ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (13)
Intensa Violência Política em abril de 1920
Bombas, greves, manifestações, crimes de motivação política foram o pão nosso de cada dia no mês de abril de 1920, há cem anos. Foram estas características de intensa luta política e sindical que provocaram, a médio prazo, a queda da Primeira República e a ascensão da Ditadura Militar e da Ditadura Salazarista que, juntas, se prolongariam quase meio século na gestão do país. E a longa ditadura portuguesa foi a principal responsável por muitos dos problemas que Portugal viveu nos 2.º e 3.º quarteis do século XX.
Só para se fazer uma ideia dos conturbados tempos que então se viviam, resolvemos selecionar algumas notícias da imprensa de há um século, na primeira quinzena de abril de 1920.
Logo no dia 1, os jornais trazem à 1.ª página alguns “atentados terroristas” que põem em causa a ordem pública: «a bomba que hontem rebentou na rua da Conceição da Gloria vitimou um rapazito de 14 anos e feriu varias pessoas, das quaes é certo que uma ou duas virão a falecer dos ferimentos». Noutra parte, em “A Capital” dessa mesma data escreve-se, em grito de revolta: «Basta! Lisboa será dentro de pouco tempo uma cidade inabitavel, se se não puser côbro, com toda a energia, a essas manifestações de malvadez inclassificavel. Inclassificavel, sim; compreendem-se muitos crimes, embora nenhum se justifique, mas este de ir colocar um engenho de destruição, em qualquer ponto, para vitimar seja quem fôr que se não conhece, e que o acaso ou a fatalidade leva áquele sitio, excede a compreensão humana». No dia seguinte a imprensa dava conta de que as diligências policiais estiveram na origem de algumas prisões de suspeitos.
No dia 4 de abril chega aos periódicos nacionais a informação de que a 3.ª vítima do atentado à bomba de 31 de março, faleceu no Hospital de S. José. Trata-se de um cidadão alemão que era empregado no comércio da capital e que no momento da explosão se encontrava próximo do local, a conversar com outra vítima.
No dia 5 de abril de 1920 é a vez de divulgar as palavras do “eterno” líder monárquico Paiva Couceiro que, exilado em Espanha, depois da tentativa frustrada de restaurar a Monarquia em Portugal no início de 1919, transcritas duma entrevista dada em Madrid ao periódico francês “Journal des Débats” onde reclama a intervenção estrangeira em Portugal: «Dois grandes perigos ameaçam Portugal e ambos eles são iminentes: a bancarrota e o bolchevismo… O bolchevismo portuguez não será mais que um instrumento do bolchevismo internacional… Crêmos, pela nossa parte, que só uma forte monarquia, francamente democratica, pode salvar Portugal. Não é já entre a monarquia e a republica, mas entre a monarquia e a anarquia sovietista que, talvez amanhã, teremos de escolher.(…).»
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A MANIFESTAÇÃO DE APOIO AO GOVERNO FOI PERTURBADA PELO REBENTAMENTO DE TRÊS ENGENHOS EXPLOSIVOS (IN “ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA”, N.º 740, DE 26 DE ABRIL DE 1920) |
No dia 6 de abril, é dada a notícia de que vão ser libertados alguns metalúrgicos, que haviam sido suspeitos de envolvimento nos tumultos mas que a inexistência de provas por parte da polícia da Segurança do Estado obrigou a libertar. Outra informação diz respeito à apreensão do jornal “A Batalha” por «ao contrario das determinações do governo, publicar a nota officiosa incitando a gréve».
Outro problema grave que se vivia nesse período, um pouco por todo o país era o açambarcamento dos produtos de primeira necessidade o que fazia subir bastante o seu preço. Acontecia com o azeite, a batata, a castanha e com outros géneros alimentícios.
No dia 7 de abril, dá-se a notícia da apreensão de uma bomba e da detenção do agulheiro principal da estação do Cais do Sodré, alegadamente envolvido no caso dessa bomba, bem como de um operário da Companhia de Tabacos que supostamente também esteve implicado no caso.
Na tarde do dia 8 de abril, representantes da Comissão Nacional de Defesa da República apresentaram ao Presidente da República um documento aprovado na véspera, no Centro Tomás Cabreira, onde se mostram contra o pedido de indulto a favor dos monárquicos implicados nos momentos restauracionistas do Norte e de Monsanto (que ocorreram no início de 1919) alegando que se eles tivessem vencido não fariam o mesmo aos republicanos, porque desde logo fizeram público, por decreto da responsabilidade da “Junta Governativa do Norte” que demitiriam os funcionários públicos republicanos, acabariam com a imprensa republicana e os crimes políticos seriam punidos com “pena de morte”.
No dia 12 de abril foram lançadas bombas,na Rua Augusta, contra uma manifestação de apoio ao governo de António Maria Baptista, que havia sido empossado no dia 8 de março de 1920 (há pouco mais de um mês) que provocam várias mortes.
Desse infausto acontecimento, saiu uma reportagem na “Ilustração Portuguesa” de 26 de abril de 1920, donde retirámos a foto que ilustra este artigo e onde se publica o texto que se segue, sob o título “A manifestação de aplauso ao Governo e os atentados dinamitistas”:
«É sem duvida este governo digno de todos os aplausos, pela sua orientação aparte da política partidaria e pelas suas intenções á frente das quais está o barateamento da vida.
(...)
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Por:
Manuel Augusto Dias
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