A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL
O fenómeno da dependência das drogas
Este é um espaço de reflexão e diálogo sobre temas do domínio da Psicologia, que procurarei dinamizar com regularidade, trazendo para aqui os principais problemas do foro psicológico que afectam pessoas de todas as idades. Na qualidade de psicóloga estou disponível para os leitores de “A Voz de Ermesinde” me poderem colocar as questões que desejarem ver esclarecidas, através de carta para a redacção deste quinzenário ou para o seguinte “e-mail”: [email protected]
O uso de substâncias constitui actualmente um fenómeno universal, sendo considerado como um problema de saúde pública, significativo e complexo, responsável por um número cada vez maior de mortes e incapacidades, estando envolvidos factores de ordem biomédica, psicológica e social.
O uso de qualquer droga começa por tornar-se um verdadeiro problema social quando existem circunstâncias sócio--culturais que, por um lado, fomentam e tornam possível o seu uso generalizado, com todas as suas consequências e, por outro, desenvolvem atitudes contrárias de repressão, incompatíveis com o uso considerado excessivo ou mesmo com qualquer uso dessa substância.
Após um primeiro consumo, há uma grande probabilidade de se passar ao uso abusivo de tóxicos, e, posteriormente, à dependência química da substância.
O utilizador vai procurando temperar ou exagerar os efeitos de uma droga. O seu uso sinérgico permite atingir uma multiplicidade de efeitos, e assiste-se às combinações mais diversas de álcool, cocaína, marijuana, heroína, anfetaminas e sedativos. Por conseguinte, o quadro actual de desenvolvimento do fenómeno é bastante preocupante.
As drogas levam as pessoas a desligar-se dos seus interesses e de outras formas de prazer, concentrando-se cada vez mais na sensação induzida pelas substâncias. Portanto, alteram a percepção que o sujeito tem da realidade de forma depressora, estimulante ou ameaçadora; proporcionando uma sensação de prazer especial, imediato, não programado e independente da vontade dele próprio.
Os sintomas surgem na sequência da adaptação do metabolismo à presença da droga, reduzindo a libertação de certas substâncias químicas naturais.
Por isso, quando o consumo de droga é interrompido, o organismo não consegue repor de imediato esse metabolismo natural, entrando em carência, originando síndromes de privação, que se distinguem pela intensidade com que ocorrem. Assim, na síndrome de privação ligeira ocorre uma excitação vegetativa, caracterizada por bocejos, espirros, corrimento nasal, olhos lacrimejantes e transpiração. Num grau mais complexo, caracterizado pela síndrome de privação grave, o sujeito pode apresentar vómitos, diarreia, tremores, cãibras, confusão, convulsões, ou mesmo chegar ao coma.
Com o desenvolver do processo de dependência, o toxicómano pode vir a apresentar problemas físicos (doenças coronárias e pulmonares, infecções víricas, overdose...); psíquicos (depressão e ansiedade, sobretudo em fase de privação), sociais e familiares (actos marginais).
O abuso de drogas, a dependência e respectivos sintomas (cognitivos, comportamentais e fisiológicos), aliados a um consumo cada vez maior em quantidade e diversidade, com intervalos cada vez mais curtos, em que o indivíduo canaliza toda a energia para actividades relacionadas com a substância (procurar e consumir); permitem comprovar o facto de que estamos perante um verdadeiro fenómeno de toxicodependência.
O tratamento deve contemplar uma abordagem ampla, da qual devem fazer parte uma intervenção médica e psicoterapêutica. A motivação do paciente é crucial ao longo de todo o processo, assim como o apoio incondicional dos familiares. Importa salientar que as recaídas são frequentes, mas deve-se encará-las como componentes da mudança, desdramatizando-as, e alentando sempre o toxicómano a nunca desistir da sua cura.
Por: Joana Dias
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