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 Sexualidade no doente ostomizado 
O ser humano é sexual desde o nascimento até à morte. Sendo esta componente importante para o indivíduo, não pode ser descurada aquando a elaboração do plano de cuidados seja ele, escrito ou mental, para um doente ostomizado. 
Sexualidade não é sinónimo de sexo, é um termo que pode significar várias coisas em pessoas diferentes; poderá ser muito mais do que a relação sexual em si, o orgasmo ou outras situações físicas agradáveis e tem por base as crenças, valores e regras vigentes na sociedade, na qual o indivíduo se insere. 
O aparecimento da doença a qualquer indivíduo é, quase sempre, um obstáculo ou limitação aos seus interesses e necessidades; constitui uma fonte de insatisfações, sofrimentos e problemas de adaptação a uma nova situação. 
 Um diagnóstico de cancro surge como um acontecimento de vida que implica a gestão de um turbilhão de emoções e a mobilização de todos os recursos e capacidades do indivíduo para o enfrentar. 
Na tentativa de ultrapassar a doença oncológica, os indivíduos são sujeitos a intervenções que podem alterar profundamente a sua imagem corporal, confrontando-se assim, com uma problemática multidimensional, que envolve fundamentalmente problemas psicológicos, sociais, de reintegração profissional e sexuais.  
A auto-imagem, ou seja, a ideia mental que uma pessoa tem do seu corpo num determinado momento, baseia-se nas percepções passadas assim como nas actuais, desenvolve-se com o tempo e deriva de sensações interiores, alterações de postura, contacto com objectos e pessoas exteriores, experiências emocionais e fantasias, e é influenciada por diversos factores dentro dos quais, salienta-se a alteração da imagem corporal. 
Um indivíduo ostomizado poderá confrontar-se com uma auto-imagem negativa devido à alteração da sua imagem corporal, que lhe é imposta pela presença do estoma, o que pode influenciar negativamente a sua postura face ao relacionamento sexual. 
Assim, a interferência da alteração da imagem corporal na sexualidade é algo que depende das percepções de pelo menos duas pessoas (o próprio e o seu parceiro). 
O enfermeiro tem um papel chave no seio da equipa de saúde para apoiar o doente a estabelecer o luto, ajudando a adaptar-se a esta nova situação, criando bases de suporte e esperança para o início de uma vida diferente mas que poderá ser igualmente satisfatória. 
Para algumas pessoas, o simples facto de estarem doentes pode provocar dúvidas acerca da sua identidade sexual e, talvez por este motivo, o doente possa sentir-se envergonhado para questionar o enfermeiro, ou outro profissional de saúde, acerca das suas preocupações sexuais. 
O enfermeiro que abordar o doente/casal com o objectivo de falar na sua sexualidade deverá ajudar a dar respostas a questões não verbalizadas mas presentes na sua mente, para que a ostomia não seja motivo para uma vida sexual menos satisfatória. O enfermeiro terá que conhecer muito bem o doente, manter a relação na base do respeito e empatia e sobretudo, garantir a confidencialidade absoluta da conversa que tiveram. Torna-se então importante, o enfermeiro incentivar o doente a falar sobre a sua intimidade mostrando disponibilidade e compreensão, adoptando uma postura que o doente a reconheça como natural face ao assunto em questão.  
 
A um doente ostomizado podem surgir várias questões como por exemplo: 
– Será que posso ter novamente relações sexuais? 
– Será que a ostomia vai funcionar durante o acto sexual? 
– E se o saco se desadapta? 
– Será que o cheiro afecta o meu/minha parceiro/a? 
– O que pensa o meu/minha parceiro/a? 
 
A abertura de um canal de comunicação entre o doente/enfermeiro permitirá uma reestruturação da vida do doente visando devolver-lhe a auto-estima, a confiança e a possibilidade de desfrutar a sua vida de forma mais aprazível. Como tal, para dar resposta a todas estas duvidas o enfermeiro deve instruir o doente para:  
– Esvaziar o saco antes da actividade sexual; 
– Evitar os alimentos que provoquem flatulência;  
– Ingerir iogurtes naturais de forma a evitar o odor; 
– Usar uma t-shirt, lingerie ou um lenço que cubra a ostomia; 
– Adoptar posições confortáveis durante o acto sexual; 
– Consultar um andrologista; 
– Procurar grupos de apoio a ostomizados. 
 
A sexualidade de cada um é única. Não se deve por isso emitir juízos de valor, nem comentar a intimidade do doente com outros profissionais de saúde, evitando assim que o doente constitua motivo de riso e anedota no seio da equipa. 
O segredo profissional é um caso especial do segredo confiado. A noção de confidencialidade é importante dado existirem situações em que uma confidência pode ser considerada sigilo profissional e deve ser encarada sob o ponto de vista ético. 
O facto de se transmitir ao grupo a intimidade do doente este não vai lucrar nada com isso. 
A adaptação emocional à ostomia começa no hospital, mas o doente leva muito mais tempo a adaptar-se emocionalmente do que a aprender tratar dela. Poderá ser necessário um ano inteiro para o indivíduo atingir um nível perfeito de funcionamento. 
Aquilo que é transmitido pelos enfermeiros faz a diferença na qualidade de vida dos indivíduos. 
 
Por: Sérgio Manuel Cardoso de Sousa*  
 
*Enf. Pós-Graduado em Enfermagem de Emergência 
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