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    Arquivo: Edição de 31-03-2013

    SECÇÃO: Editorial


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    Ruturas

    A vida é feita de mudanças e passagens, umas mais marcantes, outras menos, umas boas outras más, às vezes são necessárias mesmo ruturas. Foram ruturas profundas que contribuíram para uma cultura mais justa, mais humana mais igualitária a nível dos géneros, das raças, das religiões, dos povos.

    Na natureza as diferentes estações do ano marcam tempos e mudanças que afetam a vida animal e vegetal e influenciam profundamente a vida das pessoas, é o caso da passagem do inverno para a primavera.

    A primavera é essa estação da renovação, do renascer, a que associo a Páscoa, a passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade. É tempo de reflexão, de olharmos à nossa volta e continuar a caminhada com mais vontade, escolhendo o caminho que nos parece mais acertado.

    Nesta primavera advinham-se mudanças a nível da igreja católica. Com a eleição do novo Papa Francisco alguns católicos aguardam algumas ruturas.

    Em momentos de crise e desânimo é bom pensar que todos os anos há primavera, que é na primavera que a vida se renova, não podemos fechar os olhos e deixar passar, temos que ver e reconhecer o caminho.

    Mas há ruturas e mudanças que nada têm a ver com as do poeta:

    «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

    Muda-se o ser, muda-se a confiança:

    Todo o mundo é composto de mudanças,

    Tomando sempre novas qualidades». (1)

    Romper com a miséria, com a injustiça, com a pobreza, para atingir uma sociedade mais justa onde cada um de nós possa ser mais feliz, essas ruturas são necessárias.

    Ruturas em tecidos acabados de tecer, ruturas nas conquistas dos povos a nível social e político, essas são muito perigosas.

    Vivemos momentos difíceis. «Estamos à beira de uma tragédia social de consequências imprevisíveis para a vida dos portugueses e para o regime democrático». (2)

    Dia a dia o país empobrece, a esperança vai desaparecendo, instala-se o desespero e a perda de confiança, já ninguém acredita em ninguém.

    Nenhum órgão de soberania, responsável político, nenhum de nós, pode ignorar o estado de pré-rutura social a que o nosso país chegou.

    Portugal vive hoje uma situação de crise económica e social que se agrava de dia para dia, uma dívida pública a aumentar, 942mil desempregados, cortes nos salários, nas pensões, na área da segurança social, da educação e da saúde, uma crise generalizada que atinge diferentes estratos sociais.

    Para fazer frente a esta crise é necessário em primeiro lugar conhecer a verdade, exigir seriedade para acreditar em quem nos governa, pensar nas pessoas e não em números, só assim é possível construir cumplicidade e confiança entre governantes e governados.

    Abril está aí, esperemos que nos traga sol e algum calor porque até agora a primavera ainda não se fez sentir…

    (1) Luís de Camões

    (2) Citação do PS

    Por: Fernanda Lage

     

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