Papa Francisco: último adeus ao pontífice da proximidade
O Papa Francisco faleceu aos 88 anos. O funeral realizou-se no passado sábado, 26 de abril, na Praça de São Pedro, reunindo uma multidão, em que se incluíram chefes de Estado e de Governo, de todos os continentes.
Jorge Mario Bergoglio, nascido a 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, foi o primeiro Papa jesuíta e também o primeiro oriundo da América Latina. Eleito em 2013, após a renúncia de Bento XVI, escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e paz.
Ficou marcado por um pontificado centrado nos pobres, nas reformas da Igreja e no diálogo com o mundo atual. A sua proximidade e forma simples de comunicar tocaram milhões de pessoas.
Há pouco mais de um ano e meio, em Lisboa, a 6 de agosto de 2023, Francisco presidiu à Missa no Parque Tejo durante a JMJ, diante de milhões de jovens. Foi aí que lançou a frase que se tornou símbolo do seu legado: a Igreja é para “todos, todos, todos”.
Publicamos, de seguida, um testemunho do nosso Pároco, Padre Domingos Areais, que com ele chegou a falar nos tempos em que estudava no Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
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DIA DA ELEIÇÃO DO PAPA FRANCISCO E SUA APARIÇÃO NO LOGGIA (BALCÃO) DA BASÍLICA DE S. PEDRO |
OBRIGADO PAPA FRANCISCO
17/12/1936 -21/4/2025
Francisco foi o Papa dos que estão nas periferias da sociedade e do mundo, um lutador incansável pela justiça, pela paz, pela ecologia, pela liberdade religiosa e pelos cristãos oprimidos. Foi o Papa da proximidade e dos afetos, da fraternidade universal e de todos os que não têm voz, no mundo. Por isso, estamos-lhe muito gratos.
Recordo-me daquela chuvosa, mas feliz tarde do dia 13 de março de 2013, quando eleito Papa e depois do seu nome de Batismo ter sido anunciado em latim, ele assomou ao balcão da Basílica de S. Pedro diante de uma multidão de gente, que enchia a Praça de S. Pedro (atraída como eu pelo fumo branco da chaminé da Capela Sistina) e nos disse: “Buona Sera!” (Boa Tarde!), acrescentando que os senhores Cardeais o foram buscar ao fim do mundo para o eleger bispo de Roma. É interessante, que, no final e antes de dar-nos a sua bênção apostólica, pediu que rezássemos uma oração silenciosa por ele. Hábito que sempre continuou em cada domingo, no final da oração do Angelus, desejava “Buon Pranzo” (Bom almoço) e pedia aos fieis que rezassem por ele. Toda uma nova pedagogia de partilha fraterna e comunhão.
Viemos a saber que depois de ter sido eleito no Conclave da Capela Sistina, o Cardeal brasileiro que estava junto a ele lhe disse: “Agora, não te esqueças dos pobres!”. Facto que muito o influenciou na escolha do nome “Francisco”, que nos recorda o “poverello” (pobrecito) de Assis, S. Francisco de Assis.
Recordo-me que a sua entronização como Papa aconteceu no dia 19 de março, Festa de S. José, por quem Francisco tinha muita devoção. A sua homilia foi comovedora sobre o sentido da verdadeira paternidade, que é feita de entrega, dom e partilha.
Uma das suas primeiras saídas fora do Vaticano foi a visita à ilha de Lampedusa aos imigrantes, que fugiam dos seus países em guerra, atravessando em pequenas embarcações o mar Mediterrânio para aportarem à Europa, vítimas, tantas vezes, de máfias, que os enganavam, perdendo a vida milhares deles. Famoso ficou o seu apelo aos senhores do mundo: “Não façam do Mediterrânio um cemitério!” Até ao fim, foi uma das poucas vozes que não se cansava de pedir a paz e o fim da loucura da corrida aos armamentos por parte das nações da Terra, dizendo que a guerra é uma aventura inútil, que só traz morte e destruição. Foi pioneiro na defesa da ecologia humana e ambiental com a famosa encíclica “Laudato Si” (Louvado sejas).
Agora, regressou com grande tristeza nossa à Casa do Pai, onde passamos a ter um intercessor poderoso por todos nós, pela paz, pela liberdade e misericórdia, no mundo. Obrigado, Papa Francisco. Não te esqueças de nós, que continuamos a lutar como tu por um mundo mais justo e fraterno, Casa comum de todos os povos, que Deus nos deu como um jardim para cuidar.
P. Domingos Areais
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