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 E agora? Cumpriste a tua obrigação: votaste, se calhar até participaste activamente na campanha eleitoral, viveste o domingo das eleições com emoção, analisaste o empenho e os erros dos diferentes candidatos … A festa acabou, regressaste ao trabalho, encontraste a vida ainda mais difícil, sobe a energia, sobem os transportes, mandam-te apertar o cinto e, à tua volta, o que vês? Uma sociedade em crise, sem valores, profundamente consumista, a viver acima das suas posses..., e isto repete-se quer a nível individual quer colectivo. A maioria das Câmaras Municipais estão endividadas muito para além do razoável e, em muitos casos, para realizar obras de fachada, cujo objectivo é conquistar votos nas eleições.  Os problemas básicos do quotidiano ficam por resolver, não dão nas vistas, mas são esses que podem mudar a qualidade de vida das pessoas. Quem sente na pele o desemprego, a pobreza, quem tem na família pessoas dependentes de drogas, de álcool, sabe como a vida é difícil, esses são os problemas reais com que se debatem no dia a dia. As pessoas sabem-no. O inquérito realizado a 396 freguesias do nosso País revela que são exactamente esses os problemas sociais mais importantes. Mas há outros problemas para além das obras de fachada que se prendem com a própria qualidade de construção e com os preços das mesmas, trabalha-se dia e noite, sábados e feriados, para termos mais uma inauguração. Gastando as Câmaras Municipais mais do que deviam, torna-se fácil esta promiscuidade entre o poder local e os interesses dos construtores e outros agentes económicos das terras. Esta é uma das razões pela quais eu não gosto muito das maiorias absolutas no poder local.  A democracia é isto mesmo, todos nós devemos ter os nossos representantes e é no exercício dessa democracia que as minorias também devem ter a sua voz. É difícil, eu entendo!, mas estas eleições ensinaram-me que para além dos populismos difíceis de explicar nos momentos de euforia, ainda acredito que é no dia a dia, num trabalho sistemático e sério, que se conquistam as eleições. Uma oposição organizada, forte, lúcida, pode e deve ter um papel tão importante como os que estão no poder.  Não podemos confundir os reais problemas de uma terra com a actividade futebolística, onde a cegueira partidária não permite ver com lucidez. Resta-nos a nós, simples cidadãos, estar atentos, colaborar em tudo o que contribua para a melhoria da qualidade de vida de todos, ouvir e ser crítico denunciando a injustiça, a corrupção, o compadrio, ser activo, propor e participar em actividades que, de qualquer forma, contribuam para o desenvolvimento das nossas terras. É desta forma que o jornal “A Voz de Ermesinde” vai continuar, atento, sério, crítico, participativo e independente, como o tem demonstrado nos últimos tempos. 
 Por: 
			Fernanda Lage
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