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    Arquivo: Edição de 30-11-2006

    SECÇÃO: Cultura


    CESARINY de uma vez por todas bateu com a porta

    Pintura MÁRIO CESARINY
    Pintura MÁRIO CESARINY
    P. - Quais eram as acções desenvolvidas pelos surrealistas contra o regime?

    R. - Havia uma glória em Portugal, que era ser mártir, ser preso e ser torturado pelo regime: nós não achávamos que isso fosse uma coisa interessante, as nossas intervenções eram um bocado aparecer, dizer, sair logo e aparecer noutro lado: uma guerrilha. Como não podíamos fazer uma revolução - e não fizémos, claro -, a nossa revolução foi uma espécie de implosão, foi cá dentro que explodiu; para fora não podia sair, que a censura não deixava, foi por dentro. É pena que não se estude um bocado mais a condição dos surrealistas sob a ditadura, porque havia muita coisa interessante a saber nesse aspecto. E depois morreu o António Maria Lisboa, que, quanto a mim é o maior - dizei que sou eu, mas não sou, é ele o maior, só não tem versos tão bonitos, a poesia dele é uma coisa dura, agreste. Tivemos o atabafamento dos neo-realistas, que eram os realistas-socialistas e tivemos o atabafamento do Salazar: essas duas forças contra nós. As gerações que vieram a seguir, também não sabiam bem o que se passava... Foi um bocado uma ideia louca, porque falei com o André Breton e combinamos fazer uma pequena revista, mas era uma ideia um bocado louca, hoje vejo isso, era impossível tentar uma expansão pública, porque íamos logo para a choça e não estávamos muito interessados em ser mártires e heróis do estalinismo. O Cruzeiro Seixas foi para África, o António Maria Lisboa morreu, o Pedro Oom fechou-se em casa, como grande abjeccionista e, depois, o nosso grupo dispersou-se.

    (...) Não nego o talento poético do Pessoa, mas tornou-se odioso, porque já se ganha a vida à custa do Pessoa: é demais, já não pode ser. Nós temos grandes poetas desde os galaico-portugueses, não é? Isto acontece porque o Pessoa pegou lá fora, não é por outro motivo. Como pegou lá fora, então a saloiada toca toda a pegar no Pessoa nas universidades. O Camilo Pessanha não é inferior ao Pessoa; há muitos, o Sá-Carneiro...

    (Entrevista concedida a Óscar Faria, “Público” - Mil Folhas, 19 de Janeiro de 2002)

     

     

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