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    Arquivo: Edição de 15-05-2006

    SECÇÃO: Destaque


    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ

    Trabalhadores da Lear de Valongo vivem situação dramática

    Os trabalhadores da unidade fabril de Valongo da Lear Corporation estão a viver momentos verdadeiramente dramáticos. A administração da multinacional norte--americana anunciou recentemente a decisão de reduzir o seu quadro operário em 285 funcionários. Desde então tem-se assistido a uma autêntica maratona de reuniões entre os sindicatos representantes dos trabalhadores e a empresa, no sentido de se chegar a um consenso em relação a aspectos relativos a indemnizações e critérios de elaboração da lista dos 285 dispensados, bem como na definição do futuro dos restantes trabalhadores da empresa. Duras e longas reuniões que, no entanto, não têm proporcionado grandes avanços em todo este processo. O futuro dos trabalhadores da Lear de Valongo continua por decidir. Futuro esse que, em abono da verdade, não se afigura nada agradável, muito pelo contrário, já que tudo parece indicar que o fim da estadia da Lear em Valongo está para breve.

    O pânico entre os trabalhadores da empresa Lear Corporation estalou a 3 de Maio último, dia em que a administração desta multinacional norte-americana comunicou a intenção de dispensar 285 funcionários do quadro operário da sua unidade fabril de Valongo. A notícia caiu que nem uma “bomba” no seio da comunidade, composta por 880 funcionários desta empresa, que se dedica ao sector de cablagens para automóveis. Desde logo saltou à memória destes trabalhadores o drama vivido pelos seus companheiros da unidade fabril da Lear na Póvoa de Lanhoso, que no ano passado fechou portas – transferindo toda a sua produção para a Roménia –, colocando 800 trabalhadores na rua. Aliás, esta situação de despedimentos em massa não é uma novidade para a Lear de Valongo. Recorde-se que, em 2004, situação idêntica foi vivida, com a empresa a despedir, na altura, 202 trabalhadores, com a justificação de uma quebra de encomendas. Quase dois anos volvidos volta-se então a viver idêntica situação no seio da Lear de Valongo. A necessidade de adequar o seu quadro de pessoal às encomendas do único cliente da unidade de Valongo, a Jaguar, de modo a evitar o encerramento imediato da instalação, foi a explicação dada pela empresa para justificar o despedimento de 285 funcionários. Começavam a confirmar-se assim os receios do Sindicato Nacional da Indústria e da Energia (SINDEL), que desde logo colocou no ar a ideia de que este seria o primeiro passo para o encerramento definitivo da empresa. Ângelo Pereira, vice-secretário geral do SINDEL, revelou, na altura do anúncio das dispensas, que o acordo da empresa com o Estado português, relativo a incentivos fiscais, iria terminar no final de 2006, além de que a produção de um novo modelo – idealizado em Valongo – estaria já a ser transferido para a Polónia. Estavam assim reunidos todos os sinais de que estaríamos perante o fim da Lear em Valongo. Desde logo foi convocado um plenário com todos os trabalhadores da empresa para que se pudessem definir os critérios e valores das indemnizações. «Esta situação não é uma surpresa. Já esperávamos que, mais dia menos dia, ela pudesse acontecer. É uma situação irreversível. Só temos dois caminhos, ou o da via negocial, ou então o despedimento colectivo e encerramento imediato da fábrica, e isso é algo que não queremos que aconteça. Por isso, estamos abertos ao diálogo com a empresa. Vamos tentar negociar os melhores valores possíveis das indemnizações para os trabalhadores», foram as palavras de ordem ouvidas pelos dirigentes sindicais do SINDEL, estrutura sindical esta que alertou de imediato o Poder Local e o Estado para a gravidade da situação, dando conta da sua preocupação perante o facto de este sector da cablagens de automóveis correr o risco de desaparecer do nosso país até 2010. “Negociar” foi então a palavra conclusiva do primeiro plenário, realizado na manhã do dia 4, levado a cabo entre o sindicato e os trabalhadores da empresa, caso contrário corria-se o risco de um despedimento colectivo ordenado pela multinacional. A maioria dos trabalhadores optava assim pela via negocial na rescisão por mútuo acordo com a administração da Lear.

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    No entanto, este consenso entre os trabalhadores durou pouco tempo. Isto porque com a entrada em cena do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas (STIEN), que na voz de um dos seus dirigentes, Miguel Moreira, insistia: «Não aceitámos vender os nossos postos de trabalho. Vamos lutar por eles até ao fim, até porque a fábrica tem trabalho garantido até 2008». Estava dado um volte-face nas opiniões dos trabalhadores, que agora se dividiam entre a resignação pelo facto da empresa poder vir a fechar portas no final do ano, e a luta pela manutenção dos postos de trabalho. O que é certo é que passadas duas semanas sobre o início deste drama social, ainda não existem dados concretos relativos ao futuro dos trabalhadores. Reuniões atrás de reuniões entre os representantes dos trabalhadores e a administração da empresa – a última realizada no dia 11 demorou oito horas – têm-se revelado inconclusivas quanto a uma decisão final. Neste momento poucas são as certezas, quer em relação aos valores das indemnizações – a única certeza que se sabe em relação a este ponto é que a Lear não irá dar indemnizações idênticas às que foram atribuídas aos trabalhadores da Póvoa do Lanhoso, como era pretendido pelo SINDEL – quer em relação ao critério de elaboração da lista dos 285 dispensados. Relembre-se que, no que toca a esta lista de dispensas, a empresa pretende usar critérios de gestão e eficiência para a sua elaboração, algo que, no entanto, foi chumbado pelo SINDEL, que pretende que sejam usados critérios de idade e de antiguidade na empresa. Uma incógnita é também o futuro dos restantes 500 trabalhadores que ficarão na empresa. É que, com o cenário de fecho definitivo da Lear em Valongo a tornar-se cada vez mais palpável, torna-se urgente salvaguardar os interesses e direitos dos funcionários que não irão integrar a lista que a empresa pretende divulgar até ao final deste mês. A única certeza que há, e que por mais de uma vez foi sublinhada pelos administradores da Lear – sempre na voz dos representantes dos sindicatos, visto que a empresa ainda não veio a público prestar qualquer tipo de declaração – é que vai haver 285 dispensas, quer seja através da via negocial, quer através do sistema de despedimento colectivo.

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    O futuro dos trabalhadores da Lear está assim envolto num grande ponto de interrogação, que se espera seja desfeito nos próximos dias. A ver vamos.

    Por: Miguel Barros

     

     

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