51.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL
Intervenção de Ângela Ferraz (Coligação Democrática Unitária - CDU)
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FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE) |
Hoje, celebramos os 51 anos da Revolução dos Cravos. Celebramos os valores e as conquistas do 25 de Abril, um marco histórico que transformou Portugal. A revolução abriu portas que continuam abertas e que muitos tentam fechar. Abriu as portas para a liberdade, para a democracia, para os direitos sociais que hoje desfrutamos. Abriu, não só portas, mas também a possibilidade da construção de caminhos para que consigamos alcançar e que com toda a certeza seremos capazes nos tempos a vir, o progresso Humano, Social e Cultural.
Esta revolução não foi apenas um momento de mudança política, mas um despertar coletivo que nos lembrou da força do povo unido por um ideal comum. A Liberdade de se organizar, de falar, de se manifestar, é a primeira e imediata conquista.
As conquistas de Abril trouxeram-nos direitos fundamentais, como o acesso universal à saúde, à educação e à habitação. No entanto, é com preocupação que observamos o desinvestimento contínuo em áreas essenciais que deveriam ser pilares do nosso progresso social.
Na habitação, enfrentamos uma crise que afeta milhares de famílias, com a falta de políticas públicas eficazes e o aumento da especulação imobiliária. Este desinvestimento compromete o direito básico de todos a uma habitação digna, conforme art.º 65 da Constituição da República Portuguesa.
No Serviço Nacional de Saúde, vemos tentativas de privatização que ameaçam um dos maiores legados de Abril: o acesso universal e gratuito à saúde. Estas ações colocam em risco o acesso de todos os cidadãos a um serviço de saúde público e de qualidade.
Na educação, o desinvestimento na escola pública enfraquece o futuro das próximas gerações, criando desigualdades e limitando o acesso a uma educação de qualidade para todos.
Por fim, os cortes nos direitos dos trabalhadores representam um retrocesso inaceitável, minando conquistas históricas que garantem condições dignas de trabalho e proteção social.
Além disso, não podemos ignorar as conquistas históricas que o 25 de Abril trouxe para as mulheres e minorias. A revolução permitiu que todos possam participar na vida política, social e económica, rompendo barreiras históricas de discriminação. Ainda assim, enfrentamos desafios na concretização plena desses direitos, com a necessidade de combater o machismo, o racismo, a xenofobia, a homofobia, a desigualdade salarial e as condições precárias de trabalho, que ainda afetam muitos trabalhadores, principalmente as mulheres, enfim combater o fascismo. Há no espírito de Abril uma esperança de inclusão e reconhecimento. A luta contra o racismo, a discriminação e a exclusão social deve continuar a ser uma prioridade, respeitando os valores de igualdade e justiça que esta data simboliza.
Infelizmente, assistimos ao crescimento preocupante do racismo e da xenofobia em Portugal, que ameaçam os valores de Abril e a coesão social. Estes fenómenos não apenas ferem a dignidade humana, mas também enfraquecem a solidariedade e o respeito mútuo que são essenciais para uma sociedade democrática.
Num mundo marcado por conflitos e divisões, num país onde temos cada vez mais diversidade, é essencial promover o diálogo, o respeito mútuo e a solidariedade. A paz não é apenas a ausência de guerra, mas a construção ativa de relações que respeitem os direitos humanos, combatam as desigualdades e promovam o desenvolvimento sustentável.
A CDU - Coligação Democrática Unitária tem sido uma voz firme contra todas as formas de discriminação. Defende políticas que promovam a inclusão, o respeito pela diversidade e a igualdade de oportunidades para todos, independentemente da sua origem, etnia, religião, género, orientação sexual, condição económica, deficiência, etc. Acredita que é essencial combater estas tendências regressivas através da educação, da sensibilização e da implementação de políticas públicas que promovam a integração e o respeito pelos direitos humanos.
A CDU reafirma o seu compromisso com a luta por uma sociedade mais justa, onde a habitação, a saúde, a educação, os direitos dos trabalhadores, a igualdade de género, o respeito pelas minorias, a cooperação internacional e o combate ao racismo e à xenofobia, sejam prioridades inegociáveis conforme a razão da Constituição da República Portuguesa.
Apesar das tentativas reacionárias de aniquilação de muitas conquistas de Abril, as portas que Abril abriu não mais se fecharão. É por essas portas que continuaremos a avançar para a construção do país livre, independente, pacífico e culto que desejamos.
Termino com as palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, que tão bem capturam o espírito do 25 de Abril:
“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.”
Que este espírito nos inspire a continuar a construir uma sociedade mais justa, solidária e democrática.
Viva o 25 de Abril
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