Ruturas
A vida é feita de mudanças e passagens, umas mais marcantes, outras menos, umas boas outras más, às vezes são necessárias mesmo ruturas. Foram ruturas profundas que contribuíram para uma cultura mais justa, mais humana mais igualitária a nível dos géneros, das raças, das religiões, dos povos.
Na natureza as diferentes estações do ano marcam tempos e mudanças que afetam a vida animal e vegetal e influenciam profundamente a vida das pessoas, é o caso da passagem do inverno para a primavera.
A primavera é essa estação da renovação, do renascer, a que associo a Páscoa, a passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade. É tempo de reflexão, de olharmos à nossa volta e continuar a caminhada com mais vontade, escolhendo o caminho que nos parece mais acertado.
Nesta primavera advinham-se mudanças a nível da igreja católica. Com a eleição do novo Papa Francisco alguns católicos aguardam algumas ruturas.
Em momentos de crise e desânimo é bom pensar que todos os anos há primavera, que é na primavera que a vida se renova, não podemos fechar os olhos e deixar passar, temos que ver e reconhecer o caminho.
Mas há ruturas e mudanças que nada têm a ver com as do poeta:
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudanças,
Tomando sempre novas qualidades». (1)
Romper com a miséria, com a injustiça, com a pobreza, para atingir uma sociedade mais justa onde cada um de nós possa ser mais feliz, essas ruturas são necessárias.
Ruturas em tecidos acabados de tecer, ruturas nas conquistas dos povos a nível social e político, essas são muito perigosas.
Vivemos momentos difíceis. «Estamos à beira de uma tragédia social de consequências imprevisíveis para a vida dos portugueses e para o regime democrático». (2)
Dia a dia o país empobrece, a esperança vai desaparecendo, instala-se o desespero e a perda de confiança, já ninguém acredita em ninguém.
Nenhum órgão de soberania, responsável político, nenhum de nós, pode ignorar o estado de pré-rutura social a que o nosso país chegou.
Portugal vive hoje uma situação de crise económica e social que se agrava de dia para dia, uma dívida pública a aumentar, 942mil desempregados, cortes nos salários, nas pensões, na área da segurança social, da educação e da saúde, uma crise generalizada que atinge diferentes estratos sociais.
Para fazer frente a esta crise é necessário em primeiro lugar conhecer a verdade, exigir seriedade para acreditar em quem nos governa, pensar nas pessoas e não em números, só assim é possível construir cumplicidade e confiança entre governantes e governados.
Abril está aí, esperemos que nos traga sol e algum calor porque até agora a primavera ainda não se fez sentir…
(1) Luís de Camões
(2) Citação do PS
Por:
Fernanda Lage
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