não são “tábuas rasas”, hoje mais do que nunca! A sua capacidade de memorização está posta à prova com tantas fontes de informação, desde que nascem. A Escola tem de aproveitar o que os alunos já sabem e não sobrecarregar essa capacidade! Segundo Augusto Cury, num dos seus livros sobre a “Análise da Inteligência de Cristo”: «Em cada dez anos, as informações duplicam». (...) «As crianças estão com excesso de actividades, não têm tempo para brincar. Uma criança de sete anos tem mais informações que uma pessoa idosa de setenta anos de cultura média. Uma memória abarrotada com informações, frequentemente pouco úteis, gera uma hiperaceleração de pensamentos e, consequentemente, a síndrome SPA. Por isso, elas são inquietas e agitadas nas aulas. Também, por isso, é difícil entrar no seu mundo e influenciá-las. Elas acham que entendem tudo, mas têm pouquíssima experiência de vida. Confundem informações com experiências».

    Urge rentabilizar, sem falta, os espaços de aprendizagem já existentes, não sobrecarregando mais o aluno! Uma criança precisa de brincar e de sonhar, para aprender e aprender a aprender com motivação e gosto!

    Apesar de ter tido esperança que este Governo seria o início de uma nova era, infelizmente, essa esperança desvaneceu-se com um ano de governação.

    6. REFORMULAÇÃO

    DOS PROGRAMAS

    Era fácil, antes do 25 de Abril, convencer um aluno a memorizar por exemplo, as “linhas de caminhos de ferro de Portugal”. Meu pai, açoriano, muitas vezes perguntava a si mesmo, “aqui nos Açores para que me importa saber estas linhas?”. A verdade é que o seu sucesso dependia desta memorização. Por um lado as pessoas e os alunos não tinham acesso à informação, não estando o seu “disco rígido”(memória) sobrecarregado, por outro a censura “castrava” o espírito crítico.

    Os programas curriculares, ainda continuam com muitos exemplos tipo “linhas de caminhos-de-ferro”. Existem conteúdos, completamente desajustados às necessidades dos cidadãos que estamos a formar…, mas uma mudança profunda não está nas mãos das escolas.

    Por outro lado, além de programas desajustados, temos programas baseados num conhecimento em espiral de memorização! Os programas estão estruturados de forma a haver uma repetição de informação ano após ano, acrescentando-se mais uns pozinhos, para que o aluno relembre o que já havia memorizado. Os programas estão ainda ajustados ao Ensino Tradicional do Estado Novo. Assim, temos programas extensíssimos e repetitivos, sem qualquer hipótese de serem cumpridos, quando privilegiamos a pedagogia por competências (o “saber em acção”), aprender a fazer, aprender a aprender. Os professores são “obrigados” a “dar” aulas expositivas, para cumprir o programa, para que a sua imagem e a imagem da sua escola não seja posta em causa com a divulgação de um exame nacional!!! Embora muitos professores tenham uma boa formação pedagógica, acabam por aplicar práticas que de pedagógicas não têm nada. As aulas expositivas são a solução.

    Esta repetição de informação nos programas, ano após ano, é a prova de que os alunos não aprendem, pois quem aprende fazendo, não esquece! A nossa memória só funciona com a experiência e a experimentação! Faço-lhe uma pergunta: se fizesse um exame a todas as disciplinas que teve até ao Ensino Secundário, acha que teria positiva a todas as disciplinas???? Penso que o seguinte provérbio chinês, é um excelente exemplo do que se deve fazer em Educação: «Diz-me e eu esquecerei. Ensina-me e eu lembrar-me-ei. Envolve-me e eu aprenderei».

    É impressionante ver quase todos os professores a dizer que não é possível cumprir o programa!!! Os conteúdos repetem-se, num currículo que se quer em “espiral” de recurso a memória dos alunos. Façam uma análise à quantidade de conteúdos que se repetem ano após ano!!! A verdade é que por mais que se repita, os alunos acabam por esquecer! Acredite que com 16 disciplinas e áreas curriculares não disciplinares num 7º Ano, é difícil ser-se competente!!!

    É urgente iniciar uma reflexão a nível nacional, em todas as escolas sobre o desajustamento dos currículos à formação que pretendemos para a vida futura dos nossos alunos, baseado no saber fazer e na competência dos nossos alunos. É importante reflectir sobre o que é essencial e o que é acessório. É importante ajustar os currículos à faixa etária dos alunos de cada ano de escolaridade. É importante haver um currículo nacional, com uma lógica que não se baseie apenas em currículos repetitivos de ano para ano. Há que encurtar os programas de cada ano e disciplina do Ensino Básico, fazendo uma gestão de nove anos de escolaridade de forma a evitar as sucessivas repetições de conteúdos!

    A verdade, é que o que se verifica é que os nossos alunos nem sabem, nem sabem fazer. Não é por acaso que somos sempre dos últimos em estudos comparativos com outros países.

      

    7. DIMINUIÇÃO

    DO N.º DE ALUNOS

    POR TURMA

    Atendendo a tudo o que já foi dito, não é possível aplicar aulas essencialmente práticas e de aprendizagem a partir da descoberta com turmas com mais de 20 alunos. No Ensino Básico, uma turma nunca deveria exceder este número.

     

    8.INVESTIMENTO

    NO PARQUE ESCOLAR

    DE FORMA A QUE

    AS ESCOLAS

    NÃO TENHAM MAIS

    DE 500 ALUNOS

    Penso que a longo prazo, era possível planear o aumento do Parque Escolar de forma a que cada Escola não ultrapassasse os 500 alunos. As relações pessoais melhoram consideravelmente, e acredite que ao nível de gestão será muito mais fácil atenuar casos de indisciplina, de abandono escolar, entre outros que são um cancro do nosso sistema educativo.

     

    9. FINAL

    DO AGRUPAMENTO

    DE ESCOLAS

    CRIANDO-SE CONSELHOS

    LOCAIS DE EDUCAÇÃO

    As escolas do 1º Ciclo, tem vindo a perder autonomia e poder de decisão com a criação dos agrupamentos de escola. Sem autonomia e sem poder de decisão, o Ciclo que para mim é o alicerce de todos os outros, fica debilitado…e todo o resto do Sistema deixa de ter uma base sólida.

     

    10. APOSTA

    E VALORIZÇÃO

    NOS CURSOS

    TECNOLÓGICOS

    DE FORMAÇÃO SUPERIOR

    11. VALORIZAÇÃO

    DA PARTICIPAÇÃO

    DOS ENCARREGADOS

    DE EDUCAÇÃO

    NA VIDA ACTIVA

    DA ESCOLA...

    ... promovendo reuniões/encontros mensais com todos os professores de cada conselho de turma.

      Apesar de não acreditar que esta carta seja algum dia lido por V. E.xas., continuo no meu dia a dia a fazer tudo para que o meu país seja o melhor em termos de Educação. Acredito que é possível inverter a tendência negativa. Como dizia Idália Sá Chaves (da Universidade de Aveiro), num Congresso de Professores a que assisti: “ Cabe, a cada um de nós, mudar os bocados de mundo que estão à nossa guarda”.

     

    Fajã da Ovelha,

    18 de Abril de 2006

    Mais um professor que se preocupa e ama a Educação,

    Por: Rui Manuel Ávila Rosa *

    * Professor do 4º Grupo – 2º Ciclo, na Fajã da Ovelha, Ilha da Madeira.

     

     

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