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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-12-2021

    SECÇÃO: Património


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    Recordações do lugar da Bela: População e Carvão

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    Este mês vamos abordar algumas transformações sociais e económicas que ocorreram no lugar da Bela. O mote para este artigo foram textos compostos por Fernando Rocha Amaral, licenciado em História, e que ao longo da sua vida se tem dedicado, com particular estima, ao estudo de Ermesinde e das correntes do Rio Leça.

    Dos textos que nos foram cedidos salientamos duas partes de capítulos, dos quais incluímos a sua transcrição integral neste artigo, por ainda não se encontrarem publicados.

    A População

    O primeiro texto a que damos nota refere-se a:

    Os Pretos do Morro da Bela

    Em Portugal os primeiros escravos devem ter chegado ao porto de Lagos em 1444, muito provavelmente capturados a mercadores árabes do sul do Sara. A partir daí estabeleceu-se um comércio regular que viria a distribuir essa “mercadoria” por todo o país.

    Essa população escrava de origem africana integrou-se nas propriedades rurais e nas cidades, totalmente desenraizados em relação à sua cultura anterior.

    Esse comércio só terminaria em 1761 por lei do Marquês de Pombal. Quando a escravatura acabou, essa população continuou a ser marcada por preconceitos raciais e sociais, vivendo completamente marginalizada. Deixou as casas dos seus antigos senhores, onde haviam nascido e vivido e passaram a uma vida de vagabundos negando-se na sua maioria a trabalhar para os antigos senhores. Daí não ser de estranhar o aparecimento de pequenos núcleos familiares constituídos por descendentes dessa população a viver em más condições de habitação e com dificuldade de acesso ao trabalho e à escola que lhe permitisse alguma espécie de integração.

    Também nesta região de Ermesinde há notícia da existência de escravos a partir de 1603, que eram posse apenas de um reduzido número de pessoas, possivelmente os proprietários das casas agrícolas mais abastadas.

    No Morro da Bela viveram em tempos várias famílias, a quem pejorativamente se chamava “Os Pretos da Bela”. Possuíam pele e cabelos escuros, eram andrajosos e dedicavam-se à mendicidade ou trabalhos precários. Apanhavam pinhas nos montes que vendiam em sacos. Devem ter sido descendentes longínquos desses escravos entretanto transformados em escravos libertos, mas já sem qualquer ligação cultural aos seus antepassados.

    Viviam numa espécie de gueto e de que pouca gente ousava aproximar-se.

    No início do séc. XX foram dizimados pela peste bubónica. No local se instalaram os bombeiros para socorrer os que foram atacados por aquela peste. Nos tratamentos usavam a tintura de iodo e papas de linhaça. Daí os bombeiros passarem a ser conhecidos pela alcunha de “Linhaças”.

    A partir dos anos 1970 as barracas onde moravam foram demolidas e os seus habitantes alojados em bairros sociais, consolidando uma precária integração social.

    Rua Poço Negro no Alto de Vilar – Google Maps (2014)
    Rua Poço Negro no Alto de Vilar – Google Maps (2014)

    Consideramos particularmente interessante a linha temporal que é criada, que nos permite compreender como ocorreu a integração desta população, à época, em São Lourenço d’Asmes. Quando consultámos uma das monografias de Jacinto Soares (2008), percebemos que o termo “pretos da Bela” foi um nome depreciativo aplicado aos Homens que habitavam neste local e que tinha por base o seu tom de pele. Contudo, não se tratava de uma questão racial ou xenófoba; o que contribuiu para que estes habitantes fossem vistos com desdém foi o seu comportamento social.

    Segundo Jacinto Soares (SOARES, 2008, 251 e 254-255), estes homens salientavam-se por várias razões. A primeira foi o negócio das pinhas pelo qual eram particularmente conhecidos. A colheita das pinhas era feita em São Lourenço d’Asmes por algumas famílias de Rapadas e da Bela. Contribuiu para a existência deste negócio a localização topográfica da população que se encontrava rodeada de matagais e pinhais que permitiam a venda destes produtos às povoações vizinhas. Estes homens, que viviam em condições sociais particularmente difíceis, entravam nos pinhais à revelia dos donos, escolhiam os pinheiros mais recheados e de melhor qualidade e roubavam as suas pinhas, que depois transacionavam.

    A acrescentar os roubos que alimentaram, desde logo, os ódios de alguns senhores, donos destes pinhais, estes homens viviam como dissemos em condições difíceis, na sua maioria em barracas improvisadas e sem as condições essenciais à vida humana. Por esta e outras razões, como o facto de viverem amontoados, aconteciam muitas quezílias e de forma constante entre eles. Estas resultavam, muitas vezes, em ferimentos de alguma gravidade e que fazia com que tivessem de ser transportados para o Hospital de Santo António, pela corporação de bombeiros.

    De acordo com Jacinto Soares (SOARES, 2008, 255-256), a corporação de bombeiros contava, nestes anos, com escassos meios físicos e monetários, o que fazia com que estes transportes levassem ao desgaste dos homens e grandes gastos em transportes. Foi por isso criada uma forma de tentar contornar estas despesas, montou-se um corpo especial de primeiros socorros junto ao quartel, na Rua Vasco da Gama. É neste momento que a população da Bela começa a denominar os bombeiros por linhaças, este nome vai estar associado ao tratamento que, normalmente, era feito pelos bombeiros onde faziam papas com fins medicinais a partir de farinha e sementes de linho.

    Acredita-se que estas famílias foram fortemente afetadas pela peste bubónica, no século XX, muitos deles perderam a vida e os que sobreviveram foram devidamente integrados na sociedade. Acredita-se que a permanência desta população no lugar da Bela tenha feito com que este não fosse um local aprazível para se viver, contribuindo para a fixação de mais cidadãos a abertura de uma escola neste local no início dos anos 40, avançando-se em termos de urbanização na década de 60 (SOARES, 2008, 256).

    O carvão

    O carvão é um recurso natural que se encontra ligado à população de Ermesinde. Podia ser encontrado no solo, embora fosse considerado pouco e fraco (SOARES, 2008, 251). As zonas de Liceiras e de Vilar foram aquelas que se dedicaram mais ao fabrico e comércio de carvão vegetal. Durante a década de 20, do século passado, Humberto Beça, na sua monografia sobre Ermesinde, descreve que eram cerca de cinquenta pessoas entre homens, mulheres e crianças, aquelas que se dedicavam às suas atividades (BEÇA, 1921, 51). As mulheres tratavam, normalmente, da venda, carregando os sacos deste material que depois vendiam na Feira do Carvão no Porto.

    Também no lugar da Bela vamos encontrar espaço para esta produção:

    O Poço da Bela

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

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    Bibliografia:

    - BEÇA, Humberto (1921). Ermezinde Monografia. Historico-Rural. Porto: Companhia Portugueza Editora

    - DIAS, Manuel Augusto. PEREIRA, Manuel Conceição (2001). Ermesinde – Registos Monográficos. Vol. 1. Ermesinde: Câmara Municipal de Valongo. ISBN: 972-97958-3-5

    - SOARES, Jacinto (2008). Ermesinde: Memórias da nossa gente. 1.ª edição. Ermesinde: Junta de Freguesia de Ermesinde. ISBN: 978-989-20-12124

    Nota: este texto foi escrito em conjunto com Fernando Rocha Amaral

     

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