O DESAFIO DA EDUCAÇÃO
Maus tratos e o Desenvolvimento Infantil (Compreendendo a problemática)
O grande desafio que se coloca aos pais é a procura de melhores respostas para as diferentes situações ao longo do desenvolvimento dos seus filhos.
Este espaço pretende informar e responder a questões generalizadas na área do desenvolvimento da linguagem e da aprendizagem e suas implicações no percurso escolar. Para um maior esclarecimento: [email protected] ou www.elisabetepinto.com
Nunca como hoje estivemos tão receptivos e disponíveis para compreender e intervir nesta problemática, com um grande impacto em muitas áreas da vida de todos, em especial das nossas crianças.
Se apenas uma definição bastasse, poderíamos reflectir que por maus tratos se entendem: as ofensas físicas ou mentais, abuso sexual, tratamento negligente ou os maus tratos de uma criança com idade inferior a 16 anos por uma pessoa que é responsável pelo bem-estar da criança em circunstâncias que indicam que a saúde e bem-estar da criança é ameaçado.
Todos sabemos maus tratos podem assumir diferentes formas que incluem o abuso físico, psicológico, sexual ou negligência. Qualquer pesquisa na internet nos fornece hoje grandes quantidades de informação sobre este tema.
No entanto, a questão é absolutamente legítima: “Como posso eu, enquanto professor, agente educativo, educador criar um bom ambiente e ajudar as crianças que possam eventualmente ser alvo de algum tipo de violência?
Torna-se vital relembrar que os impactos dos maus tratos também estão relacionados com a existência de um adulto próximo da criança, no qual ela confie e se sinta segura. Esta pessoa pode e deve traduzir-se na figura do professor e/ou outros agentes educativos que proporcionam à criança níveis de segurança e confiança que a ajudam a interagir positivamente com outras pessoas, (re) construir um sentido de auto eficácia e auto estima positiva, bem como o desenvolvimento de competências pessoais e relacionais.
Um dos aspectos centrais nos quais este apoio se pode materializar é a rede social da criança. Na prática, falamos do número de relações que a criança percebe como significativas e seguras à sua volta. É o ciclo interpessoal, que contribui para o reconhecimento da pessoa enquanto tal e contribui para a imagem de si própria. (Sluzky, 1996)
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Foto MARZANNA SYNCERZ |
Estudos referem que “O abuso físico leva a consequências psicológicas a curto prazo e consequências psicológicas a longo prazo em casos de abuso severo e na ausência de factores protectores pessoais ou contextuais, tais como boas estratégias de coping ou suporte social disponível para a criança” (Briere et al, 1996 & Herbert, 1997; Brocone & Peterson, 1997; Guterman, 1997).
Sabemos hoje que quanto maior for o número e a qualidade das relações positivas que a criança desenvolver na infância, maior será a probabilidade de desenvolver relações satisfatórias na idade adulta, o que poderá ser um factor protector para o ajustamento na idade adulta.
Há condições que se reconhecem como atenuantes dos efeitos nefastos dos maus tratos, de entre os quais:
- O nível de desenvolvimento da criança e a sua capacidade para compreender a experiência;
- A natureza, a frequência e a severidade do abuso;
- As características e os recursos da criança;
- O suporte que dispõe, percebido e recebido;
- Os significados que a criança atribui ao acontecimento, que poderão ser modificados através do seu desenvolvimento cognitivo e de outras experiências positivas que vivencie, e que contribuam para a mudança das suas atitudes e memórias.
Pelo contrário, a ausência de uma figura de suporte ou uma rede social, bem como um conjunto de experiências que não contribuam para o desenvolvimento de uma auto estima positiva, tenderão a aumentar o sentimento de impotência face ao abuso, de que não há nada que a criança possa fazer para dominar e modificar os acontecimentos, diminuirá a probabilidade de a criança se envolver em actividades e interacções positivas o que poderá ser um factor de risco.
Assim, os factores que podem atenuar os efeitos do abuso e maus tratos, incluem:
- Existência de um pai não ofensor e capaz de garantir segurança e suporte (Spaccarelli & Kim, 1995);
- Um clima familiar positivo (Romans e col., 1995)
- Oportunidades de interacções positivas (incluindo o rendimento escolar) (Romans e col., 1995)
- Experiências positivas apropriadas ao nível da criança (brincar, praticar desporto, relações positivas com colegas e outros adultos) (Barnes, 1996)
Urge pois uma reflexão em todos nós com responsabilidades acrescidas na formação e educação, que medidas, que estratégias, que técnicas poderemos efectivar, para que possamos ser agentes de mudança, suporte e apoio incondicional junto dos nossos alunos. Das nossas crianças.
Este tema continuará a ser desenvolvido na próxima edição.
Por: Elisabete Pinto e Ana Paula Mata
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