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Edição de 30-06-2025
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    Arquivo: Edição de 31-03-2025

    SECÇÃO: Crónicas


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    Saudade

    Pensando encontrar saudades antigas

    Entrei por aquela porta escura

    Coberta com o pó do esquecimento

    Tingida pelas agruras do tempo

    Nela o sol batia desmaiado

    Mais parecendo a lua em noites

    Salpicadas de sombras baças e disformes.

    Ranges vociferando

    Como tu sou velha minha amiga

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    -

    Transpus o umbral e entrei

    Estendendo meu olhar atento

    Em receosa lentidão

    Lá estava quase tudo

    Passepartouts vestidos de fotos

    Daqueles que tanto amei

    Bonecos permaneciam nos seus lugares

    Enxugando um ou outro zumbido

    De um qualquer inseto escondido

    Pela incerteza do tempo

    Um som duma gaita de beiços

    Deixada sobre a escrivaninha

    Marcada por buracos artesanais

    Onde seus donos se recolhem

    Fugindo à irritante badalada

    Do relógio de parede

    Enchia de afeto aquele santuário estático

    Sobre uma almofada de veludo puído

    Um par de óculos arredondados

    De lentes grossas guardam

    A incapacidade o medo da incerteza

    Da cor e brilho

    Dos lindos olhos dos netinhos

    Abro a janela com a rapidez da ansiedade

    Um feixe de ano-luz listado e frio

    Acinzenta e enaltece o passado

    Na tentativa de por momentos

    Animar aquele espaço

    Subitamente as memórias ganham vida

    Dançam cantam ao som daquela música

    As crianças despertam

    Do sono de muitos anos

    Soltam seus gritos estridentes

    Correndo e rindo

    -

    Difícil a enclausura dum passado

    Mais ainda quando feliz

    É o silêncio dos objetos

    Que não permite a morte

    De memórias antigas

    Esses não partiram são o único

    Testemunho vivo e palpável

    Que nos permite recuar

    Exausta dirijo-me para a porta

    Não me parecendo a mesma

    Agora mais leve e clara

    Encerro-a em força e precisão

    Com a certeza de um dia retroceder

    E novamente mergulhar

    Naquele lugar quase sagrado

    Por: Eugénia Ascensão

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
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