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FOTOS MANUEL VALDREZ |
Memórias da indústria têxtil em Ermesinde
Já não se ouvem os teares nem o toque das entradas e saídas, muito menos os grupos de mulheres que mendigavam à porta a hipótese de um dia de trabalho em substituição de alguém, que por motivos vários, não compareceu ao toque de entrada.
Já vão longe esses tempos, resta-nos a sua memória e o seu edifício, que não engana ninguém: era uma fábrica, essa novidade que o progresso nos trouxe na chamada revolução industrial. Uma catedral do trabalho onde se produziram quilómetros e quilómetros de pano cru e riscado para os mais diversos usos.
O mundo mudou, as fábricas não acompanharam o progresso, perdemos os principais clientes e restam-nos memórias.
Tudo isto é normal, as casas, as fábricas. As suas construções também morrem. Reutilizadas, recuperadas, recicladas ou transformadas em pó como todos nós, quando morremos. Mas deixem-nas morrer com dignidade de quem foi símbolo do ganha-pão de tantos Ermesindenses.
Não brinquem com os edifícios, mesmo velhos, não os retalhem às fatias, não tentem fazer deles aquilo que eles nunca foram – edifícios incaracterísticos com pretensões de rusticidade que nunca tiveram. Foram também o símbolo do progresso da era industrial. Não os dispam da dignidade das suas formas cuidadosamente acabadas, retocadas, agora que estão mortos…
Por:
Fernanda Lage
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