LER É O MELHOR REMÉDIO (8)
“Um Apartamento em Atenas”
O livro deste trimestre é de um autor americano do séc. XX, Glenway Wescott (1901-1987), quiçá menos conhecido do grande público, mas que teve sucesso principalmente com este livro e com “O Falcão Peregrino”. Glenway Wescott viveu alguns anos da sua juventude na Alemanha e em França, tendo regressado aos Estados Unidos por volta de 1933.
A ação decorre no ano de 1943, durante a ocupação da Grécia pela Alemanha nazi, dentro de “quatro pequenas mas agradáveis divisões no centro da cidade” e gira em torno da família Helianos, composta pelo Sr. Helianos, a Sr.ª Helianos e dois filhos, Alex e Leda. Tinham ainda um outro filho mais velho, que morreu numa batalha contra os alemães. Desde aí que Alex persegue uma vingança: matar um alemão. Leda, por seu turno, caracterizava-se pelo seu “ensimesmamento carrancudo, apatia e tendência a perder-se nas emoções” e parecia ter algum atraso mental. O Sr. Helianos era revisor editorial de uma editora conceituada, que faliu com a guerra, e a família, forçada a adotar um estilo de vida mais humilde, teve de deixar a sua moradia em Psyhiko e mudar-se para um apartamento em Atenas.
O Sr. Helianos era demasiado filosófico e sedentário para tempos de guerra, e nunca lhe ocorreu participar em qualquer forma de resistência à ocupação nazi, o que o deixava mal visto no seio da família, que a maior desprezo o votou quando foram obrigados a acolher um oficial alemão - o capitão Ernst Kalter - no seu apartamento em Atenas. Modelo da eficiência, sobriedade e impiedade prussiana e idealista do nacional-socialismo alemão, Kalter é comparado a uma estátua (“não uma estátua grega, claro, uma estátua gótica”). Este depressa ocupou os melhores aposentos da casa para seu uso exclusivo, obrigando o casal a dormir numa cama montada na cozinha, e tratou de os incumbir das mais desagradáveis e indignas tarefas. No entanto, após uma quinzena de licença na Alemanha operou-se uma notória mudança na personalidade do recém-promovido major. Com efeito, aboliu todos os gestos serviçais e humilhantes que previamente impunha aos Helianos e adotou uma postura cordial e compreensível para com as suas falhas; dir-se-ia que começou a sentir pena daqueles que tornara infelizes. De facto, Helianos passou a ser um interlocutor frequente de Kalter nos serões, mas não sem escapar à desaprovação da mulher, por considerar o seu comportamento indiscreto e insensato, não fosse ele dizer algo de inconveniente ou irrefletido que viesse a ter repercussões nefastas para toda a família. Realmente, pode-se dizer que o sexto sentido da Sr.ª Helianos estava certo. Dias depois, num desses momentos de diálogo (maioritariamente monólogo), o major desaba emocionalmente e desabafa a Helianos o que lhe tinha acontecido na Alemanha e que tanto o tinha mudado. Por entre prosaicas declarações sobre os méritos do nacional-socialismo alemão e a superioridade coletiva do povo alemão reconheceu também o seu falhanço a nível pessoal e confessou a Helianos o seu plano de se suicidar. Isto despoletou em Helianos uma estranha sensação de compaixão, por se tratar de alguém que tanto mal lhes havia infligido, e levou-o a tecer uma leviana consideração sobre o Führer e o Duce que havia de ditar o seu destino.
O romance alberga personagens complexas, com personalidades vincadas, e minuciosas e realistas descrições do quotidiano que nos transportam facilmente para o interior daquele apartamento. O leitor sente-se como espetador próximo da ação que se desenrola, quase como
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Por:
Eduardo Tavares
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