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    Arquivo: Edição de 15-11-2006

    SECÇÃO: Destaque


    DEBATE "AS ESCOLAS, NÓS E OS OUTROS. E DEPOIS?"

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ

    A escola e a vida

    O Fórum Cultural de Ermesinde acolheu, no passado dia 10 de Novembro, a realização do debate “As Escolas, Nós e os Outros. E Depois?”, integrado na iniciativa promovida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), sob mandato da Assembleia da República – o Debate Nacional sobre Educação –, que deverá produzir um documento de recomendações como resultado da síntese da série de debates que se vêm organizando por todo o País e que ocorrerão até Janeiro, data-limite para a redacção do relatório final.

    O referido debate foi organizado pelo jornal “A Voz de Ermesinde”, pelo Centro Social de Ermesinde (CSE) e pela Escola Secundária Artística Soares dos Reis (ESASR), contando, naturalmente, com o apoio do CNE. Abordaram-se duas das temáticas pré-seleccionadas no Debate Nacional, “Escolas, Professores e Outros Profissionais” e “Aprendizagem ao Longo da Vida” e fez-se a apresentação geral do Debate Nacional sobre Educação. Para o realizar, o Fórum Cultural de Ermesinde contou com a presença e a participação nem mais nem menos do que do próprio coordenador nacional do Debate, Joaquim Azevedo, também reitor da Universidade Católica, de Davide Castro Dias, conselheiro nacional de Educação, que moderou a discussão da primeira das temáticas apontadas, e de Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto, que dinamizou a abordagem da segunda delas.

    No debate foi possível inventariar diversas práticas, queixas, sugestões e questões a equacionar, por parte de professores de diversas escolas, com destaque para a Escola Secundária Artística Soares dos Reis, Escola Superior de Educação, Escola Secundária de Ermesinde, formadores e técnicos das áreas de Psicologia e Serviço Social do Centro Social de Ermesinde, CENFIM e outras, alunos quer em representação do CNE, quer de uma ou outra das escolas atrás referidas, pais, em representação de algumas das suas Associações no concelho, vereadores da Oposição e técnicos envolvidos nas políticas de Educação da Câmara Municipal de Valongo, e ainda diversos cidadãos envolvidos em vivências pedagógicas diversas ou preocupados com as políticas educativas, de uma grande abrangência do espectro político-partidário ou ideológico, como evidentemente deveria ser.

    Também o debate se pautou por um clima muito positivo, ainda que vivo, crítico ou controverso. Era visível o propósito de querer contribuir para a correcção de anomalias, para o preenchimento das lacunas detectadas, para a reflexão sobre as metodologias, para o despiste de problemas, para o enaltecimento de experiências.

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ

    Aberta a iniciativa desta jornada por Fernanda Lage, directora de “A Voz de Ermesinde”, que agradeceu à Câmara a cedência do tão belo espaço que é de todos como o é o Fórum Cultural de Ermesinde, e também a presença de pais, alunos, e colegas professores, foi feita a apresentação da mesa de abertura, que contava, para além da presença desta e dos já referidos moderadores convidados do debate, com Lurdes Figueiral, vice-presidente do Conselho Executivo da ESASR, de Henrique Queirós Rodrigues, presidente do CSE, e do padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS).

    Henrique Rodrigues aproveitou o ensejo para, em breves palavras, referir o envolvimento empenhado do CSE nas questões da Educação e o seu papel fulcral na luta contra a exclusão e a pobreza, na detecção de carências e na prestação de serviços. Serviços estes que vindo já a ser prestados há muito tempo, deveriam merecer a atenção das entidades responsáveis das políticas educativas e das melhores soluções na sua articulação. O presidente do CSE reafirmou assim a disponibilidade para a cooperação com o Ministério da Educação no acompanhamento dos jovens alunos nos períodos além dos tempos lectivos.

    Também o presidente da CNIS, em intervenção mais aprofundada, referiu como uma das principais causas da exclusão social o não-acesso à educação, enaltecendo o papel do CSE – uma das 2 400 filiadas na CNIS – na vertente educativa, apontando o pesado fardo sobre a sociedade que é o abandono escolar e levantando ainda, em tão oportuna ocasião, a questão da turbulência causada pela forma como se anunciou o prolongamento do horário escolar de uma forma que não foi, mas poderia ter sido, muito melhor articulada com as instituições que já vinham fazendo o acompanhamento dos jovens além dos horários lectivos, experiência esta que sendo rica, a CNIS não quer agora deixar desperdiçar.

    O presidente da CNIS terminou a sua intervenção fazendo o elogio da iniciativa do Debate Nacional sobre Educação e, igualmente o elogio do presente debate em Ermesinde, enaltecendo a presença neste do coordenador nacional da Educação, Joaquim Azevedo.

    Joaquim Azevedo fez a apresentação do Debate Nacional, cujo propósito é congregar as pessoas para debater Educação, reunindo os seus vários intervenientes e os vários interesses em torno desta. A iniciativa – esclareceu – nasceu na Assembleia da República e no Governo, na passagem dos 20 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo. Como valores deste debate, destacou a transparência, a autonomia e a participação. E anunciou que todos os documentos do debate – orientações e reflexões – estavam disponíveis publicamente na internet. «Todas as estruturas podem promover debates», incitou o coordenador nacional, que esclareceu sobre a existência de um prazo-limite, que será o mês de Janeiro, para permitir a redacção de um relatório final com as conclusões e recomendações do Debate.

    Precisou depois o âmbito deste, que não seria, por exemplo, para debater a carreira docente, mas sim para melhorar a Educação. «A Educação não é um problema da escola», sublinhou o também reitor da Universidade Católica. «Quer-se envolver todos os actores sociais na Educação». E elencou depois as áreas temáticas que tinham sido pré-seleccionadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE): “Educação e Cidadania”, “Qualidade e Equidade na Educação”, “Escolas, Professores e Outros Profissionais”, “Aprendizagem ao Longo da Vida e Desafios do Emprego” e “Ciência, Investigação e Desenvolvimento Educativo”.

    Era ainda solicitado a todos quantos o quisessem fazer, que apresentassem as suas reflexões directamente ao CNE apontando assim “Metas e Medidas para a Educação” que serão considerados conjuntamente com os relatórios das iniciativas de discussão em curso.

    O coordenador nacional do CNE revelou também que desde Junho a discussão se tem vindo a avolumar, crescendo as sugestões dos parceiros locais e tornando já difícil articular e agendar as iniciativas.

    De qualquer modo, em Janeiro realizar-se-iam duas ou três iniciativas finais, após as quais seria imperiosa a redacção do relatório de conclusões gerais.

    Foto MANUEL VALDREZ
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    Terminada a intervenção de Joaquim Azevedo, foi aberto um período de questões, sendo a primeira apontada por Fernanda Lage. Tendo colaborado intensamente na definição de programas, via frequentemente mudarem-se as posturas e políticas educativas, interrogando-se sobre as vantagens de tantas mudanças. A directora de “A Voz de Ermesinde” comentou ainda que «o Ensino não pode mudar conforme as modas». Em contrapartida a escola deveria ser capaz de formar cidadãos capazes de enfrentar as mudanças sociais, e com capacidade para agarrar outras e diferentes perspectivas. «Grande mudança deve ser a de atitude, preparando pessoas para a vida e não para o domínio de questões muito parcelares».

    Concordando em grande parte com a crítica da directora de “A Voz de Ermesinde”, Joaquim Azevedo fez a defesa da estabilidade e considerou não serem benéficas as mudanças contínuas. Em vez do paradigma da “mudança”, elegia o da “melhoria”. «Cada comunidade deve preocupar-se em melhorar o que vai fazendo». E ainda mais explicitamente: «Não podemos aceitar que cada partido que chegue ao poder, volte sempre a mudar tudo».

    «Há circunstâncias em que ainda bem que as pessoas não mudam», ressalvou o coordenador nacional. Há circunstâncias em que, em vez de nos adaptarmos às mudanças, o positivo é sermos resilientes a elas, concluiu.

    Lurdes Figueiral interveio a seguir, referindo que, neste momento, o tempo a mais que alguns professores passam na escola só serve para irem aborrecer o Conselho Executivo. «Há necessidade de melhorar, não de mudar por mudar», reforçou também.

    António Alberto Silva, docente de Matemática, interveio para pôr em causa a definição de competências agora introduzidas no 2º Ciclo. Os economistas podiam dar Matemática, Português..., ironizou; «qualquer cidadão pode ser professor de Português, mas não de Música. Fez-se uma reforma de fundo no mínimo caricata».

    Pedro Bragança, aluno da ESASR, comentou que o sistema de ensino tinha de estar preparado para a mudança, porque se estava continuamente em mudança.

    Maria José Rocha, docente e representante da Assembleia de Escola da Secundária de Ermesinde, aproveitou o ensejo para apresentar uma queixa sobre a sobrelotação da escola, frequentada agora por um número entre 2000 e 2500 alunos. Mas a sua intervenção dirigiu-se mais ao facto de, com os novos programas educativos, ser difícil encontrar alunos para a área tecnológica de Administração. E recordou a existência da disciplina de Práticas Administrativas, de que se sentia agora a falta. «Os alunos nem sabem o que é um cheque visado», lamentou.

    E queixou-se ainda de que cada vez menos se pode contar com os pais.

    Finalmente, sobre o Ensino Nocturno, a docente queixou-se de que, sendo os exames correspondentes a módulos, os alunos só podem fazer exames simultaneamente a um ou três módulos.

    Interveio a seguir Carlos José Faria, que referiu a sua anterior experiência como orientador pedagógico, tendo estado durante 10 anos no sector administrativo da Telescola em Vila Nova de Gaia. «Quando se fala de mudança – considerou – não pode esquecer-se um problema que é o medo da avaliação. Há poucos países em que se sucedam nove anos sem um momento de paragem para avaliar as competências adquiridas». Acusando a escola portuguesa de não cumprir a sua função, Carlos José Faria considerou que ainda hoje não tínhamos bem definida a formação de professores.

    Abordando uma questão já antes tratada por outro interveniente, apontou que, já há alguns anos se falava em áreas educativas, o que permitiria aos professores leccionar várias matérias, mas dentro da sua área. Finalmente, recordou situações anteriores em que se favorecia o surgimento de licenciados, mas não de bacharéis, o que teve as suas repercussões ao nível das competências específicas no ensino.

    Joaquim Azevedo fez a intervenção final deste ponto. Começando por colocar a questão da confiança na escola. Mas, respondendo ao fundo da questão, afirmou: «Se houve instituição social que, desde o 25 de Abril, contribuiu para o desenvolvimento do País, essa foi a escola».

    E discordou depois da ideia de ser cada vez mais difícil contar com os pais, tendo em conta as experiências por si conhecidas. Defendeu também uma maior capacidade de autonomia e rebateu que não houvesse sistemas de controlo e avaliação. Referiu até a taxa de insucesso de 15 % a esse propósito. «Há testes permanentes e com regras claras», afirmou, concluindo a sua intervenção com um apelo final à participação directa no Debate Nacional.

    ESCOLAS, PROFESSORES E OUTROS PROFISSIONAIS

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ

    Davide Castro Dias introduziu então a discussão sobre o ponto “Escolas, Professores e Outros Profissionais”, tentando, de imediato, organizar a discussão em função do pouco tempo disponível. Adiantou, tendo em conta o carácter do debate, que estava ali, sobretudo, na qualidade de ouvinte e assegurando que, embora ligado a vários interesses e iniciativas no quadro da Educação, por exemplo no Sindicatos dos Professores do Norte, era na sua qualidade de conselheiro nacional que ali estava e em nenhuma outra.

    Sugeriu que os participantes, em vez de lamentar, propusessem. E definiu como objectivo da escola que esta formasse cidadãos críticos para a saúde, sexualidade, autonomia, paz, interculturalidade, educação. «Os professores estão na escola para formar cidadãos» e, pegando numa ideia de Joaquim Azevedo sobre a Educação ser matéria de preocupação de toda a sociedade e não apenas da escola, concluiu: «Todos não somos demais, professores, alunos, encarregados de educação, autarcas, jornalistas,...».

    Lurdes Figueiral levantou então a questão do ensino vocacional, defendendo o reforço de escolas como a ESASR, «onde se aprende fazendo». E testemunhou da cooperação entre professores e outros bons profissionais, que sendo especialistas em certas áreas específicas, permitiam maior sucesso nas aprendizagens.

    E, por fim, abordou a questão do relacionamento do Ensino Superior com o Secundário.

    «O Ensino Secundário é um ciclo em si ou visa o acesso ao Ensino Superior?». E explicitou melhor a sua preocupação: «A certa altura, o que os alunos fazem é estudar para o exame para aceder ao curso x em vez de trabalhar com gosto».

    Elizabete Assis, da Escola Superior de Educação, defendeu uma prática pedagógica integrada em curso na escola, que quanto a ela permitia aos alunos exercerem a sua prática em contexto real: os formandos iam a bibliotecas, museus... Mais difícil era quando as turmas tinham que trabalhar não com 30, mas com 60 alunos.

    Sobre este aspecto, Maria José Rocha referiu que a sua escola não tinha espaço onde se pudesse trabalhar. «A revolta dos professores é não ter um espaço onde se possa estar».

    António Gomes, vereador da Câmara de Valongo (Oposição), apresentou-se também na sua qualidade de membro da Associação de Pais da Escola Secundária de Ermesinde, discordando de que o Conselho Pedagógico possa discutir, por vezes, matérias administrativas que não lhe deviam competir.

    Abordou depois a questão dos cursos tecnológicos, cujo sucesso se deveria a privilegiarem os aspectos práticos em vez dos científicos. Em contrapartida, pareceu discordar da opinião da ministra da Educação, cuja posição era a de que os cursos tecnológicos deveriam desaparecer, ao arrepio destes anos de experiência desde o 25 de Abril, quando se decidiu suprimir os cursos “industriais” e “comerciais”. O Português A pouco difere do Português B, notou. «Não há qualquer relação entre o mercado de trabalho de uma região e aquilo que as escolas oferecem», concluiu.

    Luísa Gonçalves deu um testemunho pessoal do seu envolvimento no Ensino. Docente da Soares dos Reis, chegou a esta como professora por necessidade de sobrevivência, pois a sua formação era como escultora. Mas pouco a pouco foi-se apaixonando pela função de professora. Mas agora, anos depois, era o filho, licenciado também ele em escultura que, para sobreviver, tinha de distribuir folhetos, porque agora está vedado – ao contrário do que aconteceu no seu tempo para as pessoas com as suas competências – o acesso à carreira de professor, áreas artísticas consideradas.

    Abordando depois outra questão, referiu que o ser humano não era apenas parte cognitiva, mas tinha que se desenvolver também sensitiva e afectivamente. Ora este tipo de aprendizagem era muito importante no ensino artístico e era essencial ao desenvolvimento integral dos indivíduos.

    E concluía questionando: «Formar profissionais nas áreas artísticas, para quê?».

    Foto MANUEL VALDREZ
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    Seguiu-se-lhe o presidente da Associação de Pais da Escola da Costa que definiu como missão dos cidadãos a participação no meio em que estão inseridos. E rebatendo uma acusação anterior de não se poder contar com a participação dos pais, deu testemunho de uma reunião de pais no seu agrupamento de escolas, que foi marcada para as 15h30, inviabilizando obviamente a participação destes. Apresentando-se como profissional de uma empresa privada, referiu ter muitas vezes de trabalhar para além do horário e comparativamente esperar que os professores trabalhem não só para cumprir horários. «Os professores devem ser e andar mais motivados», devem investir em auto-formação.

    No fim, considerou que os objectivos educativos devem ir na direcção dos objectivos do País.

    Joana Barros, psicóloga do CSE, estimou que a questão do absentismo e do abandono escolar eram questões fundamentais e com base na sua experiência profissional, defendeu que se deveriam aproveitar todos os recursos que existem e optimizá-los. Albertina Alves, assistente social e responsável técnica pelo Centro de Formação do CSE chamou a atenção para experiências educacionais particulares, mas muito importantes, como a educação de adultos. Considerou essencial os alunos poderem perceber os projectos escolares e que a aprendizagem deveria ser contextualizada. Finalmente, concluiu sublinhando a importância de contextos educacionais extra-escolares e informais.

    Foto MANUEL VALDREZ
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    Eunice Neves, adjunta do presidente da Câmara Fernando Melo, saudando a iniciativa, abordou questões ligadas ao ensino tecnológico, em que nem sempre é oferecido o que o tecido social à volta exige. E apontou como positiva a parceria existente em Valongo no campo da metalurgia e metalomecânica.

    António Alberto Silva, ainda sobre a importância do desenvolvimento após o 25 de Abril, lembrou que Portugal tinha sido o país do mundo, em 30 anos, com uma maior evolução a nível dos índices de desenvolvimento humano.

    E criticou duramente alguns fazedores de opinião por estes acusarem educadores que «não sabiam o que faziam». Indignado, comentou que falavam de Educação sem saberem do que falavam.

    «Pessoas sem qualificação não deveriam fazer planos curriculares», diria mais tarde, ainda corrosivo a propósito doutro aspecto.

    Outra professora da Escola Superior de Educação ligada ao ensino da Matemática, que preferiu não se identificar, defendeu que a maioria dos professores eram bons profissionais, podendo identificar-se boas práticas de Educação em muitas situações. Quanto à Matemática, alvo de tantas críticas, referiu, por exemplo, terem-se já realizado nove baús da Matemática no concelho de Valongo. Estava também optimista quanto à abertura da escola aos pais.

    Foto MANUEL VALDREZ
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    E referindo algumas experiências pedagógicas estrangeiras, por si consideradas positivas, apontou o exemplo de manuais escolares que se mantinham por um período de quatro anos, gratuitos, embora tivessem «poucas cores e bonecada». Mas «sabia muito bem o que era a indústria do manual!...».

    Sobre o encaminhamento dos alunos referiu também a experiência holandesa, em que tendo os exames aos alunos apontado como mais adequada uma via profissionalizante e não uma via científica, tinham que se responsabilizar os pais, se quisessem pô-la em causa.

    A mesma professora chamou ainda a atenção para os resultados do PISA, Programa Internacional comparado de Avaliação de Estudantes, considerando que o CNE devia dar muita atenção às suas conclusões e estatísticas.

    Célia Lino, assessora do presidente da Câmara para a área da Educação considerou que os professores não têm sido bem tratados e que mereceriam mais respeito.

    Alexandre Teixeira, deputado municipal (PP), referiu ser ainda «do tempo em que ser professor era uma coisa de respeito». Hoje em dia era importante analisar o tipo de pessoas que abraçava a via do ensino. E com esta intervenção se encerrou esta área do debate.

    APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

    Foto MANUEL VALDREZ
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    Marques dos Santos, o reitor da Universidade do Porto, introduziu a temática seguinte.

    «Se alguém se defronta hoje com a questão das mudanças, é a Universidade», afirmou. Um engenheiro de telecomunicações estará desactualizado ao fim de cinco anos, apontou. «Há uma necessidade de educação contínua». Esta educação deveria assentar em quatro pilares, considerou o reitor: «investigação e desenvolvimento, transmissão do conhecimento, promoção e difusão da cultura e transferência do conhecimento».

    A criação de novas empresas é uma das mais-valias que podem advir da aproximação do ensino nas universidades ao tecido social à sua volta.

    Marques dos Santos apontou depois que, todavia, ainda há fortes correntes, no ensino universitário, favoráveis ao conhecimento pelo conhecimento, em vez da sua inserção nesse tecido social.

    E passando a outra abordagem, chamou a atenção para a necessidade, mais do que nunca nos dias de hoje, de uma aprendizagem ao longo da vida, desde o jardim de infância até à morte.

    Com base no entendimento de Bolonha, as universidades estão hoje a apostar na formação graduada, mas também na formação não-graduada, mas – defendeu –, creditável. Os créditos poderiam ser reclamados na medida da formação obtida. Os profissionais poderiam assim ir acumulando créditos e actualizando os seus conhecimentos.

    Na situação actual não é vulgar ter uma oferta alargada de formação contínua, lamentou o reitor, mas há necessidade de alargar esta oferta e esperava que crescesse a procura.

    «Têm-se feito inquéritos às empresas no sentido das universidades poderem adequar os seus cursos. Mas sem sucesso», denunciou o reitor, mostrando assim que não é só das escolas a responsabilidade de algum desenquadramento.

    Marques dos Santos mostrou-se ainda perplexo quanto à redução da importância dos mestrados. «Há procura de formação para subir na carreira e não para adquirir conhecimento», acusou.

    E revelou ser justa a preocupação em lançar formação para séniores. As experiências feitas até agora tinham sido um sucesso. «Esta oferta tem que crescer», prometeu o reitor da Universidade do Porto.

    E esclareceu os objectivos desta, não virados para a promoção das carreiras profissionais, mas para a aquisição de conhecimento e a “felicidade”.

    Este tipo de cursos têm tido um grande sucesso em Espanha, adiantou.

    Foto MANUEL VALDREZ
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    A palavra devolvida de novo à massa dos participantes, coube a António Luís, do CENFIM de Ermesinde, falar desta experiência, que qualificou «exemplo de boas práticas». O responsável máximo desta entidade elogiou o ensino pela via da experimentação. Nos processos educativos é essencial ter-se um bom domínio da “língua”.

    Um eixo de boas práticas, defendeu António Luís, passa por fazer concursos profissionais. E retirar à escola aqueles vícios de só dar o título. Responsabilizou depois outros agentes educativos, como a família: «os pais não deveriam deixar os filhos ter televisão no quarto». Seriam questões pequenas e práticas como esta que nos fariam ficar do lado da solução e não do problema, concluiu.

    Pedro Bragança salientou na escola [secundária] objectivos sócio-afectivos e culturais, mas lamentou que esta, muitas vezes, se assemelhasse a um ovo sem gema. Vazio, mas com um pequeno furo, o acesso ao ensino superior.

    A relação entre os dois graus de ensino é quase nula, criticou.

    E queixou-se também da falta de mecanismos de integração dos alunos no Ensino Superior, referindo como excepção a Universidade Júnior.

    «O Ensino Superior tem de deixar de ser um ensino de elites», terminou.

    António Gomes, pegando na questão do Ensino Superior, elogiou a qualidade dos cursos da Católica e passando a outro assunto, defendeu que haveria de reequacionar a formação de professores do 1º Ciclo.

    Numa asserção que provocou de imediato burburinho e contestação na sala, referiu que quando os alunos não conseguiam atingir as metas e cursos a que se propunham, iam para a Escola Superior de Educação. «Os cursos politécnicos levantam a mesma questão de vocação»; acrescentou ainda. Vai-se leccionar porque não houve outra saída, carregou ainda mais.

    Maria de Fátima, da Associação de Pais da Secundária de Ermesinde referiu a pouca possibilidade de formação que a estes era concedida e deu um exemplo recente de recusa de umas horas de formação à sua estrutura.

    Representante dos estudantes no CNE, Ivo Santos, também formado nas escolas de Ermesinde, manifestou a sua discordância com o vereador e abordou uma nova questão, a da dificuldade de diálogo advinda do choque geracional.

    «No fundo, o que está em causa não é um choque tecnológico, mas um choque social», defendeu. E defendeu também que existe um conhecimento não formal que se espera venha a ser validado. A formação deveria ser mais “científica” e centrada na escola, concluiu.

    Abordou depois a questão pertinente dalgumas alterações recentes ao Código do Trabalho impedirem os trabalhadores-estudantes, como foi o seu caso, de ter acesso às mesmas possibilidades de formação académica, como o mestrado, por exemplo.

    E denunciou, a terminar, que as oportunidades de formação como o ensino nocturno e a relação com o tecido empresarial tinham sido cortadas. «Há cursos a fechar», denunciou.

    Paula Valdrez, professora de Filosofia, defendeu que os professores precisam de formação. Os professores universitários, muitas vezes não entenderiam bem as necessidades do Secundário. «Há uma necessidade sobretudo de formação pedagógica». E referiu uma experiência de coordenação pedagógica, com uma fórmula de reunião regular para cruzar informação sobre dificuldades de aprendizagem e dificuldades afectivas, levada a cabo na Secundária Tomaz Pelayo, em Santo Tirso. Dessa experiência concluía que era muito mais proveitoso pôr os professores a trabalhar em equipa com regularidade. Terminou apelando a um melhor modelo de organização das escolas.

    Por: LC

     

     

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