Software livre na escola
A Experiência da Escola Secundária Artística de Soares dos Reis (Porto)
Na sociedade contemporânea a informática assume particular relevo como disciplina omnipresente em quase todos os sectores de actividade. É difícil encontrar exemplos de categorias profissionais que não possam tirar partido de ferramentas informáticas para melhorar a sua produtividade e a sua eficiência.
A ESA Soares dos Reis empreendeu em meados do ano 2000 um processo organizado de implementação de recursos informáticos com vista à sua máxima disponibilização à comunidade escolar (sobretudo aos alunos). Este processo compreendeu várias etapas:
1. A construção de uma rede local (Ethernet) capaz de chegar a todos os departamentos, serviços e salas de aula da Escola, ligando em rede todos os equipamentos existentes (que eram então umas poucas unidades);
2. O apetrechamento da Escola com novos recursos informáticos de que todos pudessem beneficiar (sobretudo os alunos nas aulas práticas e na Biblioteca);
3. O acesso incondicional de todos os postos de trabalho à Internet em banda larga, com hipótese de servir conteúdos para o exterior e com endereço de correio electrónico personalizado para cada aluno, docente e funcionário;
4. A construção do software necessário para gerir a informação escolar (matrículas, turmas, disciplinas, classificações, livro de ponto, registos biográficos, etc.).
Inicialmente a trabalhar com software proprietário, rapidamente a Escola verificou, à medida que o número de postos de trabalho ia aumentando, que não seria capaz de suportar o ónus da compra do software necessário para equipar esses computadores. Fizeram-se pesquisas de mercado, mas mesmo as soluções mais favoráveis eram claramente incomportáveis para uma escola que vive essencialmente do erário público. Havia ainda o problema dos vírus informáticos que diariamente chegavam por correio electrónico, e que apesar das soluções antivírus instaladas, acabavam nalguns casos por infectar as máquinas e se propagar na rede.
Assim, optámos por adoptar software livre, começando pelo sistema operativo GNU/Linux. Este sistema, pela versatilidade e robustez que o caracteriza, permitiu-nos equipar servidores e postos de trabalho com um ambiente uniforme, amigável e insensível aos vírus que se espalham em redes Windows. Com uma panóplia de programas livres que vão ao encontro das necessidades dos nossos alunos, como o software de Office OpenOffice.org (http://www.openoffice.org), o programa de tratamento de imagem The GIMP (http://www.gimp.org), de desenho vectorial Inkscape (http://www.inkscape.org) e o software de paginação (desktop publishing) Scribus (http://www.scribus.org.uk), entre muitos outros, pudemos suprir as principais necessidades da Escola em termos de ferramentas da Idade da Informação, a custo zero para os cofres do Estado, e 100% legal.
A utilização de software livre na Escola reveste-se dos principais motivos de interesse:
• É pedagógica;
O software livre pode ser analisado, estudado e alterado, uma vez que o código-fonte está disponível. Está aberto à investigação por parte de docentes e alunos.
• Permite incentivar o estudo extra-aula;
Cada um dos nossos alunos tem uma pasta pessoal com os seus trabalhos, e qualquer que seja o computador da Escola onde vá trabalhar, acede sempre a essa pasta e ao seu ambiente. A partir de casa, tem também acesso (seguro) a essa pasta, bem como ao seu correio electrónico, via Internet.
• É segura;
O sistema operativo GNU/Linux é insensível aos vírus e worms que diariamente circulam em mensagens de correio electrónico e cujo alvo são os sistemas Windows.
Isto traduz-se num enorme conforto para os utilizadores, e grande economia em termos de tempo e esforço de manutenção.
• É conveniente para alunos e docentes;
O software livre pode ser livremente copiado e distribuído pela comunidade escolar. Os alunos têm acesso livre às ferramentas de software de que necessitam durante o seu currículo escolar. E como os programas que usamos são normalmente multiplataforma (podem ser executados sobre diferentes sistemas operativos), mesmo que em casa possuam sistemas Windows ou Apple, podem levá-los e instalá-los em casa.
• Combate a “pirataria” informática;
Com a utilização de software livre acaba--se a pirataria informática. Não há cópias ilegais de programas, uma vez que os programas estão disponíveis para serem livremente copiados e distribuídos.
• É gratuita para a Escola e para a comunidade escolar.
(A liberdade associada a este software não implica custo zero de aquisição, mas é isso que normalmente acontece.)
As soluções que adoptamos permitem à Escola estar integralmente legal sem gastar um cêntimo ao erário público em software. As verbas assim economizadas permitem adquirir novos equipamentos ou serviços de que a Escola necessite, nomeadamente a contratação de serviços a jovens técnicos especializados em Eng.ª Informática que possam apoiar as escolas no desenvolvimento das suas soluções informáticas, contribuindo desta forma para o aumento da oferta de emprego no nosso país. Será sempre preferível investirmos no nosso capital humano, devidamente qualificado, do que em multinacionais estrangeiras.
A Soares dos Reis tem já uma considerável experiência na utilização de software livre, e cremos ter sido os primeiros em Portugal, ao nível do ensino público secundário, a implementar um sistema tão vasto (cerca de oito dezenas de computadores) com recurso a esta solução. Outras escolas públicas (secundárias e EB 2/3) têm-nos visitado e revelado interesse em adoptar soluções idênticas. Temos todo o interesse em partilhar o know-how que adquirimos, bem como o software que desenvolvemos, com outras instituições do ensino público, e com elas trocar experiências. Entre as soluções que desenvolvemos está o Livro de Ponto Informático, que todos os docentes utilizam para registar sumários e faltas, e que facilita imenso o trabalho do Director de Turma (a contabilização das faltas e a emissão de listagens para os encarregados de educação estão à distância de um “clique” do rato). Este programa é executado sobre o explorador da Internet browser), pelo que dispensa a instalação de qualquer software. Um pouco do trabalho que temos desenvolvido pode ser consultado no nosso site em http://www.essr.net. A implementação do software livre está documentada em http://www.essr.net/essr_gnu.
Por FERNANDO LEAL
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