O “Pai da Democracia”
No passado dia 6 de dezembro, na véspera do centenário do nascimento de Mário Soares, a Assembleia da República evocou a figura histórica do dirigente socialista, com uma sessão semelhante à que assinalou o “25 de Novembro de 1975”, com honras militares e encerramento pelo Presidente da República. Mário Alberto Nobre Lopes Soares, de seu nome completo, nasceu em Lisboa, no dia 7 de dezembro de 1924. Era filho de João Lopes Soares, que foi um ilustre professor, antigo capelão na 1.ª Guerra Mundial, pedagogo e político da Primeira República, e de sua esposa, Elisa Nobre Soares. Um mês depois de ter completado os 92 anos de idade, Mário Soares faleceu na mesma cidade onde havia nascido.
Já no dia 9 de janeiro de 2017, por ocasião do seu falecimento, a Assembleia da República havia promovido uma sessão evocativa ao antigo estadista português e, no dia seguinte, no Mosteiro dos Jerónimos, onde em 1985, enquanto chefe do Governo havia assinado a adesão de Portugal à CEE, decorreram as exéquias finais, com intervenção do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Mário Soares casou, na situação de prisioneiro político, com Maria de Jesus Simões Barroso em 1949, com quem teve dois filhos: Isabel Soares, psicóloga e diretora do Colégio Moderno, e João Soares, advogado e político. Maria Barroso faleceu em 7 de julho de 2015 (um ano e 5 meses antes do marido).
Mário Soares, em termos académicos, fez o curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa (mais tarde concluiria, também na mesma Universidade, o curso de Direito). Enquanto estudante universitário envolveu-se diretamente na atividade política, aderindo, em 1943, ao MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) e, 3 anos depois, no contexto do pós-Guerra, quando em Portugal houve uma réstia de esperança em alterações políticas, foi um dos fundadores do MUD Juvenil (Movimento de Unidade Democrática), tendo sido membro da sua Comissão Central, contava então 21 anos. Ainda na década de 1940, apoiou o candidato da oposição à Presidência da República, o velho militar republicano, general Norton de Matos. Já na década seguinte, integrou, também, a Comissão da Candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República.
Este protagonismo político, pelo lado da oposição ao regime salazarista, valeu-lhe ser preso mais de uma dezena de vezes, ter sido deportado para S. Tomé e Príncipe, e, já no período da “Primavera Marcelista”, exilar-se em França. Foi fundador da Ação Socialista Portuguesa, em Genebra, em novembro de 1964, que evoluiria para o Partido Socialista, de que também foi fundador e dirigente, desde abril de 1973, na Alemanha.
Com o triunfo do “25 de Abril” de 1974 regressou a Portugal, tornando-se membro dos primeiros Governos Provisórios como seu Ministro dos Negócios Estrangeiros. No período conturbado do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) foi a sua determinação social-democrata e reformista que acabaria por triunfar o que fez com que Portugal enveredasse pela democracia pluralista e partidária que hoje mantém.
No dia 25 de Abril de 1975, o Partido Socialista (PS) venceu as primeiras eleições livres em Portugal, para a Assembleia Constituinte, e Mário Soares, líder do partido vencedor, assumiu a defesa de “uma sociedade democrática e livre”, tendo por base a “vontade popular” livremente expressa em eleições. Nas eleições legislativas de 1976, o PS voltou a vencer, ocupando o cargo de Primeiro-Ministro nos I e II Governos Constitucionais (1976-1978), função que voltou a exercer em 1983-1985.
Em 1986 e em 1991, é eleito e reeleito, respetivamente, Presidente da República, tornando-se o primeiro civil no exercício do cargo, no período da democracia.
Pela sua vivência política e pelas lutas travadas antes e depois de Abril, bem merece o epíteto de “Pai da Democracia” portuguesa.
Por:
Manuel Augusto Dias
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