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Edição de 31-01-2025
Jornal Online

SECÇÃO: História


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50 ANOS DO 25 DE ABRIL

A Fita do Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (10)

A FRAGATA ALMIRANTE GAGO COUTINHO

E A AMEAÇA DE ARTILHARIA

Encontrava-se fundeada no Cais da Marinha, no Rio Tejo, ligeiramente a montante do Terreiro do Paço, a esquadra permanente da NATO, a StaNavForlant. A sua presença em Lisboa fez com que alguns responsáveis do MFA tivessem sugerido o adiamento da operação militar. Mas Otelo Saraiva de Carvalho opôs-se. Não havia margem para adiamentos. Com ou sem esquadra da NATO em Lisboa, a operação seria lançada a 25 de Abril. Havia a esperança que não interferissem.

Na manhã de 25 de Abril, já Salgueiro Maia ocupava o Terreiro do Paço, a esquadra levanta ferro para se dirigir para Nápoles. A fragata portuguesa Almirante Gago Coutinho integrava a Força e era comandada pelo Capitão de Fragata Seixas Louçã, tendo como Imediato o Primeiro-tenente Fernando Caldeira dos Santos. Cerca das 08:00 horas a esquadra passa, majestosa, frente ao Terreiro do Paço. Abria o cortejo, orgulhoso, o draga-minas português Santa Cruz, comandado pelo Primeiro-tenente Teles Ribeiro e tendo como Imediato o Segundo-tenente Pedro Lauret. Não foi aparente nenhuma atitude por parte da esquadra em relação às tropas revoltosas. Adivinha-se simples curiosidade, quiçá alívio por partirem de Lisboa num momento de confusão militar.

Passada a Ponte Salazar (mais tarde rebatizada “Ponte 25 de Abril”), a fragata recebe ordem do Vice-Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Jaime Lopes, para abandonar a Força NATO, dirigir-se para o Terreiro do Paço e abrir fogo sobre uma coluna de militares revoltosos que aí se encontravam.

A partir daí gera-se uma enorme confusão na fragata. O Imediato, Caldeira dos Santos, afirma que o comandante Seixas Louçã ordenou o municiamento das peças de artilharia. Este nega, afirmando que não poderia fazer fogo sobre o Terreiro do Paço devido à presença de cacilheiros e muitos civis. A ordem do Vice-chefe foi alterada para fogo para o ar, no sentido de mostrar aos revoltosos que a Marinha estava contra o Movimento. Mas nem mesmo a ordem de fogo para o ar, ou fogo de salva, ou fogo de qualquer tipo a tripulação estava disposta a fazer. A Marinha estava neutra no conflito. Isto tecnicamente foi um motim. Caldeira dos Santos foi exonerado do posto de Imediato, mas nenhum dos restantes oficiais aceitou o lugar. Unanimemente afirmaram que continuavam a obedecer ao comandante desde que este não ordenasse fogo, fosse de que tipo fosse, com as peças da fragata.

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Entretanto ao Posto de Comando do MFA chega a notícia alarmante da movimentação da Fragata, via Centro de Comunicações da Armada, onde se encontrava o Capitão-tenente Almada Contreiras, oficial revoltoso. O PC toma então decisões cruciais. Informa a coluna de Salgueiro Maia, no sentido de este tomar posições defensivas. Salgueiro Maia protege os seus carros e as suas tropas debaixo da colunata poente do Terreiro do Paço. Simultaneamente o PC ordena às batarias de artilharia pesada localizadas no morro do Cristo-rei, em Almada, no sentido de colocarem a fragata sob mira das peças de grande calibre e afundá-la no caso desta tomar atitude ofensiva contra as tropas de Salgueiro Maia. Finalmente entra em contacto via rádio com a fragata informando a situação militar em que o navio se encontrava.

Esta comunicação por fonia com a fragata foi difícil. O PC não podia comunicar diretamente com a fragata, pelo que a comunicação teria de ser feita através do Centro de Comunicações da Armada, onde se encontrava o oficial revoltoso Almada Contreiras. Mas este também não dispunha de comunicação direta com a fragata. A comunicação foi feita pelo submarino Cachalote, fundeado no Arsenal do Alfeite. Foi ouvida no Centro de Comunicações da Armada e reportada à hierarquia. Mas não aconteceu nada.

Na fragata a situação estava controlada. O comandante Seixas Louçã retirou toda a ordem de fogo, fosse que fogo fosse, e ordenou que colocassem as peças em elevação máxima, afirmando a sua não vontade de fazer fogo. Mas esta postura das peças não foi interpretada desta forma por Salgueiro Maia, que continuou a considerar a fragata como hostil, ordenando que a mantivessem sob mira das suas próprias peças de artilharia. Na verdade, a única forma de trancar as peças obriga a colocá-las na horizontal. Mas nesta posição é impossível saber se estão trancadas, ficando dessa forma à altura das tropas de Salgueiro Maia, bastando rodá-las 90 graus para as atingir. Um perigoso mal-entendido.

A fragata manteve-se parada durante algum tempo em frente ao Terreiro do Paço, todos vigiando todos. Cerca do meio-dia, quando Salgueiro Maia já tinha iniciado a sua marcha para o Largo do Carmo, a fragata retirou-se para o Mar da Palha e daí para o seu ancoradouro no Arsenal do Alfeite.

Este episódio da fragata ocorreu simultaneamente com o confronto de

(...)

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José Campos Garcia*

*Médico

 

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